por paulo eneas
Nesta quarta-feira (18/09) serão tomadas decisões importantes pelo Copom, Conselho de Política Monetária do Banco Central do Brasil, e pelo FED (Federal Reserve, equivalente formal a um banco central) dos Estados Unidos sobre a taxa básica de juros dos respectivos países.

O anúncio da decisão do FED sobre a taxa básica de juros dos Estados Unidos será feito às 15h00 (horário de Brasília) e o anúncio da decisão do Copom sobre a Taxa Selic será feito após às 17h00 depois do fechamento dos mercados.

As projeções dos analistas e operadores do mercado financeiro e do mercado de capitais é que as seguintes decisões sejam tomadas:

a) O Copom deverá elevar a Taxa Selic, atualmente em 10.50% ao ano. Um aumento esperado em função da pressão inflacionária. O IPCA do ano de 2024 está em 2.85% e o acumulado de doze meses terminado em agosto está em 4.24% de inflação. No entanto, as projeções apontam para uma inflação anual de 4.35% de janeiro a dezembro desse ano, uma taxa muito próxima da margem de tolerância superior em relação ao centro da meta fixada pelos Banco Central, que é de 3.00% de inflação anual.

Avalia-se também que o Copom poderá tomar uma decisão de viés político: o aumento da Selic nesta quarta-feira (18/09) deverá ter como objetivo sinalizar independência de fato (já prevista em lei) do Banco Central ante o atual governo petista, que sido crítico contundente da atual política monetária da instituição, marcada pelos juros elevados.

Este esforço de reafirmação de independência do Banco Central decorre, segundo analistas, da indicação de Gabriel Galípolo para a presidência da instituição a partir de janeiro do ano que vem. Gabriel Galípolo participou ativamente da campanha do petista Lula em 2022 e é considerado um economista de viés mais heterodoxo ou desenvolvimentista.

b) Por sua vez, nos Estados Unidos, a expectativa é que o FED decida baixar a taxa de juros norte-americana em até 0.50% ou 50 base points como se diz no mercado, confirmando assim o chamado soft landing (pouso suave) da economia daquele país, afastando desta forma as especulações sobre possível recessão no curto prazo, especulações estas oriundas em grande parte de análises não técnicas, mas politicamente enviesadas. Afinal, tem eleições presidenciais nos Estados Unidos esse ano.

Os principais indicadores macroeconômicos norte-americanos mais recentes, como os de emprego (payroll) e de atividade industrial como o PMI (purchase managers index) apontam nesta direção de redução da taxa de juros.

Caso estas duas previsões sobre a taxa de juros norte-americana e brasileira se confirmem (lembrando que são apenas projeções de analistas e operadores de mercado e, portanto, podem estar erradas) teremos um cenário macroeconômico positivo ou menos desfavorável ao Brasil no médio prazo pela seguintes razões:

1) O chamado spread ou diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos vai aumentar (juros mais baixos lá, e mais altos aqui). Com esse diferencial tende a haver um maior afluxo de dólares para o Brasil, aumentando a oferta da moeda norte-americana, o que gera efeito positivo imediato na taxa de câmbio: o real brasileiro tende a se valorizar, ou depreciar menos, frente ao dólar, reduzindo assim a pressão inflacionária brasileira.

2) Uma pressão inflacionária menor por conta do efeito cambial de curto prazo reduz a expectativa de juros no longo prazo, a chamada ponta longa da curva de juros futuros, que irá então começar a se “fechar” apontando para baixo. O rationale aqui é simples: se não há pressão inflacionária hoje, não há razão para esperar que “amanhã” o Banco Central precise aumentar os juros para conter a inflação.

Portanto, ceteris paribus (tudo o mais constante), ainda que o efeito das políticas monetárias se façam sentir na economia real no médio prazo, economistas falam em média de dezoito meses, o efeito cambial e do diferencial de juros tende a manifestar-se mais rapidamente gerando um ambiente mais positivo para a economia brasileira no médio prazo.

O efeito na Bolsa de Valores, caso as projeções se confirmem, tende a ser observado já na quinta-feira (19/09) após a divulgação da decisão do Copom, com uma possível valorização dos ativos negociados refletindo já a mudança de comportamento na ponta longa da taxa de juros futuros.

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