por paulo eneas
Alguns analistas políticos brasileiros respeitáveis estão enfatizando o fator Arábia Saudita no ataque que o grupo terrorista Hamas perpetrou neste sábado (07/10) ao Estado de Israel matando centenas de civis israelenses, incluindo mulheres, crianças e idosos.

Segundo estes analistas, o ataque do Hamas teria sido ensejado pela aproximação de Israel com a Arábia Saudita no âmbito dos Acordos de Abrahão, firmados ainda no Governo de Donald Trump. Um eventual acordo de paz entre Arábia Saudita e Israel traria benefícios para Riad, especialmente nas suas relações com os Estados Unidos.

O acordo também iria alavancar a posição da Arábia Saudita no seu embate com o Irã pela liderança regional no Oriente Médio e no mundo islâmico. Estas análises também tomam como pano de fundo a rivalidade histórica entre os ramos sunitas e xiitas do islã, representados respectivamente pelos sauditas e iranianos.

Ainda segundo estes analistas, o Irã teria tido interesse em incentivar o Hamas a promover ataques a Israel na expectativa de que, diante da inevitável reação israelense, o eventual acordo de paz de Jerusalém com Riad ficasse inviabilizado.

Ao nosso ver esta análise estaria correta se o ataque a Israel neste sábado tivesse sido um ataque terrorista “normal”, a que Israel infelizmente já está acostumado: algum homem-bomba em uma cidade ou um ou outro foguete disparado de Gaza, furando o sofisticado sistema de defesa antiaérea israelense, o Iron Dome, e atingindo vilas israelenses ao sul, sem necessariamente causar maiores danos.

Ocorre que aquilo que mundo assistiu no sábado foi uma verdadeira invasão por terra, mar e ar do território israelense. Esta invasão se torna ainda mais inacreditável por ter partido da Faixa de Gaza, cuja fronteira com Israel está entre as mais bem guarnecidas do mundo.

É muito mais fácil um clandestino entrar armado ilegalmente nos Estados Unidos pela fronteira com o México do que um simples imigrante “pacífico” entrar ilegalmente em Israel pela fronteira com Gaza.

A fronteira é guarnecida por uma estrutura complexa de cercas de arame farpado, muros de concreto de cerca de dez metros de altura, zonas buffer (de exclusão) ao longo dos muros e cercas e que se estendem por cerca cem metros de largura, além de recursos de tecnologia que envolvem de sensores, câmeras e outros dispositivos que permitem aos israelenses observar qualquer movimentação terrestre ou aérea do lado de Gaza até cerca de 2 km para além da barreira.

A fronteira possui cinco pontos de passagem fortemente protegidos por destacamentos militares, que incluem entre outros o emprego de tanques blindados Merkeva, mostrado abaixo. Uma desses pontos de passagem é a Entrada Eretz, também mostrada abaixo.



Não existe no mundo sistema de segurança fronteiriça idêntica àquela existente na fronteira de Israel com a Faixa de Gaza. Possivelmente a que mais se aproxima desse nível de sofisticação e rigidez é a fronteira ao sul da Hungria com a Sérvia, que este jornalista visitou em maio de 2019 conforme mostrado no vídeo abaixo.



Portanto, diante de um sistema de proteção de fronteiras sofisticado como esse e a excelência dos serviços de inteligência de Israel,a única explicação realista para o “sucesso” da invasão do país por dezenas ou centenas terroristas fortemente armados é que houve facilitação interna do lado israelense.

Esta facilitação interna para os ataques terroristas está relacionada à crise política e institucional que Israel vive em tempos recentes e que tem como pivô o seu poder judiciário, que é o poder de fato no país. Abordaremos esta crise e as várias evidências de sabotagem interna que possibilitaram a invasão terrorista em artigo em separado.


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