por paulo eneas
A tragédia das enchentes do Rio Grande do Sul não foi de modo alguma uma surpresa ou evento inesperado. Conforme mostraremos em reportagem que está sendo preparada pela nossa editora adjunta Angelica Ca para publicação nesta terça-feira, os eventos extremos que estão ocorrendo no Rio Grande do Sul foram alertados com anos de antecedência por cientistas brasileiros da área de climatologia, mas os alertas foram ignorados pelo poder público.
Ao contrário do mito disseminado pela mentalidade de complexo de vira-lata que predomina no país, o Brasil possui determinados nichos de excelência internacional em produção científica, todas elas na área de ciências naturais obviamente.
Instituições de pesquisa como a Embrapa, IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), toda a área de R&D (pesquisa e desenvolvimento) da Petrobras, Sírius – Laboratório Nacional de Luz Síncroton, INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, departamentos de física teórica do IFUSP e IFT-Unesp entre alguns outros são centros de excelência em pesquisa científica de reconhecimento internacional.
Por sua vez, a climatologia é uma área também, mas não apenas, multidisciplinar que incorpora o conhecimento produzido em diversos segmentos da ciência de base, como física, geofísica, oceanografia, astronomia, entre outros.
Este conhecimento reunido, juntamente com recursos tecnológicos avançados em termos de capacidades crescentes de processamento e computação, permitem antever com razoável assertividade estatística o comportamento do clima num prazo futuro razoável.
Nesse sentido, eventos naturais climáticos extremos em nosso país somente se tornam tragédias, do ponto de vista humano, por responsabilidade exclusiva do Estado e dos agentes públicos, os políticos, não importando a cor ideológica, que simplesmente ignoram estas informações e não adotam antecipadamente medidas que ao menos possam mitigar as perdas materiais e de vidas humanas.
Portanto, a tragédia não é da natureza. A tragédia está no tipo e na qualidade e no caráter dos agentes públicos e políticos que temos no Brasil, que tomam para si o controle do Estado e se apossam via impostos de cerca de trinta e cinco por cento de toda a riqueza nacional, não para levar adiante projetos que beneficiem a população, mas sim para atender aos interesses próprios desses agentes, interesses esses sempre de outra natureza.
Situação como a do Brasil jamais se observaria por exemplo nos Estados Unidos, onde uma agência federal como a NOA – National Oceanic and Atmospheric Administration, o equivalente a uma NASA do clima, ocupa-se principalmente da antecipação de eventos climáticos que possam afetar a segurança da população.
Em contraste, ee de um lado o Estado brasileiro não consegue antecipar-se a esses episódios unicamente por falta de interesse dos políticos e dos agentes públicos, por outro lado os setores mais à direita nunca trataram do tema com a seriedade devida, dentro de uma perspectiva de Projeto de Nação.
Em vez disso, setores da direita preferem a cada evento extremo como este do Rio Grande do Sul dar azo a teorias conspiratórias e narrativas pseudocientíficas, disseminadas por pessoas absolutamente ignorantes no assunto, mas que desfrutam do status, e do dinheiro que dele advém, de influenciadores digitais.
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