Sumário
I) Cenário Político: A Esquerda Nadando de Braçadas
II) O Flagelo Político da Direita
III) Uma Direita Que Nada Tem a Propor aos Brasileiros
IV) A Necessidade de Construirmos um Projeto de Nação
V) A Missão do Inteligência Analítica
VI) Nossas Necessidades e Planejamento Financeiro
I) Cenário Político: A Esquerda Nadando de Braçadas
O cenário político nacional não poderia ser pior para direita brasileira nesse ano que se inicia. Assim como foi no ano passado e como tem sido nos anos recentes. Do ponto de vista do Governo Lula, o quadro pode ser sintetizado da seguinte maneira:
1) Governo petista vem obtendo vitórias seguidas no Congresso Nacional em todas as matérias relevantes, com apoio ostensivo de grande parte dos parlamentares que foram eleitos ou reeleitos para supostamente fazer a “oposição de direita”.
2) Todas as medidas legislativas de relevância para o governo petista, como a lei do novo arcabouço fiscal, a reforma tributária, o aumento do fundo eleitoral, aprovação de indicados para cortes superiores, bem como de embaixadores e representantes em organismos internacionais foram aprovadas sem dificuldade.
3) Se quisesse, Lula teria aprovado no Congresso até mesmo alguma medida revogando a lei da gravidade.
4) Estas vitórias resultam de uma articulação bem amarrada com o Centrão, na qual Lula fez algumas concessões que desagradaram alas petistas mais à esquerda, mas sem abrir mão da plataforma política de centro-esquerda da frente ampla que o apoiou nas eleições.
5) Ao contrário do que foi observado no governo anterior, Lula não faz concessões apenas para manter-se no cargo: as concessões ao Centrão são feitas para assegurar o exercício de poder por meio da execução de seu programa de governo, pois a base eleitoral e social de Lula e também sua militância o pressionam e cobram nesse sentido.
6) Também aqui vê-se o oposto do que era no governo passado, onde a base bolsonarista se contentava com a permanência de Jair Bolsonaro no cargo, ainda que ele fizesse, como de fato fez, todas as concessões imagináveis ao Centrão e à agenda da esquerda. A base abriu mão de fazer qualquer cobrança ao então presidente, sob o pretexto infantil de que se tal cobrança e pressão fossem feitas o PT voltaria. Pois bem, as concessões foram feitas, a pauta eleita de 2018 foi abandonada e o PT voltou.
7) Os resultados da economia no ano passado em termos de inflação, câmbio e comércio exterior, que encerrou o ano com superávit da ordem de R$ 100 bilhões, mostraram que todas previsões catastrofistas feitas pelos bolsonaristas falharam miseravelmente.
8) O fato é que o governo petista se estabeleceu, entrega resultados econômicos, não enfrenta problemas de governabilidade e não possui oposição política parlamentar alguma no Congresso Nacional, muito menos oposição política organizada na sociedade civil. As críticas que o governo recebe de alguns setores da imprensa não geram impacto em escala suficiente na opinião pública.
9) Isso posto, a menos de algum fato excepcional não previsto no horizonte próximo, Lula seguirá em seu mandato até o fim e somente não sairá candidato à reeleição se sua saúde, em decorrência de sua idade, não permitir.
10) Publicações de perfis bolsonaristas em redes sociais que fazem alusão a um possível e iminente impeachment ou “queda” de Lula não passam de fantasias para iludir o eleitor de direita e gerar engajamento e receita para estes perfis.
II) O Flagelo Político da Direita Nacional
O ano que encerrou evidenciou uma dura realidade que poucos têm a grandeza e a hombridade de apontar: não existe hoje no Brasil uma direita como força política organizada e com enraizamento social, capaz de antagonizar de modo eficiente com a esquerda petista. Existe apenas um flagelo ideológico e moral e um arremedo político que usurpa o espectro da direita, e que se caracteriza em linhas gerais pelo seguinte:
1) Com uma ou outra exceção, a nossa pseudodireita não possui quadros parlamentares qualificados para o embate político e ideológico nem mesmo com um parlamentar mediano da esquerda, como ficou provado no Congresso Nacional ao longo do ano passado. Tivemos até mesmo um deputado de “direita” que literalmente chorou na tribuna após levar uma bofetada de um deputado da esquerda (aqui, sem aspas).
