por paulo eneas
A quarta manifestação política dos bolsonaristas no Sete de Setembro, realizada na Avenida Paulista em São Paulo (SP) neste sábado (07/09), foi marcada por fissuras internas entre integrantes do movimento e dubiedades quanto a pauta que levou mais uma vez milhares de pessoas àquela avenida para ouvir discursos de políticos no palanque.

Esta quarta manifestação ocorre no momento em que divisões internas dentro do movimento bolsonarista começam a ficar mais expostas, tanto por conta da sucessão municipal paulistana como por conta da divergência e disputa de protagonismo na pauta em torno do impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

Manifestações políticas no Sete de Setembro tiveram início ainda em 2020 quando, naquele ano, a celebração oficial da data nacional foi suspensa por conta da pandemia do coronavirus e foi substituída por manifestações supostamente “espontâneas” de apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro.

Naquele ano, o primeiro ato dos bolsonaristas no Sete de Setembro foi realizado em Brasília (DF), iniciando-se na área do Museu da República e a Biblioteca Nacional, de onde os manifestantes seguiram em passeata até o Congresso Nacional. A esquerda também realizou um ato simbólico e puramente “performático” em outra área da cidade, mas sem maiores consequências.

Este primeiro ato veio na sequência de uma jornada de manifestações bolsonaristas também em Brasilia realizadas em cerca de oito a dez fins de semana consecutivos durante os meses de junho e julho. Estivemos presentes em uma dessas manifestações em junho daquele ano, onde fizemos o registro jornalístico para o antigo Crítica Nacional, e mantivemos nossa última conversa em off com o então presidente no Palácio do Alvorada.

Passados quatro anos, vimos esse ano a repetição do mesmo script naquela que deveria ser a data cívica nacional, mas que na prática foi abolida por Bolsonaro para virar dia de evento politico.

Nesses quatro anos, a ex-direita foi acumulando derrotas sucessivas, que foram sendo vendidas para a base como vitórias dentro de um imaginário xadrez quadridimensional, derrotas estas embaladas em recuos, cartinha de pedido de desculpas, acampamento em porta de quartel, prisões de ativistas, concessões sucessivas à esquerda e bravatas em cercadinho presidencial, até esta direita ser reduzida a um apêndice ou puxadinho do que existe de pior no establishment político nacional, representado pelo Centrão.

Mas a despeito dessas evidências óbvias, essa direita deformada continua insistindo no mesmo método de fazer política, mas dessa vez com fissuras internas como ficou evidenciado nesse sábado. O mesmo método que em quatro anos não produziu vitória alguma, apenas fortaleceu a esquerda e o establishment político.

Fissuras Expostas e Ambiguidades
O ato desse sábado serviu também para expor certas fissuras no bolsonarismo. Originalmente, a manifestação foi convocada por uma ala dos bolsonaristas tendo como pauta explícita o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

Posteriormente a manifestação foi sequestrada pelo staff bolsonarista ao mesmo tempo em que Jair Bolsonaro passou a dar declarações ambíguas sobre o tema central da pauta, o impeachment do ministro, como registramos em nossas redes sociais ao longo da semana.

Os organizadores originais foram banidos do palco principal pelo staff bolsonarista, e reuniram-se em torno de um carro de som em separado. Durante sua fala, Jair Bolsonaro chegou a ordenar que à polícia para “arrancar o cabo da bateria” do outro carro, e acusou as pessoas que lá estavam de estarem “fazendo política”, como se ele, Jair Bolsonaro, também não estivesse.

Sentindo a pressão política da própria base em processo de fissura, Jair Bolsonaro elevou o tom e chamou o ministro Alexandre de Moraes de “ditador”, fez uma referência genérica aos presos do Oito de Janeiro, à suspensão da plataforma X-Twitter no Brasil, e voltou a falar de sua esperança de que possa voltar a ficar elegível por decisão do Congresso Nacional. (texto prossegue após ilustração)


Desdobramentos Políticos Futuros
Qual será o efeito concreto desta quarta manifestação no que diz respeito a seu objetivo inicial, que era o de viabilizar o processo de impeachment do ministro da suprema corte? Os mesmo das manifestações dos três anos anteriores: zero, em nossa opinião.

Como estamos afirmando há meses, o processo de impeachment somente ocorrerá se houver articulação no Senado Federal e interesse das principais forças políticas do país para esta finalidade. A esquerda obviamente não tem interesse nesse impeachment, nem o Centrão, onde a direita deformada está alojada. Até aí, é uma obviedade.

Mas o que poucos se dão conta, e que temos insistindo há meses em mostrar, é que não existe interesse em impeachment por parte de Jair Bolsonaro, cuja única prioridade é cacifar-se para reverter sua inelegibilidade visando as eleições de 2026.

Na mensagem publicada em seu canal do Telegram neste domingo (08/09) a respeito da manifestação, Jair Bolsonaro apenas alimenta seu embate com um candidato a prefeitura paulistana, mas não faz menção alguma a impeachment, que era o objetivo original da manifestação, como se pode ver no print acima.

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