por paulo eneas
As articulações políticas para as eleições municipais do ano que vem mostram que Jair Bolsonaro vem atuando da maneira esperada por aqueles que já compreenderam seu papel na política nacional: ser uma linha auxiliar da esquerda e agente inibidor da formação de qualquer alternativa viável no campo da direita conservadora.

O Centrão já decidiu, e Bolsonaro obedeceu a ordem, que apoiará a candidatura à reeleição do atual prefeito da capital paulista, o inexpressivo Ricardo Nunes, um político obscuro de viés de centro-esquerda que somente assumiu a prefeitura paulistana por ter sido vice-prefeito do falecido prefeito Bruno Covas.

A Bolsonaro foi dada a missão de empurrar o eleitorado de direita para este candidato da centro-esquerda. Para cumprir a tarefa que lhe foi dada, Bolsonaro terá que sacrificar o nome que até o momento tem mais empatia junto aos bolsonaristas: o deputado federal e ex-ministro de Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP), cujo processo de fritura pelo bolsonarismo já foi iniciado.

Em reação, Ricardo Salles fez uma publicação dissimulada na rede social neste fim de semana “denunciando” a conduta de Valdemar da Costa Neto, presidente e dono do PL e chefe de Bolsonaro, afirmando não haver compromissos do Partido Liberal com pautas conservadoras ou liberais.

Na verdade, Ricardo Salles está apenas se vitimizando midiaticamente, como se tivesse descoberto apenas agora a natureza fisiológica do partido ao qual ele se filiou por ordem de Bolsonaro.

Ricardo Salles é político experiente, já foi secretário e assessor do então governador Geraldo Alckmin, agiu nos bastidores da equipe de transição do então presidente eleito Jair Bolsonaro em 2018 para conquistar o Ministério do Meio Ambiente, que deveria ter ficado com o geógrafo Ricardo Felício, sabotado de último momento por ação de Salles, que nunca fez parte do movimento de direita que efetivamente elegeu Bolsonaro em 2018.

Sua reação nas redes e na imprensa tem sido dissimulada por que Ricardo Salles não vai à raiz da questão: ele sabe muito bem e não admite para seu público que Jair Bolsonaro colocou toda a suposta “direita” bolsonarista no colo do Centrão como moeda de troca para suas negociações políticas com a esquerda e outros poderes.

Bolsonaro fez isso com a conivência e aquiescência de pessoas como o próprio Ricardo Salles, que sabe muito bem que todos as semi-lideranças bolsonaristas, ele inclusive, são tão descartáveis para Jair Bolsonaro quanto os anônimos iludidos que foram para porta de quartéis e sofreram e sofrem as consequências penais das ações a que foram induzidos, sem que Bolsonaro expresse uma única palavra ou faça qualquer gesto em favor deles.

Tivesse Ricardo Salles hombridade política e real compromisso com uma pauta conservadora, romperia com bolsonarismo, trocaria de partido, ainda que às custas de seu mandato, entraria em outra sigla e costuraria acordos com outros setores conservadores que já romperam com a farsa bolsonarista, e iria para a disputa a revelia de qualquer “autorização” de Bolsonaro e de seu chefe, Valdemar Costa Neto.

Mas obviamente Ricardo Salles não irá fazer nada disso. No máximo irá expressar afetação de indignação e surpresa em redes sociais para gerar engajamento, para depois continuar seguindo as ordens de Bolsonaro, ainda que sabendo que este, na sua tentativa de jogar o eleitorado paulistano de direita nos braços da centro-esquerda, poderá ao fim e ao cabo contribuir para vitória de Guilherme Boulos do PSOL, o que provavelmente é real intenção de Jair Bolsonaro.


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