2) Com poucas exceções que se contam nos dedos de uma mão, os nossos parlamentares são desqualificados e despreparados para a atuação política efetiva, pois não se preocupam com a entrega de resultados, mas unicamente em ganhar engajamento em redes sociais. Toda atividade política da maioria desses parlamentares parece ser guiada não por alguma estratégia política, mas por recomendações técnicas de marketing digital.
3) Invariavelmente estes parlamentares perdem todos os embates políticos que empreendem contra a esquerda. Mas não admitem sua incompetência para esse embate, e atribuem as derrotas à habilidade da esquerda em fazer política, num típico exercício de esquizofrenia narrativa.
4) Todas as iniciativas da fictícia oposição de direita no Congresso Nacional no ano passado malograram miseravelmente e foram revertidas em vitórias para a esquerda.
5) No caso da CPMI do 8 de Janeiro, o Inteligência Analítica alertou antecipadamente do seu fiasco como estratégia política. Ditto! A CPMI terminou incriminando ainda mais pessoas e como efeito colateral, a atuação medíocre dos bolsonaristas na comissão serviu para dar projeção nacional ao ministro Flávio Dino, o que o cacifou para tornar-se o novo integrante da suprema corte.
6) O mesmo ocorreu com a CPI do MST, também instalada por esforço dos bolsonaristas, e que resultou na legitimação institucional de um dos mais antigos movimentos de esquerda do país. João Pedro Stédile simplesmente “jantou” a maioria dos seus antagonistas de direita na comissão, tamanho o despreparo desses.
Estes episódios e muitos outros foram retratados na sua crueza ao longo do ano que passou, e até mesmo antecipados em seus desfechos desastrosos para a direita, em artigos e análises do Inteligência Analítica.
Sempre procuramos acentuar que essas derrotas não foram circunstanciais ou casuais. Perder alguma batalha numa guerra faz parte do jogo, e isso não diminui ninguém. O problema reside na perda sucessiva de todas as batalhas, grandes ou pequenas, pois este é um sintoma inequívoco do total despreparo para a guerra.
E foi este aspecto que procuramos acentuar em nossas abordagens: as derrotas sofridas são expressão da completa incapacidade política, intelectual e moral dessa pseudo-direita em fazer frente ao petismo.
O restante da mídia, canais e influenciadores supostamente de direita limitam-se a descrever essas derrotas como sendo “culpa” da esquerda. Pois na cabeça dessa gente, a esquerda é “culpada” por saber fazer política e impor derrotas acachapantes à pseudo-direita. Desta forma essa mídia e influenciadores contentam-se em expressar afetação de virtude por meio da indignação com o “absurdo” da esquerda revelar-se mais hábil no embate político.
III) Uma Direita Que Nada Tem a Propor aos Brasileiros
A direita segue sem ter seu partido político próprio e parece ter se contentado em ter sido reduzida a um mero apêndice ou puxadinho do Centrão. Após o fracasso, em nosso entender planejado e deliberado, do Aliança pelo Brasil, a ideia de ter um partido político de direita no Brasil teve o mesmo destino da promessa da Embaixada do Brasil em Jerusalém: uma promessa não cumprida e sobre a qual se impôs uma espiral de silêncio.
Em consequência, o Brasil prossegue sendo o único país do Ocidente em que metade do eleitorado tem vocação para votar na direita (pois metade dos eleitores votaram em 2018 e em 2022 em quem eles achavam que era de direita e foram, portanto, enganados) mas não existe partido de direita para esse eleitorado votar.
