por paulo eneas
Os profetas do apocalipse erraram novamente nas suas previsões alarmistas para o cenário econômico mundial após a turbulência nos mercados financeiros internacionais da última segunda-feira (05/08), quando as principais as bolsas de valores do mundo todo caíram fortemente.

A chamada Black Monday iniciada no Japão na noite (horário brasileiro) de domingo (04/08), ensejou diversas previsões alarmistas principalmente entre analistas econômicos e jornalistas de economia brasileiros, que seguiram o efeito manada narrativo e embarcaram numa onda de irracionalidade nada exuberante projetando cenários catastróficos que, entre outros, previam:

• Dólar cotado acima de R$ 6,00 já na manhã de segunda no mercado brasileiro.

• Queda vertiginosa da Bolsa de Valores brasileira, com analistas profissionais ideologicamente enviesados fazendo projeção de fundo de 122 mil pontos, correspondente ao fechamento de 31 de maio desse ano.

• Hipotética reunião às pressas, fora do cronograma, do board do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) para promover corte emergencial da taxa de juros norte-americana.

• Especulação de corte de cem bps (pontos base), ou seja 1.0% de corte, na taxa de juros norte-americana por conta desse cenário. Antes da crise as expectativas mais otimistas projetavam corte de 25 bps (0.25%). Um salto de quatro vezes nas expectativas do valor do corte nas taxas de juros norte-americanas dá uma medida da irracionalidade que tomou conta dos analistas na segunda-feira.

• Previsão de início (pela enésima vez) de uma recessão nos Estados Unidos, o que ensejou também falas oportunistas e desonestas do candidato Donald Trump, que chamou o cenário de crise supostamente inevitável de Kamala Crash.

Em nenhum momento nós do Inteligência Analítica endossamos estas análises alarmistas e apocalípticas. Pelo contrário, mostramos em nosso artigo de segunda-feira Bolsa de Valores do Japão Cai 12% e Gera Efeito Manada nas Demais Bolsas e nos Analistas Econômicos que estava havendo um efeito manada cognitivo nos analistas e jornalistas de economia, efeito esse causado ou por viés político-ideológico nas análises ou por incompetência ou por ambos.

O que a realidade dos dados e indicadores econômicos internacionais estão mostrando na tarde desta quarta-feira (07/08) é bastante diferente daquilo que os alarmistas projetaram e está em linha com o que nós do Inteligência Analítica havíamos antecipado:

Situação do Japão
O pivô da crise do Black Monday foi a Bolsa de Valores de Tokyo, afetada negativamente pelo aumento súbito da taxa de juros japonesa pelo Bank of Japan (BoJ) e o consequente desmonte de operações de carry trade que expuseram bancos e investidores pessoas físicas do Japão, conforme explicamos no artigo linkado acima.

Já na terça-feira pela manhã (horário de Tokyo) a bolsa japonesa disparou em alta fechando acima de dez por cento. Nesta quarta-feira, a moeda japonesa (iene) desvalorizou mais de 2% frente ao dólar, após o BoJ anunciar não haver previsão de aumento futuro na taxa de juros japonesa, o que tecnicamente contribuiu de modo positivo para a normalização dos mercados.

Bolsas da Europa e Estados Unidos
O Índice S&P 500 recuperou parte das perdas de segunda, embora siga em baixa devido à queda nas cotações das empresas de tecnologia, principalmente as chamadas sete magníficas, que há meses vinham supervalorizadas. O Índice Nasdaq segue a mesma tendência, operando ainda em baixa de 0.34% nesta tarde. O mesmo para o índice Dow Jones. Por suas vez, as principais bolsas europeias subiram em média 1.5% nesta quarta-feira em decorrência dos balanços positivos de importantes empresas de suas carteiras.

E o Brasil?
O mercado brasileiro foi pouco afetado pela Black Monday. Quem foi afetado foi a reputação e credibilidade de muitos analistas que cravaram um banho de sangue em nossos mercados esta semana.

