A pretexto de adotar um tom moderado, o discurso de Jair Bolsonaro foi basicamente um pedido antecipado de clemência à Justiça, materializando assim o destino que lhe havia sido vaticinado pelo professor Olavo de Carvalho há três anos ou mais, quando afirmou que Jair Bolsonaro iria sobreviver pela clemência de seus algozes.


por paulo eneas
Conforme já era esperado, a manifestação de apoio a Jair Bolsonaro realizada neste domingo (25/02) na capital paulista reuniu um público expressivo que ocupou uma grande parte da Avenida Paulista. A manifestação foi formalmente convocada em defesa do “estado democrático de direito”, mas constituiu-se em mais um ato em favor da pessoa do ex-presidente.

A adesão expressiva do público, ainda que haja divergências sobre o número exato de manifestantes, mostrou também a capacidade que tem o bolsonarismo de mobilizar e levar para a rua uma parcela de seus apoiadores para ouvir aquilo com que estes apoiadores já concordam. E também para venerar a pessoa do ex-presidente.

A manifestação contou com a presença de políticos de peso, como governadores e senadores. A presença destes políticos representou a tentativa destes agentes de herdar fatias do expressivo espólio eleitoral bolsonarista, espólio este que já está em disputa, uma vez que Jair Bolsonaro já não mais é agente político institucional, por estar inelegível.

Portanto, o palanque montado não representou um arco de alianças políticas em torno de algum projeto nacional supostamente “de direita”, o que seria em princípio bastante positivo. Representou isto sim uma oportunidade, para cada político presente, de capturar parcelas do espólio eleitoral bolsonarista.

O discurso do ex-presidente
A pretexto de adotar um tom moderado, seguindo provavelmente orientações de seus advogados, a fala de Jair Bolsonaro foi basicamente um pedido antecipado de clemência à Justiça, materializando assim o destino que lhe havia sido vaticinado pelo professor Olavo de Carvalho há três anos ou mais, quando afirmou que Jair Bolsonaro iria sobreviver pela clemência de seus algozes.

Jair Bolsonaro apelou para o “lado humano” dos operadores da justiça na esperança de ser inocentado. Fez uma menção rápida, de poucos segundos, aos presos e condenados pelo Oito de Janeiro, a quem chamou de pobres coitados, após tê-los chamado meses atrás de “bobos da corte”. Mas não fez qualquer menção ao projeto de lei do senador Hamilton Mourão (PL-RS) que propõe a anistia aos já condenados.

O ex-presidente voltou a repetir o pastiche retórico de fotografia para o mundo, como se “fotografias” mudassem as relações de poder. Foi a repetição do mesmo apelo usado em 7 de setembro de 2021, quando a “fotografia” foi tirada e serviu apenas para ilustrar a cartinha de pedidos de desculpas redigida por Michel Temer que ele, Bolsonaro, assinou dois dias depois.

Jair Bolsonaro também usou do mesmo argumento que os petistas usavam em passado recente quando afirmavam que a eventual prisão de Lula naquele momento teria o único propósito de retirar o líder petista da disputa eleitoral.

A radicalização terceirizada
Chamou a atenção de todos os analistas que o pastor Silas Malafaia tenha ficado com a tarefa de exercer o papel de bad cop do evento. Usando de sua inegável habilidade oratória, Silas Malafaia criticou duramente autoridades de outros poderes e inverteu a narrativa de um fato conhecido, ao afirmar que Michel Temer teria procurado o então presidente após o 7 de setembro de 2021, quando na verdade foi o oposto.

Silas Malafaia retomou também temas que foram tratado na extinta CPMI do Oito de Janeiro, cujo desfecho foi o oposto daquele que os bolsonaristas esperavam, conforme o Inteligência Analítica havia antecipado desde o início do ano passado.

Os possíveis desdobramentos da manifestação
Resta doravante saber se a manifestação deste domingo terá o condão de alterar as atuais relações de poder no país. Pois em tese, este deveria ser o objetivo de qualquer manifestação política. Em nossa avaliação, a manifestação em si não irá alterar em um milímetro o curso das ações em andamento por parte dos agentes detentores do poder.

Por uma razão muito simples: a impotência das manifestações de rua consolidou-se no decorrer do Governo Bolsonaro, quando estes atos cívicos de cobrança e pressão sobre os detentores de poder, com base em pautas bem definidas, foram transformados em micaretas patrioteiras de idolatria a político, sem pauta alguma e muitas vezes com tons de campanha eleitoral antecipada.

Portanto, passado o efeito midiático do evento, no que diz aos desdobramentos políticos da manifestação, entendemos que nada irá alterar o que já vinha acontecendo antes.

Acreditar ou difundir a ideia de que o rumo político do país será modificado como efeito de manifestações de rua é simplesmente se auto iludir ou iludir e enganar deliberadamente o eleitorado de direita para unicamente auferir benefícios eleitorais, como o bolsonarismo usualmente faz.

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