Ao mesmo tempo, essa pseudo-direita difusa e sem partido prossegue sem ter propostas concretas para nenhum dos reais problemas do país. É uma “direita” que não tem nada a propor em termos de políticas públicas, e por consequência todo seu discurso e atuação política são meramente reativos às pautas da esquerda, ou simplesmente reações às iscas retóricas e midiáticas lançadas pela esquerda e que essa pseudo-direita faz questão de morder e agradecer. Por exemplo:
1) O que a direita propõe concretamente para o enfrentamento à criminalidade? Ou pretende continuar somente posando para foto “fazendo arminha”?
2) Quais as propostas concretas da direita para a reafirmação e garantia de nossa soberania nacional e como estas propostas se articulam com as diretrizes de política externa que a direita pretende empreender caso um dia volte à presidência? Ou a direita acha que apenas “denunciar” que voltamos a ser um anão diplomático sob o governo petista (qual a novidade aí?) basta?
3) O que a direita propõe para assegurar em definitivo o direito de propriedade? Alguma PEC alterando o artigo da Constituição Federal que fala da “função social da propriedade” ou mesmo revisando o ordenamento jurídico que permite a desapropriação para fins de interesse público (ou social) foi apresentada e articulada com o Centro nos últimos anos? Ou essa direita flagelada acha mesmo que basta lacrar contra o MST para depois apanhar de João Stédile em comissão da Câmara dos Deputados?
4) O que a direita propõe de política nacional para a região amazônica de modo a articular consistentemente políticas de desenvolvimento e geração de riqueza com a preservação da floresta? Ou a direita prefere continuar disputando com a esquerda o campeonato midiático entre quem desmatou mais ou desmatou menos em dado período?
5) O que a direita propõe de diretriz governamental de fomento à pesquisa científica financiada com recursos públicos e voltada para nossos interesses estratégicos de longo prazo, tomando por referência os centros brasileiros de excelência internacional como IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), Embrapa, Centros de Pesquisa da Petrobras, Coppe, a rede de pesquisadores brasileiros em colaborações internacionais em astronomia e física de partículas? Ou vai continuar apenas com o discurso obscurantista e ignorante de que nada do que é feito nas universidades brasileira presta, pois é tudo coisa de comunista?
6) Qual o real modelo de privatização que a direita defende? Ou essa direita continuará sendo um ente político bipolar que ora defende privatizações de qualquer jeito, entregando patrimônio brasileiro para o controle de estatais estrangeiras ou outros grupos monopolistas, ora defende as estatais com unhas e dentes, inclusive as monopolistas, feito adolescente esquerdista que acha que privatizações só interessam ao “grande capital”?
7) Qual o modelo de educação básica que a direita propõe aos brasileiros? Ficar tagarelando em redes sociais sobre Paulo Freire e ensino de ideologia de gênero não vai fazer com que ambos desapareçam do sistema de ensino num passe de mágica tirado da cartola lacradora. Que iniciativa houve nos últimos anos para alterar artigo da Constituição Federal que confere competência privativa à União de legislar sobre educação, abrindo assim o caminho para a descentralização do sistema educacional?
8) O que direita tem estudado e discutido e debatido sobre os programas sociais, uma das medidas de maior impacto adotado pela esquerda brasileira tucana e petista nos últimos anos, e que resultou em termos ¼ (um quatro) das famílias brasileiras na condição de dependentes do Estado para sua sobrevivência? Que estudos têm sido feitos para desenhar projetos de portas de saída visando, sem causar convulsão social, a gradual reintegração destas pessoas ao mercado de trabalho, de modo a limitar a assistência estatal àqueles permanentemente incapazes? Ou a direita pretende continuar apenas sendo também aqui um ente político bipolar que ora insulta e ofende os beneficiários desses programas (e a esquerda agradece por isso), ora disputa com a esquerda quem vai oferecer mais assistencialismo (também aqui a esquerda agradece por esta estupidez)?
