por paulo eneas
A disputa sucessória para a prefeitura paulistana está servindo para expor as fragilidades e um aparente processo de desmanche e corrosão interna do bolsonarismo que, se confirmado pela dinâmica eleitoral, será extremamente benéfico e positivo para uma futura direita política civilizada que venha a se formar no país no médio prazo.
A principal característica da disputa sucessória paulistana desse ano é a mesma observada na eleição passada: a ausência de um candidato com vínculos históricos e compromissos com a direita política e suas pautas e valores conservadores e liberais em matéria de assuntos públicos.
Não deixa de ser paradoxal o fato de que a Cidade de São Paulo, apesar de ter sido o berço do renascimento da direita política no Brasil há cerca de dez ou doze anos, nunca tenha conseguido ter um candidato a prefeito genuinamente de direita. Isso não foi fruto do caso, mas de escolhas e decisões de quem de fato mexe as cordinhas nos bastidores da política.
Fazendo um retrospecto breve, lembremos que em 2016 a nascente direita foi seduzida pela fala mansa do tucano João Doria, que capturou o voto desse segmento.
Muitos dos pretensos “intelectuais” daquela nascente direita, que na verdade nunca passaram de meros papagaios bem falantes, teorizavam sobre uma pretensa nova direita que teria no tucano João Doria sua expressão pública. Alertamos na época para o engodo que aquilo representava.
No ano de 2020 a direita não teve candidato próprio a prefeito na capital paulista por decisão exclusiva do então presidente Jair Bolsonaro.
Havia alguns nomes com potencial eleitoral e todos eles foram bloqueados e vetados por decisão do então presidente, que tentou enfiar o poste chamado Celso Russomano goela abaixo do eleitorado de direita, que o rejeitou e não engoliu. O resultado foi a vitória do tucano Bruno Covas, de quem Ricardo Nunes era vice.
A repetição da história com o provável mesmo desfecho
Nas eleições municipais desse ano a história se repete e poderá ter o mesmo desfecho: não existe candidato de direita disputando o pleito municipal, por que os nomes com potencial de voto como Ricardo Salles, Luiz Philippe Orleans e Abraham Weintraub foram todos bloqueados por ordem de Jair Bolsonaro, que atua como serial killer político de toda e qualquer iniciativa que possa fortalecer a direita.
Jair Bolsonaro decidiu bloquear qualquer nome da direita que fosse eleitoralmente viável para deixar o espaço ser ocupado pelo seu Poste 2.0 chamado Ricardo Nunes, político que nunca teve qualquer ligação ainda que remota com a direita.
Criou-se assim novamente um vácuo junto ao eleitorado de direita, um vácuo que não seria preenchido pelos deputados Ricardo Salles nem por Luiz Philippe, pois ambos há anos preferem ficar na zona de conforto sob as asas do bolsonarismo como figuras coadjuvantes menores de terceira linha.
Abraham Weintraub, por sua vez, procurou a alternativa disruptiva da candidatura independente, cuja efetivação depende ainda de decisão da justiça. Caso essa decisão seja favorável e venha em tempo hábil, será o único nome da direita na disputa sucessória paulistano, a despeito da determinação de Jair Bolsonaro para que não houvesse nome algum.
Um vácuo preenchido por uma cunha oportunista
Mas assim como na natureza, na política não há lugar para o vácuo. O coacher Pablo Marçal percebeu esse vazio político que Jair Bolsonaro ofereceu ao eleitorado paulistano de direita e usou de suas habilidades de comunicação e manipulação dos sentimentos de massa para cravar sua cunha no processo sucessório, embolando a disputa.
Esta semana os institutos de pesquisas eleitorais, os mesmos que os bolsonaristas sempre afirmam que manipulam pesquisas e não merecem crédito, mostraram os nomes de Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e Pablo Marçal empatados nas intenções de voto, o que serviu para o acionamento do botão de pânico nas hostes bolsonaristas.
Iniciaram-se então uma série de ataques ao coacher candidato por parte do comando central do politburo bolsonarista, ataques esses que o coacher tem tido a habilidade de revidar sem melindrar o eleitor de direita que ainda se ilude com a farsa política e ideológica do bolsonarismo.
Um desfecho provável dessa disputa é a derrota do candidato oficial do bolsonarismo já primeiro turno. Se isso ocorrer, será extremamente positivo para a direita brasileira a ser reconstruída no médio prazo, sem os vícios, a corrupção moral e as deformidades ideológicas que o bolsonarismo representa.
Quanto ao candidato coacher, de nossa parte não temos qualquer compromisso ou afinidade com seu projeto político, venha ele a ser eleito ou não.
Se Pablo Marçal for eleito, será a oportunidade para a futura direita a ser formada reafirmar-se como alternativa política por meio da oposição sistemática a um novo político que apenas reproduz os métodos condenáveis do bolsonarismo, mas para suas ambições de poder próprias.
O único aspecto positivo que poderá advir de uma hipotética vitória do candidato coacher será mostrar para o bolsonarismo que a despeito de suas mentiras, manipulações de massa e traições às pautas da autêntica direita, ele não é de modo algum dono do voto do eleitor de direita. Esse voto pertence somente ao eleitor que poderá escolher, inclusive, não votar em nenhum desses nomes.
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