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Tão logo concluímos esta matéria saiu a informação de que o tenente-coronel Mauro Cid foi novamente preso na tarde desta sexta-feira (22/03) após prestar depoimento na Polícia Federal sobre o conteúdo dos áudios vazados.


por paulo eneas
Em áudios vazados atribuídos ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, publicados pela revista Veja nesta quinta-feira (21/03), o militar faz duras críticas ao trabalho da Polícia Federal e ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, relator das ações que tramitam na corte sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado.

Nos áudios obtidos pela revista, Mauro Cid afirma ter sido pressionado durante os depoimentos e acusou os policiais de tentativa de induzi-lo a falar sobre eventos que ele, Mauro Cid, não teria presenciado ou que nem mesmo ocorreram.

“Eles [investigadores] queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu (sic)”, afirma Mauro Cid em trecho da gravação. O militar também mencionou um suposto encontro entre o magistrado e Jair Bolsonaro, sem fornecer detalhes específicos.

“Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale?'”, revelou Mauro Cid para em seguida emendar: “Mas o presidente [Bolsonaro] se encontrou secretamente com Alexandre de Moraes na casa de Ciro Nogueira”.

De acordo com a Veja, trata-se de uma conversa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro com um amigo. O diálogo teria sido captado na semana passada, após o sétimo depoimento de Mauro Cid à Polícia Federal, que durou cerca de nove horas.

Em nota oficial, a defesa de Mauro Cid reforçou a versão de que os áudios eram um desabafo e afirmou que as gravações “de forma alguma comprometem a lisura” dos termos da delação premiada firmada pelo militar com a Polícia Federal.

Em setembro do ano passado, o STF homologou um acordo de delação premiada com tenente-coronel Mauro Cid, que havia passado 129 dias preso. Após o acordo de delação, a prisão preventiva do militar foi convertida em liberdade provisória.

A informação mais importante vinda a público pelos áudios é aquela sobre o suposto encontro secreto, nas palavras de Mauro Cida, que teria havido entre o ministro Alexandre de Moraes e Jair Bolsonaro na residência do senador Ciro Nogueira (PP-PI). Se essa informação for verdadeira, cabem alguns questionamentos:

Quando foi esse suposto encontro? Foi antes das eleições, ou foi após a proclamação oficial dos resultados? Foi após a posse de Lula? Foi antes ou depois do episódio do 8 de Janeiro?  O que teria sido tratado na suposta conversa? Com que finalidade e a propósito do quê?

Observe-se ainda que a rede bolsonarista está ignorando esse trecho da conversa vazada, e focando apenas nos trechos do áudio em que Mauro Cid critica o sistema de justiça e a Polícia Federal, com a aparente intenção de fazer uma “denúncia”.

O fato é que o relato de Mauro Cid traz aquilo que já é sabido: a delação é um interrogatório com status jurídico específico, realizado na presença do advogado de defesa. Nesse interrogatório os investigadores esperam que o delator forneça informações que confirmem uma tese investigativa em andamento ou que possibilitem abrir outra linha de investigação. Delação não é um bate-papo amigável entre compadres.

O propósito e a finalidade do vazamento
O conteúdo do áudio vazado passa a impressão de uma ingenuidade da parte de Mauro Cid. Partindo do pressuposto de que o ex-ajudante de ordens não é ingênuo, cabe conjecturar se tal vazamento não teria sido proposital. Se sim, com que finalidade? Pode-se aventar algumas hipóteses:

a) Mauro Cid pode ter procurado reforçar junto a seus pares a narrativa de perseguição, que tem sido a tônica usada pelos bolsonaristas desde o início das investigações.

b) Mauro Cid afirma que “todo mundo se deu bem” e cita o fato já sabido que Jair Bolsonaro ficou milionário em poucos dias com as doações feitar por seus apoiadores em uma campanha de pix no ano passado.

A primeira hipótese seria a aposta na continuidade da estratégia bolsonarista de acentuar a narrativa de perseguição, estratégia esta que inclui a omissão permanente do fato de que as sanções penais estão todas sendo aplicadas com base na Lei 14197, a Lei Bolsonaro, oriunda de um projeto de lei do ex-deputado petista Hélio Bicudo.

A segunda hipótese contempla a possibilidade de rompimento de Mauro Cid com Jair Bolsonaro e sua tentativa de fazer a base voltar-se contra o ex-presidente, tanto pela menção ao suposto encontro “secreto” (nas palavras do militar) com magistrado, quanto pela menção à fortuna amealhada por Jair Bolsonaro entre seus apoiadores. Colaboração Angelica Ca.

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