por paulo eneas
O apagão elétrico registrado nesta terça-feira (15/08) em 25 estados e no Distrito Federal, e que afetou o fornecimento de energia elétrica por cerca de seis horas, potencializou a irracionalidade que toma conta do debate político nacional, irracionalidade esta que é alimentada pela guerra de narrativas permanente entre petistas e bolsonaristas, que se retroalimentam mutuamente deste embate.
Do lado do governo petista, em vez de apresentar ao público explicações plausíveis para o apagão, apontar responsáveis e anunciar medidas para mitigar eventos futuros semelhantes, porta-vozes oficiais e não oficiais do petismo se aproveitaram do evento para fazer proselitismo contra as privatizações, como se não houvesse responsabilidade alguma do atual governo petista pela gestão do sistema.
Do lado bolsonarista, o evento que afetou a vida de milhões de pessoas e empresas serviu para mais uma rodada de lacrações e retórica infantil na rede social. Deputados bolsonaristas publicaram estultices como “apagão do amor”, enquanto ativistas colocavam a culpa pelo apagão no eleitor que votou no candidato petista.
A postura dos bolsonaristas diante do episódio evidencia o poço sem fundo de contradição que alimenta o bolsonarismo. Eles deixam claro que torcem para que todas as desgraças venham a se abater sobre os brasileiros, como se o povo merecesse uma “punição” por não ter reconduzido Jair Bolsonaro à Presidência da República.
Incapaz de fazer uma oposição política efetiva ao governo petista, uma oposição baseada na abordagem séria e adulta dos grandes problemas nacionais, o bolsonarismo se mostra uma contradição ambulante permanente.
Pois ao mesmo tempo em que culpa o povo pela volta dos petistas à presidência (“Faz o L”, repetem cinicamente, como quem diz “bem feito!”), os bolsonaristas sustentam a narrativa de que a vitória de Lula teria sido arquitetada pelo sistema por meio das urnas eletrônicas.
Para um bolsonarista, a derrota de Bolsonaro deveu-se às urnas eletrônicas ou aos eleitores brasileiros, inclusive os que não votaram em ninguém, ou às duas coisas, jamais a “hipotéticos” erros políticos cometidos pelo Mito deles.
Trata-se assim de um exercício malabarismo mental autocontraditório que os bolsonaristas são incapazes de perceber, pois o bolsonarismo não se alimenta dos dados realidade nem vive nela, mas unicamente de narrativas mirabolantes.
O apagão e a soberania nacional
No caso do apagão elétrico, que foi também o apagão da irracionalidade que domina o cenário político brasileiro, nem bolsonaristas nem petistas são capazes de abordar a real causa do problema: o fato de todo o setor elétrico do Brasil estar sob controle quase total da China.
As “empresas” chinesas (leia-se, o Partido Comunista Chinês) começaram a hegemonizar o setor elétrico nacional ainda no governo petista anterior. Essa hegemonia prosseguiu no Governo Bolsonaro e segue agora com o governo petista de turno. Uma hegemonia que coloca sérias questões envolvendo a soberania e a segurança nacional.
Somente entre os anos de 2019 e 2022, os investimentos chineses no setor de energias alternativas triplicaram, alcançando US$ 3.8 bilhões. Há anos, os chineses controlam importantes empresas de distribuição de energia nos principais estados da federação.
Ocorre que nem petistas nem bolsonaristas abordarão este problema pelo ângulo que realmente interessa, por uma razão simples: ambas as forças políticas são apenas faces opostas de uma mesma moeda, coladas e grudadas uma a outra pelo “grude” do Centrão e dos grandes interesses monopolistas e globalistas que ditam os rumos da vida política nacional.
Os problemas estruturais brasileiros, inclusive aqueles que afetam a soberania nacional, somente poderão ser tratados com a devida seriedade quando surgir no Brasil uma autêntica força política de direita conservadora comprometida de fato com os interesses nacionais. Não será a esquerda na sua versão oficial petista, nem a esquerda dissimulada na sua versão bolsonarista, que dará solução ao problema.