por marcio labre
Sabe porque a direita brasileira não consegue estruturar-se como uma força política organizada?

1) Tanto os líderes (com ou sem mandato) como a militância, adoram promover suas tretas em público. Quanto mais barraco, melhor. Qualquer divergência de pontos de vista (algo absolutamente normal) se transforma numa monumental baixaria.

É o show da lacração que vale pontos para o grande campeonato de quem tem razão, sinalizando para potenciais apoiadores financeiros (essencial) que somos um movimento caótico, sem direção, sem objetivo, refém de vaidades pessoais e sobretudo, sem qualquer projeto de poder que não seja de um grupelho particular, na contramão do correto que seria um projeto convergente e consistente.

2) Já nas esquerdas (essa que a direita todo dia diz que está “desesperada”), que está há décadas mais avançada do que todos nós, vou elencar os dez principais pilares que garantem mantê-la de pé, mesmo diante de revezes, como foi o período entre a queda da Dilma em 2016 até 2023. São eles:

2.1 – Estudo e análise de cenário (horas a fio)

2.2 – Organização

2.3 – Disciplina

2.4 – Unidade (lavam roupa suja dentro de casa)

2.5 – Hierarquia (postos de liderança ocupados por mérito)

2.6 – Cadeia de Comando (rigorosamente obedecida)

2.7 – Clareza de objetivos, pautas e agendas, que são construídas a partir da percepção dos problemas objetivos verificados na sociedade, não só ideológicos, mas também demandas materiais e obviamente, angústias psicossociais

2.8 – Ocupação estratégica de setores na sociedade (sindicatos, associações, entidades de classe, universidades, cultura, judiciário, imprensa)

2.9 – Fontes de financiamento
Aqui cabe um parênteses: tem muita gente na direita com pensamento dogmático que se engana quando acha que quem financia partidos e movimentos de esquerda é porque está alinhado ideologicamente e quer implantar um regime comunista. Erro infantil. A esquerda consegue até hoje atrair diversos investidores pelo viés pura e simplesmente mercadológico, apresentando a eles um modelo político de governança que lhes favoreceriam na exploração de nichos de consumo e rentabilidade.

2.10 – Senso de oportunidade: sabem a hora de avançar quando o cenário é favorável, assim como sabem recuar quando o risco de perdas é alto

Voltando à nossa direita
Voltando à nossa direita, apenas tentem comparar quais destas características nós dominamos. Façam esse exercício e reflitam profundamente. Admitir onde erramos é o primeiro passo para encontrarmos o caminho da vitória.

Falhamos em construir o Partido Aliança. Onde estão os resultados práticos do CPAC? E não adianta vir nos comentários com desculpas. O que importa é que fracassamos. E quanto ao nosso eterno desafeto MBL, eu particularmente acho eles uns estrelinhas que não passam de jovens deslumbrados com o poder.

Mas fato inconteste é que eles estão na nossa frente nos itens 2.1, 2.2, 2.3, 2.4, 2.5, 2.6 e 2.9 e algumas vezes no item 2.10. Enquanto isso, continuamos patinando na lama, atolados em inúmeras dificuldades.

Ou saímos dessa zona de conforto destrutiva, que nos mantém aprisionados em discussões idiotas na internet, enquanto movimentos como o MBL vão comendo pelas beiradas e ganhando mais e mais espaço, ou ficaremos relegados a uma bolha decadente de saudosistas do bolsonarismo, fazendo lives com chapéu de alumínio, enquanto a linha do tempo política anda a passos largos.

O resultado é que continuaremos sendo governados por gente que não queremos. É obvio que sem grana, sem financiamento, sem patrocínio não temos a menor chance, mas acreditem, o dinheiro existe e está aí aguardando um projeto com pessoas qualificadas se apresentando para os desafios.

Só depende do quanto seremos capazes de agregar as melhores pessoas, num só movimento. Aprender com os acertos do inimigo não é sinal de inferioridade, mas sim, de sabedoria.

Marcio Labre é ex-deputado federal (período de 2019 a 2023), jornalista, comunicador, apresentador e empresário.

Disclaimer: os artigos assinados por colaboradores ou convidados refletem a opinião do autor, e não necessariamente o posicionamento editorial do Inteligência Analítica.


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