9) O que a direita tem a dizer sobre o sistema de saúde pública? Que ele é um sistema caro e ineficiente e presta serviços de má qualidade todos sabem, principalmente os usuários. Mas o que a direita tem de proposta programática para a saúde pública? Remodelar o SUS? Extingui-lo? Se sim, que modelo a direita propõe em seu lugar?
10) Quais foram os estudos e projetos tecnicamente fundamentados que a direita preparou para elaborar um ordenamento jurídico que coloque um fim ao monopólio nos meios de comunicação de massa e assegurar a livre concorrência no setor? Ou a direita pretende continuar apenas bravateando “Globolixo” ou divulgando videozinhos de lacração com a frase idiota “isso a globo não mostra”, para no apagar das luzes de seu fracassado governo renovar por mais quinze anos a concessão da maior emissora de televisão do país, garantindo assim a continuidade de seu monopólio?
11) Qual o projeto da direita para a área da cultura, e quais as premissas que norteiam esse projeto? Cabe mesmo ao Estado fomentar projetos culturais? Se sim, sob quais critérios e sob que modelo de governança? Ou direita pretende se contentar com as duas únicas ações concretas na área da cultura que ela tomou quando era governo, que foi a renovação por mais dez anos, por imposição constitucional, do Plano Nacional de Cultura aprovado no governo de Dilma Rousseff e a aprovação de mais duas leis de fomento à cultura, após ter passado anos insultando toda classe de artistas, como se fossem todos iguais, e tagarelando fanfarronices sobre a Lei Rouanet?
12) O Brasil é autossuficiente na produção de petróleo bruto, mas não possui capacidade de refino do tipo de óleo extraído em solo nacional, de modo que precisa importar combustíveis já refinados ou petróleo cru de outro tipo para ser aqui refinado. Dada a relevância estratégia e de segurança nacional envolvidas no tema, quais projetos a direita elaborou, baseado estudos criteriosos, para a criação de uma estrutura de refinarias no país capazes de refinar o petróleo aqui extraído? Que propostas nesse projeto da direita asseguram que nessa estrutura de refino não ocorra a formação de monopólios, de modo que os preços dos combustíveis no mercado interno resultem da concorrência entre refinarias e não fiquem sujeitos às oscilações do câmbio e dos preços do óleo cru no mercado internacional, possibilitando assim que a nossa autossuficiência na extração de óleo cru se traduza também em autossuficiência em produção de combustíveis?
13) Exceto nas áreas de segurança pública e de emprego e trabalho, grande parte dos problemas materiais e concretos vividos pela população encontram-se na esfera das chamadas questões urbanas: habitação, mobilidade, acesso a serviços essenciais de saúde, saneamento básico, questões ambientais em nível local, entre outras. Quais as propostas da direita para cada uma destas áreas? Qual a grande bandeira da direita para o problema da moradia ou problema igualmente relevante capaz de conquistar e cativar o eleitor em torno do problema real que ele vive, principalmente nesse ano de eleições municipais? Ou a direita vai continuar achando que políticas urbanas é coisa de esquerdista e que a melhor política de habitação é xingar o MTST de Guilherme Boulos sem oferecer alternativa àqueles que são manipulados pelo psolista?
14) O Brasil depende da importação de fertilizantes para sua agricultura, o que nos coloca uma vulnerabilidade estratégica. Que propostas políticas a direita elaborou e colocou no debate público sobre o assunto sobre o assunto? Por que a direita nunca tomou para si a meta nacional de romper a dependência externa em fertilizantes de modo a eliminar essa vulnerabilidade estratégica. Ou essa pseudo-direita acha mesmo que o melhor a fazer a respeito é estreitar relações com regimes de ditadura como da Rússia de Putin ou de teocracias que financiam o terrorismo internacional, como o Irã, para suprir nossa demanda?
