por paulo eneas
A repercussão política das explosões criminosas ocorridas na noite desta quarta-feira (13/11) em Brasília (DF) na Praça dos Três Poderes e em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal revelou o cinismo e a leviandade e até mesmo a virulência retórica com que a tropa de choque virtual do bolsonarismo atua diante de qualquer episódio.
Perfil ideológico e psicológico do autor das explosões
Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, o autor das explosões seria o chaveiro Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos e da cidade de Rio Sul (SC). Filiado ao Partido Liberal, Francisco Luiz disputou pelo partido a eleição para o cargo de vereador daquela cidade em 2020, sem eleger-se.
Em suas redes sociais, Francisco divulgava teorias conspiratórias que encontram amplo espaço entre bolsonaristas, como as narrativas do grupo de desinformação norte-americano Q-Anon, além de expressar o temor de uma suposta transformação socialista do Brasil.
Usando frequentemente de uma retórica anticomunista, Francisco fez referência ao dia 15 de novembro, data da Proclamação da República, como data “especial para iniciar uma revolução”. Ou seja, um suposto anticomunista com uma retórica revolucionária, o que é característico da pseudo direita deformada pelo mindset bolsonarista.
Em outra mensagem publicada em sua rede social, Francisco Luiz faz referência a supostas bombas que teriam sido colocadas nas residências do jornalista William Bonner, do ex-presidente José Sarney, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e acusa todos eles de serem “comunistas”, insultando-os por meio de fraseado com erros grotescos de português.
A sequência de eventos de explosões
Segundo relatos, ao menos duas explosões foram ouvidas por volta das 19h30 da noite desta quarta-feira (13/11) na Praça dos Três Poderes, na Esplanada dos Ministérios, centro de Brasília. Uma delas ocorreu em frente à estátua da Justiça, em frente à sede do Supremo Tribunal Federal.
Uma testemunha afirmou à Polícia Civil que Wanderley Luiz estava com uma mochila, de onde tirou uma blusa, que foi jogada na estátua que fica em frente ao Supremo. Quando a testemunha, que trabalha como segurança, tentou se aproximar, Francisco Luiz teria exibido algo semelhante a um relógio digital, que parecia estar acoplado a uma bomba.
Ainda segundo o relato da testemunha, na sequência Francisco teria lançado alguns artefatos, deitou-se no chão, acionou um explosivo, pôs na cabeça e deixou a bomba explodir, matando a si mesmo. Conforme informado pelo site Metrópoles, a Polícia Militar do Distrito Federal encontrou um timer junto ao corpo de Francisco Wanderley Luiz.
A reação brifada e coordenada da tropa de choque bolsonarista
Assim que a identidade e o perfil do autor das explosões foram divulgados pela Polícia Civil, imediatamente a tropa de choque bolsonarista iniciou uma reação coordenada e brifada visando blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro de qualquer responsabilidade pelo ocorrido.
Uma reação precipitada e no mínimo estranha, pois não há até o momento qualquer indício no âmbito da investigação policial que vincule o ex-presidente ao episódio.
A despeito disso, a tropa de choque bolsonarista não se furtou em subir em cima do caixão do autor e vítima das explosões e transformá-lo palanque para fins de proselitismo político, adotando a mesma prática que a extinta direita sempre condenou na esquerda.
O primeiro briefing repetido de modo coordenado pela tropa de choque bolsonarista foi o de acusar os críticos de Jair Bolsonaro de serem os responsáveis pelo ocorrido.
Trata-se por óbvio de uma acusação leviana, mentirosa e criminosa, que não se baseia em dado factual algum, mas somente no uso do método próprio do fascismo de assassinar reputações e promover calúnia e difamação contra as pessoas da direita que ousam não ser idólatras apaixonados pelo seu político de estimação.
A essa leviandade bolsonarista somou-se o cinismo que lhe é próprio, ao afirmar que o episódio das explosões sepultaria de vez a possibilidade de anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro. Oras, a cúpula bolsonarista sabe, os demais agentes políticos sabem, as Pedras da Geórgia sabem, que não existe nem nunca existiu a possibilidade de anistia a estes condenados.
Da mesma forma que não existe nem nunca existiu a partir de 2020 qualquer possibilidade real de impeachment de magistrado. Essas pautas fake do bolsonarismo servem apenas para manter a base ingênua presa no curral da enganação e da manipulação, além de servirem de moeda de troca e de troco para negociações para a sucessão das mesas diretoras do Congresso.
Afirmar que somente agora, após o episódio das explosões, a tal anistia que nunca existiria ficou inviabilizada, é apenas um apelo a uma desculpa perfeita para justificar o naufrágio de uma pauta que já nasceu afogada e com a qual os bolsonaristas enganaram, ludibriaram e mentiram durante meses para toda a base ingênua do eleitorado de direita.
A verdade que a ex-direita nunca irá admitir
Se Francisco Luiz agiu como lobo solitário ou em coordenação com outras pessoas, é a investigação policial que vai determinar. Mas é fato que sua ação é o sintoma ou manifestação da doença coletiva que tomou conta de amplas parcelas da população no âmbito de uma cismogenia fraticida e quase alucinada.
Uma doença caracterizada pelo extremismo e radicalização político-ideológica que levaram pessoas comuns e agentes políticos a deixarem de lado a discussão racional dos reais problemas nacionais para substituí-la pelo embate raivoso entre narrativas puramente ideológicas que se reduzem a espantalhos que cada lado escolhe para bater: de um lado estão os espantalhos do “comunismo” e do “globalismo”, e do outro estão os espantalhos dos “fascistas” e dos “golpistas”.
Ao comentar o episódio, o ex-presidente Jair Bolsonaro falou em pacificação nacional. Mas cabe perguntar qual a sinceridade do desejo de pacificação por parte de agentes políticos como Bolsonaro e Lula, que foram justamente os mais beneficiados pelo ambiente de radicalização criado em anos anos.
No caso de Jair Bolsonaro, é no mínimo estranho vê-lo falar em pacificação, uma vez que ele é um político do baixo clero que ganhou projeção nacional falando anos atrás em fuzilar FHC e que depois elegeu-se presidente sugerindo, em gesto de palanque eleitoral, metralhar petistas.
Trata-se também do mesmo político que, quando presidente, fez aprovar e sancionar lei que criminaliza criticas a qualquer autoridade pública, a Lei 14197, que está sendo aplicada contra os envolvidos no 8 de Janeiro. No caso dessa lei, trata-se da radicalização vinda do próprio Estado, para proteger o Estado, que passa a ser confundido com a própria democracia.
Antes de falar em pacificação, o país precisa voltar à racionalidade, que foi banida do debate público e substituída por uma guerra híbrida ideológica iniciada há alguns anos no Brasil e que teve em Jair Bolsonaro seu principal instrumento e beneficiário em 2018, para logo em seguida acentuar essa guerra abrindo caminho para a volta da esquerda petista ao poder.
O que estamos apontando é que o Brasil precisa, por óbvio, de uma pacificação. Mas esta não vai ser conseguida por meio dos agentes políticos que dela se beneficiam e se beneficiaram em timings distintos, como Jair Bolsonaro e o petista Lula.
Por fim, cumpre entender que este episódio da bomba resulta do legado de esquizofrenia paranoica que esse processo de guerra híbrida deixou no Brasil, e que só vai ser superado quando figuras como Jair Bolsonaro e Lula estiverem fora da cena política. No caso da hoje inexistente direita, o rompimento com essa polarização é a pré-condição para a formação futura de uma direita verdadeira, democrática e liberal. Colaboração Angelica Ca.
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