por paulo eneas
O ex-presidente Jair Bolsonaro já decidiu que irá obedecer a ordem dada pelo seu chefe e dono de seu partido (PL), Valdemar da Costa Neto, e irá apoiar a candidatura à reeleição do atual prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB). A decisão foi confirmada nesta quinta-feira (21/12) por seu assessor Fabio Wajngarten em entrevista à Jovem Pan News.
A confirmação do apoio de Bolsonaro a Ricardo Nunes já era esperada, conforme havíamos antecipado em nosso site algumas vezes.
Toda a encenação havida em torno do nome do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) nos últimos meses era apenas uma encenação para entreter a base bolsonarista. Esta base tinha uma expectativa ilusória em torno do nome do ex-ministro como candidato da “direita” à sucessão paulistana.
O fato é que mais uma vez não haverá candidatura competitiva da direita à sucessão paulistana. Jair Bolsonaro encarregou-se de inviabilizar qualquer nome da direita para a mais importante disputa municipal do ano que vem.
Exatamente como fez em 2020 ainda na Presidência da República, ao apoiar o inexpressivo Celso Russomano, que sequer foi ao segundo turno, em prejuízo dos potenciais candidatos da direita na época, como por exemplo o deputado federal Luiz Philippe de Orleans.
Mais uma vez o eleitorado de direita na capital paulista, que não é de modo algum desprezível, ficará órfão e será empurrado para o centro e para a centro-esquerda pela mãos de Jair Bolsonaro, que já demonstrou para quem quiser ver que nunca decepciona quando se trata agir para inviabilizar e impedir a formação de lideranças da direita.
Ricardo Salles deu declarações nesta sexta-feira (22/12) informando que já se conformou com a decisão de Bolsonaro e não irá disputar por outra sigla. O próprio Jair Bolsonaro também sinalizou que são nulas as chances de Ricardo Salles ser indicado como candidato a vice-prefeito. Se confirmado esse quadro delineado nesse momento, podemos antecipar alguns desdobramentos, a saber:
a) Ricardo Nunes será obviamente um candidato competitivo por conta do peso do eleitorado bolsonarista. Mas considerando também a rejeição elevada de Jair Bolsonaro, o efeito do apoio poderá ser reverso, facilitando a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL).
b) Guilherme Boulos segue como favorito do pleito, mas poderá descobrir na disputa que o teto de votos que a esquerda tem na capital paulista é baixo o bastante para impedir uma vitória em segundo turno. A menos que a rejeição ao bolsonarista somada à inexpressividade de Ricardo Nunes, eleve esse teto.
c) O briefing bolsonarista da campanha será óbvio: Guilherme Boulos será o o inimigo a ser abatido e Ricardo Nunes será o nome da “direita” escalado para essa missão. Não será surpresa se virmos Ricardo Salles no palanque pedindo votos ao emedebista Ricardo Nunes.
d) Logo, qualquer candidatura no campo de uma autêntica direita, como de Abraham Weintraub ou mesmo de Ricardo Salles, caso este decida sair da coleira de Valdemar da Costa Neto, será dizimada pelo próprio bolsonarismo e rotulada como divisionismo na “direita”.
Mantido esse quadro, teremos mais uma vez o testemunho de um dado irrefutável da realidade: quando se trata de agir para impedir a formação de uma autêntica direita brasileira, Jair Bolsonaro nunca decepciona.