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A lista acima representa uma pequena amostra da quantidade imensa de problemas e questões nacionais sobre os quais qualquer força política que pretenda liderar a Nação tem a obrigação de se debruçar, formular propostas fundamentadas e definir estratégias para, estando no poder, implementa-las como políticas públicas.
A esquerda já tem esse entendimento há anos e procura elaborar propostas de políticas públicas baseadas em estudos acadêmicos em torno desses e outros assuntos, segundo obviamente seu viés ideológico e sua visão de mundo. E a direita?
A realidade nua e crua é que, exceto por algumas poucas iniciativas individuais que em geral são desprezadas e ignoradas, a direita como campo político nunca se preocupou em elaborar proposta alguma de políticas públicas nestas e em outras áreas.
Por não ter proposta alguma a apresentar, a pseudo-direita não tem discurso propositivo e torna-se incapaz de pautar o debate público em torno de suas propostas, posto que elas não existem. Desta forma, essa pseudo-direita limita sua atuação a embates ideológicos com a esquerda, embates esses na maioria das vezes puramente reativos e defensivos no plano puramente retórico, isso quando não passam de riscas lançadas pela esquerda e que a direita faz questão morder.
Com o bolsonarismo, essa característica da pseudo-direita se acentuou e descambou para a lacração, mitada e deboche, quase sempre acompanhadas de insultos ao eleitor, em vez da preocupação em conquista-lo, e na aposta na estratégia do medo e da difusão da angústia, alimentadas muitas vezes pela disseminação de notícias falsas.
O fato de essa pseudo-direita ter obtido até agora resultados expressivos nas duas últimas eleições presidenciais, a despeito da absoluta ausência de projetos políticos concretos, é um indicativo forte da resiliência de metade do eleitorado brasileiro em seu rechaço às políticas de esquerda e sua esperança, até aqui em vão, de dar novos rumos ao país.
Mas nada garante que esta resiliência de metade do eleitorado em depositar suas esperanças em qualquer coisa que se apresente como sendo de direita irá repetir-se nas próximas eleições. Esse alerta poderá ser aferido já nas municipais desse ano, principalmente se o cenário econômico estiver positivo e se a pseudo-direita prosseguir sob o cabresto do Centrão e valendo-se unicamente da retórica ideológica para tentar conquistar o eleitor.
IV) A Necessidade de Construirmos um Projeto de Nação
a) Diversas versões dos projetos autoritários
As questões elencadas no item anterior mostram a necessidade de formularmos um Projeto de Nação. Os últimos projetos nacionais implementados em nossa história recente foram aqueles de Getúlio Vargas, do regime militar, e o projeto tucano-petista, todos com forte viés autoritário. Getúlio Vargas pretendia remodelar a sociedade por meio da ação do Estado forte.
O cerne do projeto nacional do regime militar era a ideia do Estado indutor da economia e ancorou-se no tripé nacional-desenvolvimentismo, protecionismo e diplomacia sul-sul, que nos colocou na esfera de influência de regimes autoritários. Muitos dos elementos presentes no projeto nacional-desenvolvimentista do regime militar foram abraçados pela esquerda petista. Basta lembrar que Delfim Neto foi por vários anos um dos gurus do PT.
A era tucana deu início à nossa inserção subalterna ao esquema globalista ocidental, com várias concessões atentatórias à nossa soberania, como por exemplo a incorporação automática de tratados internacionais ao nosso texto constitucional. A era petista manteve o essencial do projeto tucano, acentuando ainda mais o alinhamento do Brasil com o eixo de regimes autoritários.
O breve período de governo Bolsonaro foi um ponto fora da curva, pois não havia projeto nacional algum, como ficou evidenciado na guinada de cento e oitenta graus na política externa na segunda metade do governo. Uma guinada que abriu a trilha por onde posteriormente o governo petista seguiu com sua diplomacia de anão e de alinhamento com o eixo autoritário.
b) O Projeto de Nação a ser construído pela direita
Nas últimas décadas, talvez mais de um século, nenhuma força política de direita seja ela de viés mais liberal ou mais conservador, tomou pra si a tarefa de formular um Projeto de Nação. Essa lacuna tem que ser preenchida e o momento propício para iniciar esse processo é agora, quando a direita não tem qualquer perspectiva de poder para o médio prazo.
