Ao contrário da narrativa mentirosa que bolsonaristas espalham desde o ano passado, o resultado da votação mostra que não existe oposição de direita programática ou ideológica ao governo petista. O que existe é um grande bloco fisiológico, no qual os deputados bolsonaristas estão inseridos, disposto a aprovar pautas do governo petista, desde que as negociações sejam feitas nos termos que os parlamentares deste bloco entendem.


por paulo eneas
A urgência de tramitação do PL2630, o PL das Fake News, somente foi aprovada na noite desta terça-feira (25/04) no plenário da Câmara dos Deputados por conta dos votos decisivos de mais de sessenta parlamentares dos principais partidos do Centrão de Jair Bolsonaro e do PSD de Gilberto Kassab, o principal articulador político do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

O regime de urgência foi aprovado por 238 votos a favor e 192 votos contrários, conforme mostramos nesta nota aqui. Dentre os deputados que votaram SIM pela urgência do projeto de lei estão todos os parlamentares das siglas de esquerda, e também os seguintes deputados do Centrão, que teoricamente são oposição “de direita” ao governo petista:

  • 28 deputados do Republicanos, de Tarcísio de Freitas
  • 17 deputados do Progressistas, chefiado por Ciro Nogueira, ex-chefe da Casa Civil de Bolsonaro
  • 16 deputados do PSD de Gilberto Kassab, articulador político e braço direito de Tarcísio de Freitas
  • 6 deputados do PL, de Jair Bolsonaro e de seu chefe, Valdemar da Costa Neto

Se estes deputados fossem de fato oposicionistas, teríamos somados 67 votos a menos no SIM pela urgência do projeto que ficaria, sem alterações de votos dos deputados das outras legendas, com apenas 171 votos favoráveis. Mesmo que hipoteticamente todos estes 67 deputados do Centrão de Jair Bolsonaro se abstivessem, o placar final pela urgência do PL2630 teria sido 171 SIM x 192 NÃO, e a urgência teria sido rejeitada.

O Centrão mostrou assim mais uma vez ser o fiel da balança nas votações decisivas da Câmara dos Deputados. Mostrou também estar disposto a colaborar com o governo petista, desde que o governo negocie com estes parlamentares nos termos que estes entendem.

A oposição de direita que só existe na narrativa mentirosa dos bolsonaristas
Desta forma, cai por a terra narrativa mentirosa que vinha sendo espalhada pelos bolsonaristas nas redes sociais e na grande imprensa desde a eleição do ano passado, segundo a qual haveria uma suposta poderosa bancada “de direita” de oposição ao governo petista.

A própria grande imprensa ajudou a disseminar esta mentira, que os influenciadores digitais que formam a rede de desinformação bolsonarista, esforçaram-se em legitimar, pois era uma mentira conveniente.

Esta mentira convenientes era bem adequada ao método bolsonarista de fazer política, que assenta-se no tripé da mentira pura e simples, a ocultação de verdades inconvenientes, e a manipulação de informações, de modo a apresentar cada derrota bolsonarista como se fosse uma vitória.

O fato é que não existe oposição de direita ao governo petista. O que existe é um grande bloco de parlamentares formado majoritariamente pelos partidos do Centrão e no qual os parlamentares bolsonaristas estão incluídos como um “puxadinho” descartável, e que muito em breve poderá ser de fato descartado por conta da CPMI das Fake News.

Esse bloco centrista não faz oposição programática ou ideológica ao governo petista, mas apenas usa de seu poder de barganha para defender seus interesses fisiológicos que, uma vez atendidos, coloca este bloco imediatamente à disposição das pautas que o governo petista apresentar.

Esta é a realidade do Congresso Nacional que emergiu das urnas nas eleições do ano passado. Realidade esta que os bolsonaristas insistem em ocultar por conta da estratégia baseada no tripé mentira-ocultação-manipulação, que se traduz o tempo todo numa negação permanente da realidade.


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