por paulo eneas
Conforme antecipamos ao longo da semana passada, o comício de público razoável na Avenida Paulista nesse domingo (26/11), convocado a pretexto de defender o estado democrático de direito, foi na verdade um ato político em favor de políticos bolsonaristas usando como pretexto a morte de Cleriston Pereira, ativista que morreu na semana passada no presídio da Papuda em Brasília (DF), onde estava preso por conta dos atos de 8 de Janeiro.
O comício, que serviu de palanque para vários políticos bolsonaristas, mostrou que não é apenas a esquerda oficial que que detém o monopólio do uso de caixão como palanque: a direita hegemonizado pelo bolsonarismo não se furta a isso também, quando julga conveniente.
O momento alto da manifestação, que segundo informes não oficias obtidos junto à Polícia Militar de São Paulo, teria reunido um público de cerca de 20 mil pessoas, ocorreu nos momento em que os manifestantes entoavam um “Volta Bolsonaro”.
O público presente não foi desprezível, apesar de muitos perfis bolsonaristas em rede social terem divulgados imagens e vídeos de manifestações passadas como se fossem deste domingo. Também houve uso extensivo de efeitos de tratamento de imagens e vídeos que criam distorção de percepção, dando a impressão de um público gigantesco.
Ainda que o público não tenha sido desprezível, não foi nada nada comparável ao que o então presidente Jair Bolsonaro colocava de apoiadores na rua durante seu mandato de presidente de fachada.
Apesar de ter participado do vídeo dos deputados convocando a manifestação, Jair Bolsonaro não compareceu ao comício na Paulista. Sua última participação em ato na Avenida Paulista reuniu cerca de 2 milhões de pessoas em 7 de setembro de 2021 e resultou na carta de pedido desculpas dois dias depois, escrita por Michel Temer.
Jair Bolsonaro não apenas decidiu não comparecer, a despeito do público mediano, como fez questão de, possivelmente orientado pelo seu jurídico, elaborar um pretenso álibi para provar que não estava no local. Como mostra a imagem abaixo à esquerda, Jair Bolsonaro publicou mensagem em rede social para “provar” que supostamente estaria num bar na rodovia Rio-Santos no momento da manifestação.
O objetivo da publicação foi óbvio: na hipótese de surgir algum problema decorrente da manifestação, as consequências recairão unicamente sobre quem estava presente, e Jair Bolsonaro irá dizer que não teve nada a ver com o evento, não esteve no local e não conhece as pessoas envolvidas.
Da mesma maneira que Jair Bolsonaro afirmou que “mal conhecia” Daniel Silveira, ex-deputado bolsonarista preso e condenado a nove anos de prisão. Se necessário for dirá que nunca ouviu falar de Cleriston Pereira, seu apoiador que morreu preso na semana passada.
Da mesma forma, Jair Bolsonaro também não se furtará em dizer que nunca ouviu falar de Alethea Verusca Soares (foto acima à direita), jovem cabeleireira de São José dos Campos (SP) condenada a 17 anos de prisão pelo 8 de Janeiro com base na Lei 14197 sancionada pelo próprio ex-presidente. Esta é a índole do indivíduo que se pretende liderança da direita brasileira.
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