A formulação desse projeto demanda a abordagem séria e adulta e tecnicamente e cientificamente embasadas dos diversos tópicos mencionados aqui, e muitos outros que não foram listados, e uma mudança de mentalidade na direita a ser reconstruída que deve incorporar entre outros pontos, os seguintes pontos:
- Revisão completa das premissas e suposições teóricas que tentaram explicar o Brasil em anos recentes e sobre as quais a direita assentou-se nos últimos doze anos aproximadamente.
- Análise realista e honesta da trajetória da direita que tentou renascer nesse período e que foi abortada pelo bolsonarismo.
- Revisão crítica completa das estratégias de comunicação política usadas pela direita, de modo a superar esse modelo que se mostrou fracassado.
- Empreender um esforço para conhecer e entender o Brasil real, seus reais problemas e formular propostas de soluções exequíveis, técnica e cientificamente embasadas, e ancoradas nos valores tradicionais da direita.
- Mudar por completo o foco discursivo, deixando de lado a retórica puramente ideológica e procurar o pautar o debate público em cima do que a direita propõe como solução para os problemas materiais vividos pelo cotidiano das pessoas.
- Procurar entender que os problemas reais do país se dividem grosso modo em duas grandes categorias:
» Os problemas percebidos pelo cidadão comum no seu cotidiano e cujas soluções apresentadas a eles definem as escolhas políticas e opção de voto desse cidadão comum.
» Os problemas não percebidos no cotidiano, que envolvem nossa soberania nacional, política externa, temas estratégicos como energia, fronteiras, segurança cibernética e outros.
Para essas duas classes de problemas as estratégias de comunicação política devem ser distintas, e deve-se partir do entendimento de que, exceto por nichos específicos e minoritários da população, o eleitor comum que forma a maioria não vota por critérios ideológicos, mas sim segundo a capacidade ou não do agente político em oferecer soluções aos problemas materiais percebidos por esse eleitor.
A direita a ser construída precisará também armar-se de noções elementares de ciência política aplicada para entender o bê-á-bá de política, a saber:
⦁ Entender que a política tem a ver com conquista, exercício e manutenção do poder, e somente isso.
⦁ O poder não tem a ver com popularidade. Política não tem a ver com o governante de turno “mostrar que estava certo no que dizia”, pois ninguém julga um governante pelo que ele fala, mas pelo que ele entrega em termos de resultados.
⦁ Política não é apegar-se ao cargo a qualquer custo, inclusive ao custo do sacrifício da plataforma pela qual elegeu-se.
⦁ O cargo político não é um fim em si. Ele tem que ser entendido como instrumento de alavancagem de outros meios constitucionais para o exercício do poder.
⦁ Entre manter-se no cargo e assumir determinados riscos, dentro da lei, para fazer avançar a plataforma pela qual foi efeito, o político verdadeiramente conservador e de direita tem que escolher a segunda opção, jamais a primeira, como ocorreu no governo passado.
Nada do que está afirmado acima é novidade para a esquerda, que há séculos é expert em exercer o poder em favor de suas pautas quando está na posição de ter acesso aos meios de exercício do poder, isto é, os cargos públicos eletivos ou não.
Mas por incrível que pareça a ex-direita que nascia e a deformidade política, ideológica e moral que a sucedeu, o bolsonarismo, ignora por completo esses preceitos básicos e ainda faz desdém deles. Procuraremos aprofundar todos esses pontos em artigos e vídeos, inclusive com convidados, do Inteligência Analítica no escopo da missão a que nos propomos, conforme descrito a seguir.
