por paulo eneas
Devemos sempre partir da premissa de que ninguém é inocente ou bobo no jogo político, ao menos no que diz respeito a seus agentes e operadores, integrantes desde sempre do próprio sistema político.

Os únicos bobos da política em anos recentes fomos nós, os civis, as pessoas comuns e bem intencionadas e dotadas de valores e princípios, que nos últimos anos foram enredados para o processo político acreditando em figuras políticas já integradas ao sistema e dando crédito a empreendedores de negócios de comunicação de massas via internet que lucram oferecendo conteúdo sensacionalista, ou no mínimo de viés de confirmação, para o consumo do público de direita.

Todos os principais influenciadores, desde youtubers brasileiros até os famosões norte-americanos são apenas empreendedores que tocam negócios lucrativos, nada muito além disso. Não há da parte dessas pessoas nenhuma preocupação com alguma “causa”. A causa é apenas um nicho de mercado a ser explorado.

Acreditar que tais pessoas estão realmente preocupadas com as questões que são importantes para a direita ou para os conservadores é o mesmo que acreditar que Datena e seus cosplays estão mesmo preocupados com a violência e a criminalidade. Ora, violência e criminalidade são justamente o combustível que alimenta os negócios lucrativos do pseudojornalismo sensacionalista que praticam.

Por óbvio, os problemas de criminalidade e violência não serão resolvidos dando-se ouvidos a figuras como Datena e seus cosplays. Da mesma forma que as questões que importam para direita não irão avançar como propostas políticas efetivas enquanto a direita se contentar em dar ouvidos e repercutir os agentes de comunicação de massas que apenas surfam e lucram com a verbalização permanente dessas questões.

Uma verbalização que nunca se traduz em propostas políticas efetivas, pois a direita brasileira é essencialmente passiva em relação às pautas que ela defende, e reativa às pautas da esquerda. A direita não pauta o debate público: ela reage às pautas da esquerda, que nunca ficam apenas no plano retórico, mas em geral são transformadas em políticas públicas.

Tanto no caso específico dos problemas de criminalidade retratados nos meios de comunicação de massa, quanto na verbalização meramente retórica dos temas caros aos conservadores por parte de influencers de “direita”, o que se tem é apenas a espetacularização da “causa”, visando ganhos e lucros. Enquanto a direita se contenta com o espetáculo, ela não se organiza como força política para transformar suas causas em políticas públicas.

Por exemplo, seria muito ingenuidade acreditar que os grandes youtubers gringos “da direita” estão realmente preocupados com a liberdade de expressão no Brasil. Dizendo de outra forma: alguém acredita que a solução do problema da liberdade de expressão no Brasil passa por essas figuras? Alguém acredita mesmo que a Casa Branca, seja ela chefiada por um Democrata ou Republicano, irá pautar a política externa norte-americana pelo que diz um Alex Jones, Joe Rogers, Patrick David, Alex Jones e outros dessa estirpe?

É evidente que não. Nem esses youtubers acreditam nisso, pois eles não são burros. Lembremos que todo o discurso político, sem exceção, é intrinsicamente uma farsa, inclusive os discursos ideológicos (e a experiência recente da “direita” brasileira está aí para provar isso), uma farsa que esconde as reais intenções de seus agentes, que são bem distintas daquilo que eles vocalizam.

O que fazer então?
Diante disso, entendo que a atitude mais inteligente é não alimentar o espetáculo da política, não superestimar nem dar audiência para essas figuras. Se for para ter alguma atuação política como civil, que seja em torno de determinados temas, apresentando propostas concretas, sendo propositivos e procurando conquistar adesões para elas.

Nesse quesito, o Movimento Pró-Vida é um exemplo a ser seguido, em que pese uma outra objeção pontual que se possa fazer a um ou outro integrante. As ações desse movimento sempre foram pautadas historicamente pela pouca ou nenhuma pirotecnia midiática. Em vez disso, os ativistas do movimento dedicaram-se a ações concretas, inclusive de lobby, junto a agentes políticos, visando garantir a defesa da vida desde a concepção, como defendemos. No meu entender é o caminho a ser seguido.

Política não é espetáculo, embora ela tenha sido reduzida a um espetáculo farsesco em anos recentes. Política não é viver de “denúncias” disso ou daquilo. Ação política efetiva é a capacidade de entregar resultados, conquistar o poder ou obter junto a quem detém o poder os resultados que sejam a favor da causa que se defende.

O principal das ações da esquerda são feitas segundo esse entendimento, daí suas vitórias constantes. A parte da pirotecnia midiática e lacração da esquerda existe, mas é apenas acessória e secundária, não o eixo central de sua atuação.

O problema é que a direita deformada nos anos recentes reduziu a política ao acessório, ao secundário, à pirotecnia e ao espetáculo, seja ele nas redes ou nas ruas, e por isso até hoje, passados cerca de dez anos desde sua ascensão, esta direita não conquistou vitória perene alguma, e não conseguiu entregar resultado algum, tendo somente sofrido uma sucessão inacreditável de derrotas. Derrotas estas que são vendidas como vitórias por esses mesmos agentes midiáticos que vivem e lucram com a pirotecnia e o espetáculo da política.

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