Trazemos aqui alguns dados econômicos de mercado de início desta semana e a partir deles algumas considerações pontuais sobre um possível cenário de recessão mundial.


por paulo eneas
O Índice Ibovespa rompeu máxima histórica e alcançou 136.179 pontos às 14h15min desta segunda-feira (19/08). O índice futuro, derivativo do índice Ibovespa  que projeta seu valor futuro acrescido da taxa de juros, também alcançou máxima histórica de 138.395 pontos no mesmo horário dessa segunda-feira.

A cotação do dólar encerrou em R$ 5.41 após um dia inteiro de queda, caindo cinco centavos em relação ao preço de abertura. Por sua vez o bitcoin, que no nosso entender deve ser visto como um ativo (um criptoativo, a rigor) a mais no mercado, incluindo seus ETFs, e não como “moeda” ou reserva de valor, fechou estável com aumento alta de 0.54% em sua cotação frente ao dólar e ao real.

Nos Estados Unidos, o índice S&P 500, principal indicador de mercado norte-americano e a referência para todas as bolsas de valores doo mundo, segue em viés altista, acumulando alta de 4.30% nos últimos cinco dias, incluindo esta segunda-feira, quando fechou estável em 0.97% de alta. Os demais índices norte-americanos, Nasdaq, Dow Jones, Russel, New York Stock Exchange, também fecharam em alta entre 0.68% e 1.48% no dia.

Bolsa sobre apesar da política econômica do governo petista
No caso brasileiro, a desempenho positivo da Bolsa de Valores é uma notícia benéfica para a economia como um um todo e para a vida real das pessoas. Desde março de 2020, a bolsa brasileira acumula uma alta de 72% até a data presente.

De janeiro de 2023, início do atual governo petista, até a presente data, a bolsa experimentou uma variação de 25% de alta, o que mostra resiliência do segmento produtivo da economia brasileira a despeito da gestão econômica desastrosa do governo petista, especialmente na área fiscal.

E a recessão que foi anunciada?
Os indicadores econômicos do Brasil e do exterior derrubam por terra todas as previsões alarmistas feitas há duas semanas por profetas do apocalipse que trombeteavam uma recessão iminente por conta do evento cisne negro do aumento da taxa de juros no Japão, que levou a uma queda generalizada nas principais bolsas do mundo no dia 5 de agosto.

Era o efeito manada, que contaminou não apenas os agentes econômicos mas também os analistas de economia, conforme apontamos no artigos Bolsa de Valores do Japão Cai 12% e Gera Efeito Manada nas Demais Bolsas e nos Analistas Econômicos e também no artigo Profetas do Apocalipse Erraram de Novo: Moeda Japonesa Recua e Mercados Normalizam Após Black Monday.

As previsões alarmistas feitas naquele momento estavam todas erradas, incluindo as previsões que projetavam o dólar acima R$ 6.00 já na semana do evento no Japão, conforme havíamos apontado nos artigos acima, pois eram todas elas previsões politicamente enviesadas.

Estes erros fazem parecer que a direita brasileira está tão moralmente deformada que decidiu trocar a análise econômica baseada no rigor do método científico pela torcida a favor do quanto pior melhor. Somaram-se a estes erros as previsões que continham conflito de interesses da parte de analistas posicionados em criptomoedas e seus evangelistas.

Mas afinal, o mundo está ou não a caminho de uma recessão em escala global que irá fazer ruir o atual sistema financeiro adotado no Ocidente baseado em moeda fiduciária? Em nosso entender não existe hoje, ao menos disponível ao público, um conjunto de ferramentas de análise e dados que permitam dar uma resposta categórica a esta pergunta.

Portanto, recomendamos ao leitor fugir de afirmações bombásticas e categóricas nesse sentido, pois em geral não passam de click-bites apelativos sem base factual alguma. O que podemos fazer é considerar as hipóteses presentes nas previsões de possível recessão e avaliar a plausibilidade ou não dessas hipóteses com base em informações factuais disponíveis. Algumas, não todas, destas hipóteses são as seguintes:

O papel das bolsas de valores como termômetro
Desde o grande crash de 1929, todos os períodos recessivos foram antecipados pelo comportamento das bolsas de valores. Até mesmo a crise do subprime de 2008 foi antecipada pelas bolsas norte-americanas.

Constata-se empiricamente, com base em dados de história econômica, que as bolsas de valores são o melhor termômetro da economia de mercado (com a licença do pleonasmo). Ocorre que não há hoje analistas profissionais apontando cenário de recessão derivado da análise do comportamento das principais bolsas de valores do mundo.

Guerra em escala mundial
Guerras não causam recessão, elas em geral decorrem de cenários recessivos e muitas vezes eclodem como “solução”, deliberada ou não, para o problema da recessão.

Dívida pública norte-americana
A dívida pública dos Estados Unidos é um problema que preocupa o mundo todo, pois grande parte dessa dívida está em mãos de bancos centrais de vários países, sob a forma de títulos do tesouro norte-americano. Entre os principais credores estrangeiros da dívida pública dos Estados Unidos estão a China, Japão, Reino Unido e Brasil. Outra parcela expressiva da dívida está em mãos de cidadãos e empresas norte-americanas.

Como esta dívida cresceu e muito em anos recentes, principalmente na pandemia e durante o Governo Biden, há um temor de que ela se torne impagável levando a um default, ou seja, um calote.

Um default da dívida pública norte-americana desencadearia uma quebradeira em escala mundial e uma situação de convulsão social interna nos Estados Unidos, além do fim do dólar como moeda de referência internacional.

Obviamente muitos agentes esperam e desejam, por razões políticas e ideológicas, que este cenário de catástrofe se confirme, para então confirmar a tese puramente ideológica que estes agentes adotam: o sistema financeiro ocidental baseado em moeda fiduciária é insustentável e inevitavelmente irá colapsar, logo, será preciso adotar um outro, não mais centrado nos Estados Unidos, mas na China ou Rússia. Evangelistas de criptoativos, com variações de tom, estão nesse grupo.

Não vemos motivo algum para supor a inevitabilidade desse cenário nos termos que ele tem sido colocado, pois teríamos que supor que os agentes políticos e econômicos norte-americanos são néscios o bastante para não anteverem uma iminente situação de default e nada fazerem antecipadamente para mitigar esse quadro.

Ou seja, apenas os proponentes e profetas-torcedores dessa catástrofe mundial seriam inteligentes e espertos o bastante para perceberem tal cenário antes de todo mundo. Também teríamos que supor que a crise iria eclodir pegando “de surpresa” os principais tomadores de decisões políticas e econômicas dos Estados Unidos.

Em nosso entender, o cenário realista mais provável é que em algum momento a viabilização do serviço da dívida pública norte-americana será equacionada, ainda que por meio de medidas amargas. Para quem tais medidas serão mais amargas, menos amargas ou até mesmo doces, serão as relações políticas e de poder que irão determinar.

O futuro não é cor de rosa
Para finalizar, não estamos afirmando aqui que um cenário de recessão mundial ou mesmo de recessão apenas em um país como o Brasil ou mesmo os Estados Unidos está descartado e que o futuro será róseo. Longe disso, apenas estamos mostrando que algumas das hipóteses que embasam hoje um cenário de recessão mundial são frágeis e enviesadas demais para sustentar uma crença ou convicção numa recessão supostamente inevitável.

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