por paulo eneas
O primeiro turno da eleição paulistana terminou com os três candidatos mais bem colocados nas pesquisas praticamente empatados. Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ficaram em primeiro e segundo lugares respectivamente com uma diferença de apenas 25.012 votos entre ambos. Pablo Marçal (PRTB) ficou em terceiro lugar com uma distância de 56.853 votos do segundo colocado. Os percentuais exatos foram:
1º Lugar: Ricardo Nunes (MDB): 29.84%
2º Lugar: Guilherme Boulos (PSOL): 29.07%
3º Lugar: Pablo Marçal (PRTB): 28.14%

Chama a atenção em primeiro lugar o número de eleitores que não votaram: um total de 3.213.393 eleitores deixaram de escolher um dos candidatos, em um total de 9.322.444 aptos a votar. Isso significa que 34.47% dos eleitores optaram por não comparecer às urnas ou compareceram e votaram em branco ou nulo para prefeito. Isso representa mais de um terço do eleitorado.

O segundo fato que chama a atenção é que, entre os eleitores que votaram, apenas um terço escolheu o candidato da esquerda, Guilherme Boulos (PSOL). Os outros dois terços dos eleitores optaram entre os dois candidatos percebidos pelo eleitor como se fossem de direita. Observe-se que estamos falando em candidatos “percebidos como se fossem de direita” por parte do eleitor comum.

Isso não significa de modo algum que, no nosso entender, esses dois candidatos, Ricardo Nunes e Pablo Marçal, representem alguma coisa parecida com a direita. Estamos falando da percepção do eleitor comum, que é quem decide o pleito ante as opções colocadas, e não o analista político.

O fato de cerca de dois terços dos eleitores terem optado por votar em um candidato percebido como sendo de direita derruba a tese mentirosa do bolsonarismo que justificou o apoio à reeleição de Ricardo Nunes, um político que nunca teve qualquer ligação com a direita, com o argumento de que um candidato genuinamente de direita não seria capaz de fazer frente ao psolista Guilherme Boulos.

Como essa tese se justifica se dois terços dos eleitores votaram contra a esquerda, contra Guilherme Boulos? O que sabe o bolsonarismo sobre os reais anseios do eleitorado paulistano de direita para decidir, em seu nome, em que candidato esse eleitorado deveria votar?

Não fosse a ação deletéria de Jair Bolsonaro contra a direita, poderíamos ter tido um candidato genuinamente de direita disputando a eleição com chances de vencê-la já no primeiro turno. Essa candidatura genuinamente de direita com chances reais de vitória somente não existiu por decisão exclusiva de Jair Bolsonaro.

Por fim, a não ida de Pablo Marçal ao segundo turno confirma o que antecipamos no artigo  Sucessão Paulistana: Possível Esgotamento de um Modelo de Estratégia Eleitoral e Ausência de Propostas Para os Problemas da Cidade publicado na quinta-feira: foi a derrota da estratégia da lacração. Nesse artigo, dissemos:

Uma eventual não ida de Pablo Marçal ao segundo turno do pleito municipal paulistano poderá sedimentar o esgotamento dessa técnica de manipulação [a lacração], cuja pá de cal será uma eventual derrota de Donald Trump nas eleições americanas de novembro. Os resultados desse domingo em São Paulo e de novembro nos Estados Unidos irão dizer se nossa avaliação está ou não correta.

Ao menos até esse momento esta avaliação está correta. Pablo Marçal foi apenas um cosplay em modo de flash back contínuo do candidato Jair Bolsonaro de 2018, usando das mesmas técnicas e dos mesmos artifícios. Uma técnica manipulatória que parece ter chegado ao seu esgotamento conforme explicamos no referido artigo.

No restante do país, a eleição confirmou a polarização permanente entre petismo e bolsonarismo para o segundo turno em algumas cidades, como vai ser o caso de Fortaleza (CE) e Cuiabá (MT), além do fortalecimento contínuo dos partidos do Centrão, fortalecimento este iniciado no Governo Bolsonaro.

O campeão de vitórias municipais foi o PSD de Gilberto Kassab, que conquistou 887 prefeituras municipais, o que o torna um dos players decisivos para a eleição presidencial de 2026.

Somados, os partidos do centro (PSD, MDB, PP, PL, Republicanos, União) conquistaram 4.043 prefeituras, controlando assim o comando de 80% dos municípios brasileiros. O PT de Lula amargou um resultado pífio de 250 prefeituras conquistadas, ficando atrás do PSB que conquistou 310 cidades, o que deverá acender o alerta vermelho no comando petista para a próxima sucessão presidencial.

Uma lição amarga para a autêntica direita
O resultado do primeiro turno traz uma lição amarga para autêntica direita: é ilusão acreditar que se vai ter sucesso na politica entrando no sistema pela porta dos fundos. Essa técnica funcionou em parte em 2018 com Jair Bolsonaro mas foi um ponto fora da curva.

Além do que, ao contrário da lenda, o então candidato Jair Bolsonaro teve apoio expressivo de vários políticos com mandato pelo país afora naquele ano, todos eles articulados por Onyx Lorenzoni, de modo que ele, Bolsonaro, não era exatamente o candidato totalmente outsider como se acreditou.

O resultado desse pleito mostra que a autêntica direita precisa abandonar essa mentalidade revolucionária de que vai “derrubar as muralhas” do sistema ao som de trombetas lacradoras. Isso é mero fetiche e fantasia disruptivas.

O que a realidade mostra é que uma eleição demanda estrutura partidária forte, muito dinheiro, muito pé no chão e pé no barro, articulação com lideranças locais e setoriais, sem falar do desafio de enfrentar as máquinas públicas colocadas a serviço dos candidatos a reeleição.

A direita tem que aprender a jogar o jogo do sistema político segundo as regras desse jogo. Tem que aprender a sujar os pés sem sujar a alma. Aprender a ocupar posições de comando no sistema para paulatinamente e ir mudando-o por dentro, em um processo que será necessariamente lento e gradual. Tem que criar competências na gestão pública.

Por fim, o fato de quase um terço dos eleitores paulistanos terem escolhido se abster nessas eleições é um indicativo forte de um amplo espaço que pode ser ocupado por uma direita de verdade, uma direita competente na gestão pública, programática e democrática, que esteve ausente nesse pleito pelo simples fato de ainda não existir.

Leia também:
Sucessão Paulistana: Possível Esgotamento de um Modelo de Estratégia Eleitoral e Ausência de Propostas Para os Problemas da Cidade

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