por paulo eneas
Durante visita ao Congresso Nacional nesta quinta-feira (18/05), o ex-presidente Jair Bolsonaro declarou seu apoio ao governo petista, ao afirmar que seu partido não irá fazer “oposição radical” ao atual governo. Disse também que as eleições de 2022 são “página virada” e que ele e o Partido Liberal pretendem colaborar com as iniciativas do atual governo.
Com sua fala, Jair Bolsonaro dá prosseguimento à declaração que havia feito tão logo retorno ao Brasil vindo dos Estados Unidos, para onde fugiu a dois dias do término de seu mandato abandonando a Presidência da República. Ao ser questionado por repórteres quando de seu retorno, Bolsonaro foi taxativo em dizer que não iria “liderar oposição alguma” ao governo petista.
As declarações do ex-presidente corroboram e sedimentam o que estamos afirmando há muito tempo: o bolsonarismo jamais será e nunca foi uma oposição efetiva ao petismo, pois ambos comungam da mesma agenda progressista e de esquerda. A diferença entre ambos reside somente na embalagem do produto vendido no mercado político eleitoral.
Bolsonarismo e petismo abraçam ambos a agenda identitária progressista da esquerda. Ambos defendem e implementam expansão do assistencialismo estatal. Nenhum deles de fato tem interesse em acabar com o fundão eleitoral, que beneficia a ambos. Bolsonarismo e petismo têm ambos o mesmo interesse em desmantelar mecanismos de combate à corrupção.
Nesse último quesito, basta lembrar que o então presidente Jair Bolsonaro usou do mesmíssimo argumento falacioso dos petistas para desacreditar o instrumento da delação premiada. E o fez justamente para justificar decisão judicial que abriu caminho para reabilitação política do petista Lula.
Tanto os bolsonaristas quanto os petistas tinham interesse no fim da Lava-Jato, e o então presidente Bolsonaro jactou-se de ter acabado com a operação. A ambos hoje interessa política a destruição política de Sérgio Moro e de Deltan Dallagnol, ainda que por razões distintas. Os petistas querem ver os dois ex-expoentes da Lava-Jato destruídos por uma questão de vingança.
Para os bolsonaristas, interessa a destruição de Sérgio Moro por que os bolsonaristas não admitem em hipótese alguma o surgimento de novas lideranças políticas não-petistas, ainda que sejam de centro e de viés progressista como no caso de Moro e Dallagnol, que possam lhe fazer sombra. Pois o bolsonarismo entende que ele detém por direito divino o monopólio da “oposição” ao petismo.
Bolsonarismo e petismo comungam da mesma visão geopolítica e de política externa. Não sem razão nunca vemos os parlamentares bolsonaristas fazendo alguma crítica relevante à diretriz de política externa do governo petista. Estes parlamentares no máximo se atêm a factoides secundários envolvendo alguma bobagem falada por Lula, para gerar engajamento em redes sociais.
A razão para esta postura é fácil de ser explicada: a atual política externa do governo petista, que inclui principalmente o alinhamento com o eixo russo-chinês e adesão à agenda ideológica dos globalistas ocidentais, é simplesmente a continuidade a mesma diretriz de diplomacia adotada pelo então presidente Jair Bolsonaro na segunda metade de seu mandato.
As semelhanças e afinidades entre bolsonaristas e petistas prosseguem em diversas outras áreas da vida pública, mostrando assim que ambos constituem-se nas lâminas opostas da nova estratégia das tesouras inaugurada por petismo versus bolsonarismo que substitui a antiga falsa polarização tucanos versus petistas que hegemonizou a vida política nacional por anos a fio.
O objetivo comum de petistas e bolsonaristas na próxima eleição municipal paulistana
O próximo passo relevante desta convergência de interesses e de agenda política e ideológica entre bolsonaristas e petistas será dado nas eleições municipais do ano que vem. Ambos os campos irão atuar para assegurar que o psolista Guilherme Boulos conquiste a prefeitura paulistana. Afinal, o compromisso do bolsonarismo e do petismo é fazer avançar a esquerda.
Para isto, bolsonaristas irão seguir as determinações dos chefes do Centrão, de Gilberto Kassab e de Michel Temer que, por intermédio de Tarcísio de Freitas, decidirão pelo apoio dos bolsonaristas à tentativa de reeleição do obscuro e inexpressivo Ricardo Nunes, atual prefeito paulistano, sabendo que suas chances de reeleição são mínimas. Desta forma, o caminho ficará livre para a possível vitória de Guilherme Boulos.
Para a viabilização deste plano, o bolsonarismo dará início em breve ao processo de “cancelamento” do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), nome que encontra boa receptividade entre segmentos do eleitorado paulistano de direita.
O bolsonarismo tentará vender o nome de Ricardo Nunes como sendo o nome da “direita” no pleito municipal paulistano, como fez nas eleições de 2020 com o também obscuro Celso Russomano para, desta forma, garantir naquela eleição a vitória do tucano Bruno Covas, de quem Ricardo Nunes era o vice.
Nesse cenário de disputa na mais importante cidade do País, a autêntica direita poderá vir a apresentar-se com um candidato próprio, que seguramente sofrerá ataques duros vindos principalmente da parte do bolsonarismo, mais do que do próprio campo do petismo-psolismo.
O nome que hoje possui a projeção e legitimidade para apresentar-se como alternativa de direita na eleição municipal paulistana ante a falsa polarização petismo versus bolsonarismo é do ex-ministro Abraham Weintraub.
Vídeo com trecho da entrevista em que Bolsonaro declara intenção de colaborar com o governo petista.