Há uma explicação para isso: o Brasil passou em grande parte incólume pela Black Monday por que nosso país, mesmo com os juros elevados, nunca foi o destino privilegiado da abundância de liquidez proporcionada pelo juro-zero do iene japonês. Fomos ironicamente beneficiados pela nossa irrelevância.

A Bolsa brasileira (B3) registrava alta de 1.65% na tarde desta quarta-feira em relação ao fechamento de segunda, quando a bolsa fechou com 0.20% de queda, muito longe das previsões dos apocalípticos.

Por sua vez, o dólar segue estável a R$ 5.61 de cotação, uma queda de doze centavos em relação à cotação de segunda-feira, quando os alarmistas cravavam que a moeda norte-americana iria superar a barreira dos seis reais.

O indicador mais surpreendente foi o Índice Futuro do Ibovespa, que registra na tarde desta quarta uma alta de 3.19% em relação à abertura de segunda. Esse indicador reflete as expectativas de médio prazo, em até dois meses, do índice Bovespa.

Afinal, o cenário futuro é de recessão ou de estabilidade?
Nenhum analista sério pode cravar com segurança o cenário econômico mundial de curto ou médio prazo. Os alarmistas que na segunda-feira fizeram previsões apocalípticas ideologicamente motivadas apenas mostraram a fórmula perfeita para arruinar a reputação.

Nós do Inteligência Analítica não embarcamos no efeito manada apocalíptico da segunda e acertamos em nossas projeções, que podem ser verificadas no artigo linkado acima, por que não fazemos análise com viés político-ideológico, não por que não gostamos, mas simplesmente por que análises assim sempre estão erradas. E nas poucas vezes em que acertam é por pura sorte ou acaso.

O problema da dívida pública crescente dos Estados Unidos sempre é mencionado como fator potencial capaz de desencadear uma crise econômica em escala global. O risco de fato existe, mas no nosso entender é ingenuidade acreditar que os agentes econômicos e políticos norte-americanos ficarão sentados esperando o problema da dívida pública comprometer a preponderância do dólar como meio universal de troca.

Seguramente equacionamento do problema da dívida pública norte-americana virá em algum momento, ainda que como remédio amargo, mas não temos razões e dados objetivos para cravar que desse equacionamento irá advir uma recessão em escala global, que afetaria também os Estados Unidos.

Assim, acreditamos que o que vai definir a economia mundial no ano que vem é a geopolítica. Os principais pontos de instabilidade e insegurança em escala global, com os efeitos nefastos na economia, no mundo hoje são a ameaça militar da Rússia não apenas à Ucrânia, mas a todo leste europeu, a ameaça também militar constante da China à ilha de Taiwan, e a ameaça permanente do Irã ao Estado de Israel e a todo o Oriente Médio, incluindo aos países árabes sunitas.

Em nosso entender, esses pontos de instabilidade e ameaças serão acentuados com uma hipotética vitória de Donald Trump, que tem deixado claro para quem quiser ouvir que, se eleito, adotará uma postura protecionista na economia e uma postura isolacionista na geopolítica por meio do enfraquecimento da OTAN e o consequente desequilíbrio no balanço de poder mundial em favor da Rússia e da China.

Donald Trump também já deixou claro, conforme mostramos em reportagem, sua intenção de não assegurar qualquer compromisso com a segurança de Taiwan, além de já ter assumido os termos de rendição impostos por Vladimir Putin à Ucrânia como sendo seu “plano de paz” para acabar com a guerra.

Portanto, somente será possível projetar com alguma segurança um cenário econômico mundial de recessão ou de estabilidade após as eleições americanas desse ano. Em nosso entender não serão episódios eventuais que geral volatilidade ou desequilíbrios momentâneos de preços de ativos no mercado que definirão esse cenário, mas sim as ações ou omissões dos agentes políticos à frente das maiores economias do mundo.

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