por leandro gouveia
Os acontecimentos da madrugada deste sábado (24/06) na Rússia não devem ser vistos com surpresa por aqueles que acompanham realmente o clima dentro da Rússia. Ao contrario da propaganda oficial russa e de seus agentes propagandistas, a Rússia não é um mar de união, coesão e nacionalismo.
Desde pelo menos o inicio da guerra com a Ucrânia, diversos segmentos do sistema de poder russo têm se mostrado insatisfeitos com regime Vladimir Putin, o que fica bem demonstrado pelo grande numero de oligarcas russos que morreram em circunstâncias no mínimo curiosas no último ano.
Ou evidência deste tensionamento, é o recente surgimento de rebeldes na região de Belgorod, na fronteira com a Ucrânia. Rebeldes afirmam que já detêm o controle daquela região.
Na tarde de sexta-feira (23/06 no fuso horário brasileiros), um acampamento de soldados do Wagner Group foi atacado por artilharia do Exército regular russo. Esse ataque teria supostamente desencadeado a reação de Yevgeny Prigozhin, o oligarca russo comandante do Wagner Group, exército mercenário privado de sua propriedade.
O Wagner Group já vinha tendo embates com Sergei Shoigu, Ministro da Defesa da Rússia, acusando-o de boicotar as tropas wagnerianas no fornecimento de munições. O fato é que o Wagner Group é a única tropa que consegue ter algum resultado satisfatório na Ucrânia do lado russo.
As tropas Wagner Group rumaram para as cidades de Rostov e Voronez no início da madrugada deste sábado (horário brasileiro). Na cidade de Rostov é o onde fica o arsenal de munições do Exército da Rússia. Os wagnerianos tomaram controle de unidades militares e houve tiroteio contra forças regulares do exército russo.
Após a tomada da cidade e o controle das unidades militares, as tropas wagnerianas iniciaram uma marcha em direção ao norte, rumo a Moscou, que fica cerca de um mil quilômetros de distância de Rostov.
Yevgeny Prigozhin alega que seus mercenários já abateram três helicópteros, um avião e dois tanques do exército regular russo. Durante a madrugada, vídeos de colunas do Wagner Group em diversos lugares foram postados na internet.
Fontes distintas informam que forças regulares russas bombardearam algumas estradas e pontes que dão acesso a Moscou. Barricadas e bloqueios teriam sido erguidas em torno da capital russa, sugerindo assim a possibilidade de confronto.
Uma TV estatal russa foi hackeada pelo Wagner Group e passou a transmitir apenas mensagens do Yevgeny Prigozhin. Vale ressaltar que em nenhum momento desde o inicio da guerra com a Ucrânia Prigozhin criticou diretamente Vladimir Putin. Suas criticas são direcionadas apenas ao ministério da defesa russo.
Segundo o serviço de inteligência britânico, o Exército da Rússia não estaria oferecendo resistência às movimentações do Wagner Group. Relatos afirmam que um grupo de 180 militares do Exército da Rússia em Rostov teria se juntado às fileiras do Wagner Group. Por sua vez, o líder checheno teria declarado apoio a Vladimir Putin e estaria movendo tropas para Moscou.
Cumpre observar que esse cenário não pode ser considerado uma guerra civil, já que não há envolvimento direto da população, pois trata-se de apenas de conflitos entre as facções paramilitares dentro da Rússia. Até porque o desarmamento da população russa é mais brutal e intenso do que o da população brasileira.
O mercenário Yevgeny Prigozhin é muito pior que Vladimir Putin. Todos estes acontecimentos só estão em curso exatamente porque Yevgeny Prigozhin acredita que Vladimir Putin estaria sendo fraco e não consegue vencer a Guerra da Ucrânia.
O discurso de Yevgeny Prigozhin é semelhante ao de Adolph Hitler nos anos trinta na Alemanha, pois ele fala em restaurar a “honra e grandeza da nação”. Continuaremos a acompanhar os desenrolar dos eventos e traremos em breve novas atualizações.
Atualização das 16h30m:
Imprensa ucraniana informa que as tropas do Wagner Group teriam desistido de marchar em direção a Moscou. Traremos novas atualizações mais tarde. (Edição de redação de Paulo Eneas).
Leandro Gouveia é ex-sargento do Exército Brasileiro, escritor e estudioso da origem do pensamento militar brasileiro.
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