por paulo eneas
Nesta segunda-feira (08/01) completa-se um ano da tragédia do 8 de Janeiro, que resultou na invasão e depredação das sedes dos poderes federais em Brasília (DF) e a consequente prisão de mais de 1430 pessoas no dia dos eventos e no dia seguinte. A tragédia ocorrida há exatamente um ano foi o desfecho de uma sandice coletiva que tomou conta de parte dos bolsonaristas após as eleições presidenciais de 2022.

Aquela sandice foi fomentada por uma rede digital de estelionatários da esperança alheia que passaram a “interpretar” o silêncio do então presidente sobre o resultado do pleito como sendo uma suposta “estratégia” para alguma ação imaginária que impediria a posse do candidato declarado como vencedor.

Em momento algum o ex-presidente contestou tais interpretações, dando assim a entender que Jair Bolsonaro, ainda que em silêncio, falava pela boca desses agentes. Houve até mesmo o momento em que o então presidente e a primeira-dama receberam os manifestantes na área externa do Alvorada.

Estes mesmos estelionatários da esperança alheia que incitaram as pessoas a irem para porta de quartel lançaram mão de interpretações mirabolantes e fantasiosas de publicações rotineiras do Diário Oficial, alimentando nas vítimas desavisadas a ilusão de que “alguma coisa” aconteceria.

Todo tipo de gatilho mental foi usado: “aguardem mais 72 horas”, “tenho informações privilegiadas do comando militar”, “confiem no presidente”, “Lula não vai subir a rampa”. Esse gatilhos serviam para manter as vítimas numa prisão mental completamente descolada da realidade, impedindo-as de fazer uma apreciação realista da situação e menos ainda avaliar os riscos que estavam correndo.

Toda a narrativa fantasiosa criada pela rede bolsonarista no pós eleição partia da premissa falsa de que os militares teriam supostamente a obrigação de tomar alguma iniciativa para interferir no processo político, uma hipótese que era baseada unicamente na mentalidade revolucionária própria da direita bolchevique e progressista que o bolsonarismo representa.

Esta suposição seria o mesmo que imaginar que os Mariners ou Seals teriam a obrigação de ocupar a Casa Branca após uma vitória dos Democratas nas eleições presidenciais norte-americanas. Uma hipótese que sequer passa pela cabeça de algum republicano mais desvairado.

As eleições presidenciais de 2022 ocorreram sob condições que o próprio Jair Bolsonaro endossou publicamente em mais de uma oportunidade. Não apenas o ex-presidente, como o senador Flávio Bolsonaro veio a público dias antes declarando não haver dúvida sobre a segurança do processo.

Como bem observou o ex-vice-presidente e hoje senador Hamilton Mourão (PL-RS) em entrevista em outubro do ano passado, Jair Bolsonaro aceitou jogar segundo as regras do jogo.

Caberia então ao ex-presidente, uma vez encerrado o pleito e proclamado o resultado, ter tido a grandeza de conclamar sua enorme base de apoio, formada pela metade dos eleitores do país, a se articularem para fazer a oposição política ao novo governo que assumiria, sob sua liderança.

Jair Bolsonaro não apenas não fez isso, como permitiu de maneira dissimulada que seu silêncio após a eleição fosse interpretado de modo leviano por uma rede de agentes de desinformação que incitaram milhares de inocentes e vítimas de uma violenta manipulação psicológica de massas a caírem numa armadilha.

O ex-presidente fugiu covardemente do país antes do término de seu mandato, sem dar qualquer satisfação a seu apoiadores que estavam acampados na capital federal, e na sua volta meses depois retratou aquelas vítimas como sendo bobos da corte. E para arrematar, anunciou que não iria liderar oposição alguma, como de fato não lidera, pois limita-se a atuar, sob as ordens de seu chefe Valdemar da Costa Neto, como linha auxiliar da esquerda petista.

Os presos do 8 de Janeiro foram todos enquadrados nos artigos da Lei 14197, sancionada pelo ex-presidente em 1 de setembro de 2021. Uma lei que veio em substituição a antiga Lei de Segurança Nacional e alterou artigos do Código Penal. A redação da lei parece ter sido talhada sob medida para incriminar e condenar bolsonaristas, com penas em alguns casos superiores àquelas do crime de homicídio.

A rede bolsonarista de agentes de desinformação encarregou-se ao longo do tempo de ocultar qualquer referência a esta lei, como forma de blindar a imagem do ex-presidente, e até hoje mantém um silêncio covarde a respeito.

Da mesma forma que os agentes desta rede silenciam-se sobre a autorização dada pelo ex-presidente para a entrada do ditador Nicolás Maduro no Brasil, silenciam-se também sobre a adesão de seu governo à Agenda 2030 da ONU, inclusive com participação ativa da ex-primeira-dama.

Os agentes dessa rede também silenciam-se sobre o boicote à formação de um partido de direita e ao fato do ex-presidente ter nomeado um petista e criador do Programa Mais Médicos para representar o Brasil na principal entidade regional sul-americana da OMS.

Estes fatos, desde a farsa pós eleitoral que resultou na tragédia do Oito de Janeiro e as ações concretas do ex-presidente em favor da esquerda, como seu empenho na reabilitação política do petista Lula, mostram que o bolsonarismo somente sobrevive pela ocultação de verdades e a disseminação incessante de narrativas convenientes e invariavelmente mentirosas.

O Oito de Janeiro, e suas consequências, é uma mancha em nossa história e por óbvio não há o que ser celebrado. Uma das mais terríveis de suas consequências recaiu sobre as vítimas da armadilha preparada pelos agentes da rede bolsonarista de desinformação e manipulação, que foram enquadradas em lei sancionada pelo ex-presidente e submetidas a julgamento sem a observância do duplo grau de jurisdição.

O Oito de Janeiro é uma mancha em nossa história que marca o ponto culminante de uma pseudo-direita aloprada e bolchevique, que precisa ser superada e nunca ser esquecida para nunca mais se repetir. Qualquer projeto sério de direita política que venha surgir no Brasil em futuro incerto precisa começar pelo rechaço e condenação a todas as práticas políticas consagradas pelo bolsonarismo.

Ao longo do ano passado produzimos diversos artigos relacionados ao tema do Oito de Janeiro, trazendo informações e abordagens que não estão sendo feitas por nenhum outro veículo de direita, pois estão quase todos eles comprometidos não com a verdade, mas com a repetição da narrativa falaciosa dos bolsonaristas sobre aquele trágico episódio. Alguns desses artigo seguem abaixo.

1) Manifestações Pós Eleições Foram Incentivadas por Estelionatários da Esperança Alheia

2) O Oito de Janeiro e a Nova Fase da Guerra Híbrida Brasileira

3) Vítimas do Engodo Bolsonarista: Mais Cinco Presos do Oito de Janeiros São Condenados a Mais de Doze Anos de Prisão

4) Noventa Presos do Oito de Janeiro São Liberados: Conheça a Lei Aplicada Contra os Acusados

5) Relatório Final da CPMI do Oito de Janeiro Pede Indiciamento de Bolsonaro e Ex-Ministros em Diversos Crimes

6) O Destino dos Presos do Oito de Janeiro e a Lei Sancionada por Jair Bolsonaro Que Está Sendo Aplicada Contra Eles


O livro é possivelmente a primeira obra publicada expondo a verdadeira face do bolsonarismo, sem render-se às narrativas delirantes criadas pelos bolsonaristas em torno da figura do “Mito” e sem ceder às narrativas puramente retóricas para fins de guerra política que são usadas pela esquerda. Clique na imagem para ver resenha completa e informações onde adquirir seu exemplar.

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