por paulo eneas
Não exista uma direita política organizada no Brasil, como estrutura política e partidária e de militância próprias, munida de uma plataforma programática e de políticas públicas bem definidas e identificáveis, por que existe o fenômeno do bolsonarismo: o messianismo político do século vinte e um que abortou a possibilidade de existência desta direita democrática e usurpou o seu espaço junto ao eleitorado.
Esta afirmação não é nem mesmo uma opinião, mas uma constatação empírica, um dado objetivo da realidade, que pode ser verificado pela análise das decisões governamentais durante o Governo Bolsonaro conforme publicadas no Diário Oficial da União, decisões estas em sua esmagadora maioria contrárias e opostas a qualquer diretriz política governamental que se possa chamar de direita.
Dada essa premissa baseada em constatação empírica, a pergunta que se pode fazer é: por que o professor Olavo de Carvalho, a figura política mais influente do campo da direita desde o final do regime militar, não explicitou e não vocalizou esta constatação no tempo devido, ainda no primeiro ano de Governo Bolsonaro?
Já no primeiro ano de governo ainda em 2019, ficou evidente o total descolamento entre as promessas de campanha e os valores e princípios sobre os quis elas se assentavam, associados no geral às ideias conservadoras e liberais, e as ações concretas do então governo. Esse autor mesmo fez tal constatação e a compartilhava em conversas com interlocutores, até o rompimento em definitivo com o governo em meados do ano seguinte.
Por sua vez, o professor Olavo de Carvalho, cuja genialidade e inteligência e influência em toda a direita eram inegáveis e reconhecidas até mesmo pelos seus detratores na esquerda, seguramente reunia as condições e capacidades intelectuais para ter feito esta constatação muito antes de qualquer mortal comum, e desta forma poderia ter orientado toda a direita brasileira naquele momento a romper com a farsa do bolsonarismo.
Tivesse Olavo de Carvalho feito esse alerta, teríamos hoje no mínimo um segmento da direita política razoavelmente estruturado fora da órbita doentia, ideologicamente oca, moralmente abjeta e politicamente autofágica do bolsonarismo.
Esse cenário distinto para a (hoje inexistente) direita brasileira poderia estar presente ainda que Lula viesse a vencer as eleições dois anos depois, uma vez que o então presidente Jair Bolsonaro trabalhou ativamente para a reabilitação política do líder petista, pois seu amadorismo político o levou a acreditar que seria fácil derrotar o petista e ao mesmo tempo sabotar e impedir a formação de uma autêntica direita programática nacional.
Mas a história não é feita de “e se…”
O fato é que Olavo de Carvalho não expôs a verdade sobre o bolsonarismo por razões que desconhecemos, de modo que não cabe especular sobre elas, até mesmo em respeito à memória e ao legado do professor. O fato também é que Olavo de Carvalho não rompeu em momento algum com Jair Bolsonaro e aparentemente não percebeu (ou percebeu mas não denunciou), os movimentos claros do então presidente em favor da reabilitação política do petista Lula.
O professor não apenas não rompeu com o então presidente, como permaneceu com ele até o fim, limitando-se a usar sua incontestável autoridade pública sobre a direita para dar alguns esporros em público ao presidente, usando sua verve retórica peculiar, mas no mesmo tom e timbre em que um pai dá bronca no filho.
Em momento algum Olavo de Carvalho conclamou seus milhares e milhares de seguidores e pessoas por ele influenciadas a romper com o Governo Bolsonaro, formar uma oposição de direita àquele governo, e dar início à formação de uma direita política descolada do flagelo do bolsonarismo que se configurava a cada dia que passava.
Apropriação indevida da imagem do professor pelo bolsonarismo
O bolsonarismo usou e abusou do nome e da imagem do professor para fins de outra natureza, muito distintos de qualquer coisa parecida com os valores de uma autêntica direita democrática.
Algumas afirmações de Olavo de Carvalho foram simplesmente sequestradas pelo bolsonarismo, tiradas de seu contexto, e usadas como slogans e gatilhos mentais para justificar todas as práticas mais abjetas que caracterizam o bolsonarismo, tais como:
Idolatria a políticos, abandono de pautas, deslealdade aos parceiros de jornada, concessões de todo tipo à esquerda, difusão desregrada de mentiras e narrativas falaciosas que contavam vitórias onde só havia derrotas, leniência com políticos corruptos e perseguição e cancelamento a desafetos políticos, que vitimaram o próprio Olavo de Carvalho.
Uma das afirmações do professor que foi expropriada pelo bolsonarismo dizia: “Não existe direita no Brasil, existe apenas Bolsonaro”. A afirmação era um diagnóstico correto e lamentoso feito por Olavo de Carvalho sobre a realidade política do Brasil naquele momento, e que persiste até hoje.
Os bolsonaristas imediatamente apropriaram-se da afirmação, valendo-se até mesmo da maneira que pela qual ela foi sintaticamente formulada, dando a ela o sentido que lhes convinha: “não existe direita, só existe Bolsonaro, logo, ele é o nosso salvador e deve ser apoiado e obedecido incondicionalmente”, e passaram a usa-la como slogan e gatilho.
Este redator está convencido que dificilmente o professor Olavo de Carvalho endossaria tal interpretação. Por esta razão, e até mesmo em respeito à memória do professor, entendo ser necessário dar a “tradução” que julgo correta a esta frase:
Não existe direita no Brasil, por que existe um político do Centrão, ex-deputado do baixo clero de sete mandatos, admirador confesso de Hugo Chávez e que sempre votava com o PT e era também admirador de José Genoíno, por quem fez lobby para chefiar o Ministério da Defesa, chamado Jair Bolsonaro, que usurpou o espaço político que seria da direita e que até hoje atua para impedir a formação de uma autêntica direita no Brasil.
A verdade precisa ser restabelecida, principalmente quando se diz respeito a pessoas de grande influência e importância que não estão mais entre nós para se defender.
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