por paulo eneas
O governo petista passou a adotar a estratégia de transformar limão em limonada no que diz respeito à CPMI do Oito de Janeiro. A diretriz seguida até aqui pelo governo petista era a de inviabilizar a instalação da comissão, proposta pela bancada bolsonarista. Essa inviabilização vinha sendo implementada com o apoio do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aliado do governo.
No entanto, após o vazamento das imagens da invasão do Palácio do Planalto mostrando uma conduta conivente com os invasores por parte do general petista que era ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e que resultou na exoneração do general, o governo decidiu tentar transformar o que lhe seria um limão em limonada, e passou oficialmente a apoiar a instalação da comissão.
A promessa petista de apoiar a instalação da CPMI por ora é apenas isso: uma promessa, ao menos para fins de contenção de danos. Pode tratar-se apenas de uma medida diversionista para dissimular o empenho que governo petista poderá continuar a fazer para inviabilizar a comissão, por meio da pressão sobre parlamentares para que retirem as assinaturas de apoio à CPMI.
Mas caso o governo tenha realmente decidido transformar o limão em limonada, a CPMI do Oito de Janeiro poderá de fato ser instalada e os petistas usarão de sua larga e vasta experiência com esse instrumento político para assumir o controle da comissão.
Seguramente os petistas já avaliaram o desempenho da bancada bolsonarista durante os depoimentos do ministro Flávio Dino em duas comissões permanentes da Câmara dos Deputados, e concluíram o óbvio: a bancada é completamente despreparada e desqualificada para este tipo de embate político, o que facilitará ainda mais o controle da CPMI pelos petistas.
Caso esse cenário se confirme, um possível desfecho desta CPMI poderá ser um limão amargo para os bolsonaristas: não será surpresa se as conclusões da comissão vierem a reforçar a pecha de “golpista” que a esquerda sempre tenta impingir à direita.
Existe também o risco de que os trabalhos da comissão sob controle dos petistas venham a trazer elementos adicionais para comprometer ainda mais a situação das pessoas que foram presas após aqueles episódios e que foram convenientemente esquecidas e abandonadas pelo bolsonarismo.
O erro de estratégia dos bolsonaristas desde o segundo turno
O fato é que os bolsonaristas não compreenderam ainda os erros brutais de estratégia que vem sendo cometidos desde o final do segundo turno das eleições do ano passado. O erro de organizar manifestações de contestação dos resultados eleitorais sem estratégia alguma do que fazer a partir disso. O erro de difundir a mentira de que Lula não tomaria posse.
O erro de criar uma narrativa dissimulada de que haveria uma suposta ação militar para mudar o rumo dos acontecimentos. E talvez o maior de todos os erros: permitir que o ambiente de radicalização escalasse a tal ponto que resultasse na invasão das sedes dos três poderes no fatídico oito de janeiro. Ali ocorreu a derrota definitiva do bolsonarismo.
Pois pouco importa, em termos políticos, se a invasão resultou da ação de agentes infiltrados ou se foi componente de guerra híbrida. O ambiente e o contexto para tal ação já haviam sido preparados pelos bolsonaristas ao organizarem as manifestações em frente aos quartéis. Ficou claro assim que os bolsonaristas não aprenderam uma linha sequer da lição trágica da invasão do Capitólio nos Estados Unidos ocorrida há pouco mais de dois anos.
Uma vez havida tal derrota, materializada nas invasões e na posterior prisão de mais de mil manifestantes, em sua quase totalidade apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, a diretriz correta a ser adotada seria a de contenção de danos: em primeiro lugar organizar uma ampla mobilização cívica nacional para dar amparo jurídico na forma da lei às pessoas que foram presas.
Em segundo lugar, procurar estabelecer estratégias no Congresso Nacional para capacitar a oposição política efetiva ao petismo e a defesa consistente das pautas mais importantes da direita, como a liberdade de expressão, combate efetivo à criminalidade e o não alinhamento do Brasil com os regimes totalitários como da Rússia e da China.
Mas cabe se observar aqui que neste quesito o petista Lula está apenas dando andamento a um alinhamento geopolítico com o campo totalitário do eixo russo-chinês iniciado ainda na segunda metade do Governo Bolsonaro.
Nada disso foi feito. A necessidade irrefreável de lacrar em rede social, e a concepção estúpida que reduz a política a disputas na esfera da opinião pública e que ignora por completo as questões de exercício de poder, que caracterizam o método bolsonarista de fazer política, levaram os bolsonaristas a adotar uma estratégia que já nasce derrotada:
A estratégia de propor uma batalha, a batalha política de uma comissão de investigação do Congresso Nacional, para a qual os bolsonaristas não possuem a menor qualificação e preparo, como ficou patente nos depoimentos do ministro Flávio Dino e também na CPMI das Fake News e na CPI da Covid do Senado. O resultado de mais este erro de estratégia dos bolsonaristas não poderá ser outro que não mais uma derrota.
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