Os Caminhos Para a Direita Conservadora no Novo Cenário Político e Institucional do Brasil

A direita conservadora brasileira precisa abandonar determinados vícios que foram alimentados nos últimos quatro anos e voltar a debater o que ela quer e propõe para a sociedade brasileira.

por paulo eneas
Ao contrário de uma falsificação histórica que vem sendo disseminada nas redes sociais em período recente, falsificação esta que afirma que “não existia direita antes de Bolsonaro”, a direita conservadora brasileira começou a renascer no início deste século como um movimento cultural inspirado pela influência iluminadora do professor Olavo de Carvalho.

A atuação das pessoas vinculadas a esta direita nascente lastreada num movimento cultural de viés conservador teve desdobramentos na esfera política, sendo que um dos principais deles se deu a partir das Manifestações de 2013, vindo então a desaguar no bem-sucedido movimento popular pelo impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff.

Conforme iremos mostrar de modo mais detalhado em artigos futuros, esta direita nascente foi posteriormente capturada e sequestrada pelo então deputado federal Jair Bolsonaro que dela valeu-se para se eleger presidente em 2018.

Olhando em perspectiva, podemos afirmar que a vitória eleitoral de 2018 não foi uma vitória da direita, mas o início do seu ocaso, pois a partir do ano seguinte, aquela direita conservadora nascente foi engessada e começou a morrer lentamente pelas mãos do seu algoz que a sequestrou para eleger-se presidente.

A morte lenta daquela direita nascente chegou ao fim no ano passado com a volta dos petistas à Presidência da República. A volta de Lula não foi um fato isolado ou surpreendente. Foi a conclusão de um processo de sucessivas derrotas políticas, culturais e ideológicas da direita, e dos conservadores em particular, iniciado a partir de 2019.

Ainda iremos trazer textos em separado descrevendo em detalhes esse processo de derrotas contínuas sofridas pela direita nos quatro anos de governo de Jair Bolsonaro.

Por ora, importa-nos saber que caminhos tomar nesse novo ambiente político e institucional do país, no qual a liberdade de expressão enfrenta enormes restrições. Em nosso entender existem ao menos dois eixos de discussão a se considerar:

I – A DIREITA PRECISA ABANDONAR SEUS VÍCIOS E AMADURECER
A direita brasileira regrediu em termos culturais, ideológicos e morais durante os quatro anos de governo de Bolsonaro. Suas pseudo-lideranças passaram a viver de lacrações e “mitadas” em rede social. A disseminação de mentiras e desinformação tonou-se a norma, e não a exceção, na conduta desta pseudo-direita, incluindo aí parlamentares e influenciadores.

Esta pseudo-direita infantilizada pelo bolsonarismo descolou-se por completo da realidade e e passou a viver do auto-engano e da auto-ilusão, a levaram à derrota diante do petismo. Esta pseudo-direita tornou-se incapaz de fazer análises de conjuntura corretas. Na verdade, deixou de lado qualquer preocupação com análise de conjuntura política, que foi substituída pelo comportamento de torcida.

Esta pseudo-direita abandonou por completo as pautas originais daquela direita nascente do início do século. Foram deixadas de lado qualquer preocupação com combate efetivo à corrupção e à criminalidade, que sempre andam juntas. Ignorou-se por completo a política externa, a guerra cultural, as questões de soberania nacional, entre outras, tornando-se uma direita sem pauta.

Organização partidária própria da direita passou a ser um não-assunto, uma vez que esta pseudo-direita contentou-se em ser um puxadinho de partidos do Centrão comandados por políticos do estamento burocrático envolvidos com suspeitas de corrupção e que fizeram parte de governos petistas passados.

Esta pseudo-direita incorporou com naturalidade as pautas identitárias, progressistas e assistencialistas da esquerda, tendo ajudado a aprovar muitas delas no parlamento. Não à toa, um levantamento feito por uma consultaria política mostra que nos quatro anos de Governo Bolsonaro, bolsonaristas e petistas votaram junto em 349 pautas no Congresso Nacional.

Este cenário de terra arrasada em termos políticos, morais e ideológicos é bem representado hoje por um grupo parlamentares eleitos ou reeleitos na onda da mediocrização da política promovida e incentivada pelo bolsonarismo.

Esse grupo de parlamentares, com uma ou outra exceção honrosa, bem como o conjunto de influenciadores de redes sociais que atuam na mesma toada, exibem um comportamento infantil e idiotizante que espelha com perfeição a caricatura a que foi reduzida a direita brasileira, como se pode ver na imagem acima.