V) A Missão do Inteligência Analítica
a) Brevíssimo apanhado de nossa história
O site Inteligência Analítica surgiu há um ano como sucedâneo do antigo Crítica Nacional, que existiu por seis anos e chegou a ser referência para a direita entre 2018 e 2020. Tínhamos um bom fluxo financeiro por conta de uma ampla base de assinantes, monetizações orgânicas em rede social e doadores voluntários. Nunca recebemos, e nem fizemos qualquer empenho para receber, um único centavo de dinheiro público, fosse em forma verba publicitária oficial ou verba de gabinetes parlamentares, etc.
A partir de meados de 2020, quando começamos a cobrar do Governo Bolsonaro o compromisso com as pautas assumidas e apontar os desvios do governo em favor das agendas esquerdistas, fomos alvo de uma campanha violenta de cancelamento, boicote e assassinato de reputação. Grupos bolsonaristas articularam-se para promover campanhas de cancelamento de assinaturas de nosso site e ataques em massa e coordenados ao nosso canal e às nossas redes sociais.
Em decorrência, nossas receitas praticamente cessaram e nossa base de assinantes foi sendo dizimada, até praticamente se extinguir. Iniciado o novo governo petista, optamos por fazer um rebranding, encerrando o Crítica Nacional, que havia praticamente falido, e iniciamos com o Inteligência Analítica.
Importante destacar que todas as previsões que começamos a fazer partir de meados de 2020 se confirmaram: a derrota inevitável que viria em 2022 por conta da gestão desastrosa da economia que impactou de modo fulminante os mais pobres, e também por conta da estratégia (ou falta de) igualmente desastrosa de comunicação do governo, principalmente durante a pandemia.
Antecipamos o inevitável esfacelamento completo daquela que já era uma ex-direita, hegemonizada pelo bolsonarismo e reduzida a um puxadinho do Centrão, e as implicações da ausência de um partido político próprio.
Alertamos para os riscos envolvidos nas insanas mobilizações em frente a quartéis após a derrota do bolsonarismo nas eleições presidenciais, incentivadas por narrativas mentirosas e descoladas da realidade que prometiam que o petista declarado vencedor “não subiria a rampa”.
Por fim, antecipamos que todas as previsões catastrofistas feitas pelo bolsonarismo para o ano que se findou, falando em venezuelização e outras tolices, estavam completamente erradas, sem qualquer lastro no mínimo que fosse de ciência econômica.
Mostramos que estas “previsões” não passavam de uma estratégia desonesta e mentirosa, própria dos movimentos políticos baseados em ideologias autoritárias, que tentam impor-se por meio da disseminação do medo e da desesperança, apontando inimigos ou ameaças imaginárias, como mecanismo de manipulação psicológica de massas. Os dados públicos mostram que nossa análise estava, outra vez, correta.
Nosso papel a partir de 2024
Já desde seu início há exato um ano, o Inteligência Analítica se propõe a analisar a real história da direita brasileira nos últimos dez anos e nossa real situação política hoje, onde o que existe de “direita” no país é confundindo com o bolsonarismo, que nada mais é que um setor progressista do establishment político com uma retórica voltada para o eleitor conservador e de direita.
Procuramos também fazer uma caracterização realista dos nossos oponentes da esquerda, observando suas contradições e dissenções internas para com isso nos armar de um discurso adequado para o embate político, fugindo das fórmulas discursivas simplistas reducionistas meramente panfletárias e idólatras que a ex-direita bolsonarista e seus agentes adotam até hoje.
Obviamente que esse é um trabalho árduo e desafiador, mas decidimos empreendê-lo em vez de permanecer na lucrativa zona de conforto da ex-direita bolsonarista, cujo único “esforço intelectual” consiste em repetir fórmulas discursivas criadas entre 2013 e 2018, explorar técnicas já desgastadas de denuncismo sem consequência alguma e que consistem unicamente em afetação de virtude por meio de expressões de indignação fingida com o fato de o atual governo de esquerda estar “surpreendentemente” implementando políticas de esquerda.
