por paulo eneas
Em uma fala leviana e sem sentido algum, Jair Bolsonaro sugeriu esta semana que caberia ao petista Lula tomar a iniciativa de propor a anistia ao bolsonaristas presos e condenados por suposto envolvimento nos eventos do 8 de Janeiro. A sugestão de Jair Bolsonaro, sem qualquer sentido aparente, pode na verdade significar duas coisas:
Jair Bolsonaro estaria querendo matar no nascedouro o projeto de lei de autoria do senador Hamilton Mourão (PL-RS), que prevê a anistia para os condenados, com trânsito em julgado, pelo eventos do Oito de Janeiro enquadrados nos tipos penas previstos na Lei 14197, a Lei Bolsonaro, sancionada em 1 de setembro de 2021 pelo então presidente Jair Bolsonaro. Diversos artigos em nosso site, nos links ao final, mostram o papel central do então presidente na criação desta lei.
Ao matar essa proposta em seu nascedouro, Jair Bolsonaro não permitiria um eventual protagonismo político do senador Hamilton Mourão junto a parcelas do eleitorado de direita. Pois na hipótese desse projeto de anistia ser aprovado, Hamilton Mourão ganharia uma inegável projeção nacional junto à direita.
Ou seja, Jair Bolsonaro prefere que os “bobos da corte” continuem presos se a liberdade deles lhe custar a perda da hegemonia como anti-líder que ele exerce sobre quase toda a direita brasileira.
A outra possibilidade é que Jair Bolsonaro tenha feito interlocutores chegar a Lula a ideia de que seria interessante ao petista tomar a iniciativa de propor a anistia. Pois com esse gesto, o projeto de Hamilton Mourão sairia de cena juntamente com o “risco” do senador adquirir mais projeção e fazer sombra a Bolsonaro, pois esta é a única preocupação real que move Jair Bolsonaro, não os presos.
Jair Bolsonaro pode ter feito chegar a Lula a ideia de que seria interessante ao petista construir uma imagem de pacificador tomando para si a iniciativa de anistia. O fato é que o destino dos presos é o que há de menos importante para o cálculo político de Jair Bolsonaro. A frase proferida pelo ex-presidente quando da prisão do ex-deputado Daniel Silveira, “esse aí exagerou”, diz muito sobre como Jair Bolsonaro vê seus aliados.
O que importa no momento para Jair Bolsonaro é como tirar ganho político da situação dos presos, o que significa acima de tudo impedir que uma iniciativa de anistia venha projetar alguém que possa lhe fazer sombra, independentemente da viabilidade ou não do projeto de anistia.
Cabe lembrar que quando da sua volta dos Estados Unidos após ter fugido do Brasil abandonando a Presidência da República e os apoiadores que estavam em porta de quartel, Jair Bolsonaro afirmou taxativamente que não iria liderar oposição alguma e que estaria pronto “para colaborar” com o novo governo petista.
A colaboração com o governo petista já tem havido na prática no Congresso Nacional. No caso dos presos, a possibilidade ainda que remota de anistia oferece a Bolsonaro a possibilidade de colaborar mais uma vez com Lula, acenando-lhe com a imagem de pacificador, ao mesmo tempo em elimina o risco (do ponto de vista de Bolsonaro) de ver alguma outra liderança do campo da direita lhe fazer sombra.
A resposta de Lula veio dois dias depois em entrevista, na qual o petista adicionou vergonha à postura humilhante de Jair Bolsonaro. Na entrevista, o petista chamou Jair Bolsonaro de covarde e questionou porque ele, Bolsonaro, estaria tão preocupado com anistia se ele sequer foi julgado e condenado ainda.
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