Obviamente a direita não terá futuro algum enquanto ela for representada por pessoas com esse nível de imaturidade e de mediocridade.

Parlamentares desta estirpe jamais serão capazes de fazer uma oposição efetiva ao governo petista, uma vez que já provou-se nos quatro anos de Governo Bolsonaro que esta anticultura da lacração e da mitada alimentada pelo bolsonarismo não produz resultado algum.

II – O CAMINHO QUE A DIREITA DEVE TOMAR A PARTIR DESTE ANO
Se os conservadores pretendem ter alguma relevância na vida política nacional e apresentarem-se como alternativa de poder no médio a longo prazo, precisam de imediato começar a comunicar ao público aquilo que efetivamente defendem e propõem para o país.

É preciso definir um núcleo mínimo de propostas que irão guiar a atuação dos conservadores, até mesmo para confrontá-las no debate com as políticas públicas do atual governo petista. Ou seja, temos que recuar quatro casas e retomar o espírito que guiava aquela nascente direita até antes de seu sequestro pelo bolsonarismo.

Somente seremos capazes de fazer uma oposição consistente, séria e madura ao governo petista se formos capazes de dizer o que propomos no lugar, que alternativas oferecemos. E isto não será conseguido por meio de lacração ou mitada em redes sociais e menos ainda com comportamentos infantis e idiotizantes.

O que se segue abaixo é um esboço preliminar e inconcluso, e vem somar-se a iniciativa semelhante que foi apresentada pelo ex-ministro Abraham Weintraub há duas semanas e que pode ser vista neste link aqui: precisamos de um Manifesto Conservador dizendo claramente o que queremos e o que propomos à sociedade brasileira.

1) Garantia plena da liberdade de expressão e de crítica a ações de dirigentes públicos.

2) Restabelecimento pleno do devido processo legal, que pressupõe o amplo direito de defesa, para todos os brasileiros acusados de qualquer tipo ilícito.

3) Garantir na Constituição Federal que todos os brasileiros adultos tenham assegurado o direito de acesso a armas para a legítima defesa de sua vida, da vida de sua família e de sua propriedade, cabendo à legislação ordinária estabelecer as exceções a este direito.

4) A defesa intransigente da vida desde a sua concepção, ficando os casos de aborto restritos unicamente a situações de “Escolha de Sofia” nas quais tem-se que optar entre salvar a vida da mãe ou da criança.

5) Revisão do Código Penal e do Código de Execução Penal sob a ótica da proteção e segurança da sociedade, com endurecimento das penas para homicídio, agressão sexual, corrupção de ou praticada por agentes públicos, tráfico de drogas, invasão de propriedade privada e de terrorismo, a ser tipificado com ações violentas planejadas com potencial de letalidade contra civis motivadas por razões políticas e ideológicas.

6) Estabelecer como objetivo nacional de médio prazo a redução da quantidade de brasileiros dependentes de assistencialismo estatal, ficando este contingente restrito a pessoas permanentemente incapazes que necessitam de retaguarda da sociedade para garantir sua sobrevivência. A implementação deste objetivo deverá ser feita por meio de políticas públicas transitórias de estímulo à empregabilidade das pessoas hoje dependentes de ajuda estatal.

7) Revisão de toda política indigenista brasileira, incluindo demarcações de reservas, removendo toda a influência de lobbies internacionais e partindo da premissa de que aos indígenas deve ser assegurada a igualdade de direitos civis com todos os demais cidadãos brasileiros.

8) Revisão das diretrizes de segurança nacional e de política externa, a serem pautadas pelas premissas de defesa da nossa soberania e integridade territorial, a não ingerência de organismos transnacionais em políticas públicas internas brasileiras, especialmente nas áreas de saúde, segurança, meio ambiente e educação, e reafirmação da inserção brasileira na herança cultural e histórica da Civilização Ocidental.

Obviamente a “lista” acima é incompleta e cada item sugerido precisa e deve ser desdobrado e melhorado. Da nossa parte, procuraremos pautar cada um desses itens em publicações futuras, trazendo inclusive colaboração de outros autores ou mesmo autores com ênfases distintas para cada ponto, com o objetivo de fomentar o debate.

O mais importante ao nosso ver é que a direita conservadora retome a discussão sobre o que ela quer e propõe para a sociedade brasileira. Somente pelo fomento desta discussão é que teremos capacidade de fazer o embate adulto e sério com as políticas que serão implementadas pelo atual governo petista.