Continuaremos a realizar este trabalho de produção de conhecimento político, tendo por baliza geral as preocupações apontadas nos itens III e IV deste documento. Estamos cientes dos desafios, mas é decisão pessoal deste autor somente continuar se ocupando de assuntos públicos se for para realizar esta missão. Precisamos sim de dinheiro, mas não estamos aqui pelo dinheiro.
Muito do conteúdo que publicamos ao longo do ano passado resultou das excelentes discussões que mantemos em nosso fórum, que é um verdadeiro think tank que reúne a maioria dos colabores voluntários do nosso projeto. Continuaremos da mesma maneira este ano, procurando potencializar ao máximo, em forma de textos no site, as discussões empreendidas em nosso think tank.
Iremos também estimular que conservadores autênticos venham a disputar cargos de vereadores nas eleições municipais desse ano, por qualquer sigla partidária, uma vez que não há, nem vai haver no curto prazo, um partido de direita no Brasil.
E justamente por isso continuaremos a nos empenhar para que a autêntica direita tenho como horizonte no médio prazo a formação de um partido político próprio, calcado numa plataforma política robusta, voltado para a elaboração de propostas de políticas públicas capazes de pautar o debate nacional, e sem os vícios que levaram à destruição daquela que seria direita que começava a nascer há dez anos.
Entendemos que a formação desse partido é a prioridade zero, se queremos pensar seriamente numa direita nacional. Para essa tarefa teremos que ter a habilidade de conquistar o eleitor ainda iludido com o bolsonarismo, sem jamais insulta-lo. O editor do Inteligência Analítica dispõe-se a se dedicar pessoalmente ao máximo a esse projeto partidário.
VI) Nossas Necessidades e Planejamento Financeiro
Nosso objetivo é que o Inteligência Analítica alcance a sustentação financeira com sua receita proveniente de uma base pulverizada de assinantes. Esta base ainda não existe e estamos projetando um prazo realista de seis meses para sua formação. Nesse interim, as nossas necessidades precisarão ser cobertas por um grupo de patrocinadores. Estas necessidades são basicamente as seguintes:
1) Precisamos de um orçamento de R$ 60.000,0 para os próximos seis meses, necessários para cobrir um gasto mensal de R$ 10.00,00 até junho desse ano, inclusive. O valor é baixo para um projeto dessa ambição e para um prazo de seis meses. Basta lembrar que o CPAC, que não agrega absolutamente nada em termos de organização e produção de conhecimento para a direita, e cujo registro recente mais relevante é um vídeo de bolsonaristas fazendo dancinha no palco, custa várias vezes esse valor para um evento de apenas dois dias.
2) O patrocinador que desejar apoiar nosso projeto poderá fazer uma colaboração num valor único ou assumir conosco contribuições em parcelas e no valor e pelo período que lhe forem convenientes.
3) O patrocinador que assim desejar, e somente mediante autorização pessoal expressa, será elencado no rol público de patrocinadores do Inteligência Analítica.
4) Empreenderemos uma campanha profissional de marketing digital visando atingir até junho desse ano uma base de assinantes que gere a receita equivalente ou próxima aos dez mil reais mensais de que necessitamos.
5) Os detalhes da campanha e o valor da assinatura, que será obrigatoriamente baixo, serão acertados com Stanley Lima, que faz o suporte técnico do site e é profissional da área de marketing digital.
6) Mas fica de antemão estabelecido que assinatura será uma forma de doação regular de baixo valor. Nosso compromisso é manter livre o acesso do público a todo o conteúdo do site.
Por fim, logo após o carnaval, na virada da segunda quinzena de fevereiro, iremos retomar as transmissões ao vivo e a produção regular de vídeos em nosso canal de Youtube, o que irá ampliar o alcance de nosso projeto político.
Paulo Eneas
Janeiro 2024