por marcio labre
No episódio envolvendo o suposto hacker e suas conversas com autoridades da República, cabe fazer algumas perguntas para elucidar os fatos:
1) De quem partiu a “brilhante” ideia de se associar a um indivíduo sabidamente desprovido de confiabilidade para uma missão tão delicada, perigosa e suicida?
2) Foi uma estratégia isolada da deputada Carla Zambelli? Será que não havia mais ninguém na cúpula do governo de então para avaliar os riscos e ameaças de uma ação desta natureza, antes que o assunto fosse parar no gabinete de um Presidente da República?
3) Qual era o objetivo? Comprovar que o nosso sistema eleitoral estava comprometido ou criar um estado de comoção? A única alternativa seria recorrendo a este hacker?
4) O governo tinha à sua disposição serviços de inteligência que, legal e discretamente, poderiam buscar as respostas. Por quê se expor a uma situação tão arriscada?
5) Não havia um único conselheiro no núcleo duro do governo que impedisse tanta estupidez na condução do episódio das joias?
Estas são algumas perguntas honestas e necessárias, entre várias outras que caberiam aqui. Perguntas que valem muito mais do que recorrer ao discurso fácil da eterna vítima “perseguida pelo sistema”.
Garanto que não haveria perseguição, se alguns cuidados básicos fossem adotados. A questão é que a direita brasileira, cedo ou tarde, terá que enfrentar o fantasma das suas escolhas, feitas sem avaliação dos riscos e consequências desastrosas, cuja fatura acaba de chegar.
Muitos de nós, políticos, formadores de opinião e militância, erramos ao subestimar a força e organização do oponente. Ficamos presos a uma falsa ilusão de que eles estavam “desesperados” (nunca estiveram), quando na verdade atuaram silenciosamente nestes quatro anos com inteligência, estratégia e paciência.
Quanto a nós, usamos e abusamos de palhaçadas digitais, dancinhas, bravatas, lacrações e uma aposta estúpida, acreditando que a continuidade no poder estava garantida por likes e mobilização digital.
Quanto antes nos debruçarmos em um esforço conjunto para encontrar as causas de como chegamos até aqui, mais cedo teremos alguma chance de reconstruir uma força política organizada, em condições de chegar e permanecer no poder, caso contrário, só restará lamber as próprias feridas e chorar na internet como eternos derrotados. Eu me recuso a isso, e você?
Marcio Labre (@marciolabre) é ex-deputado federal (período de 2019 a 2023), jornalista, comunicador, apresentador e empresário.