por paulo eneas
Vários comentaristas supostamente do campo da direita estão elaborando teorias e explicações mirabolantes sobre artigo de opinião assinado por Jair Bolsonaro publicado esta semana na Folha de São Paulo. Se a direita brasileira não fosse tão alheia à forma como a indústria da imprensa funciona, que não é exatamente segundo uma visão de mundo conspiracionista, a discussão seria de outro tipo.

Pois o que está repercutindo não é exatamente o conteúdo do texto publicado, mas sim o fato de Jair Bolsonaro ter publicado um texto assinado no jornal Folha de São Paulo. Parece que grande parte destes comentaristas tem uma enorme dificuldade em entender que todo veículo profissional de imprensa possui em geral três segmentos distintos:

a) O segmento de notícias em si, gerais ou especializadas. É o segmento que se ocupa dos fatos noticiosos, de repercussão e impacto na opinião pública. Ao menos em teoria, esse segmento não reflete, ou não deveria refletir, opiniões e preferências, mas somente a preocupação com os fatos em si e sua veracidade.

b) O segmento de opinião, que explicita a linha editorial do veículo. No editorial, o dono ou editor chefe deixa claro ao público sua opinião ou posicionamento formal do veículo sobre determinados tema ou figuras públicas, incluindo políticos, e até mesmo a preferência do veículo em relação a candidatos numa disputa eleitoral.

c) Por fim, alguns veículos de imprensa de maior porte, como a Folha de São Paulo, Estadão e outros, possuem uma terceira seção onde autores ou colunistas convidados, sem vínculo com a redação do jornal, expressam sua opinião sobre um dado tema. Não se trata de notícia nem de posição editorial do jornal sobre o assunto, mas sim a opinião do colunista convidado.

No caso da Folha de São Paulo, o artigo de Jair Bolsonaro foi publicado na seção Tendências e Debates, que existe há décadas e que, como o nome sugere, expõe opiniões de terceiros sobre os mais diversos temas.

Nesta seção, muitas vezes dois autores expressam opiniões diametralmente opostas sobre um dado assunto. Nenhuma delas representa necessariamente a posição editorial do jornal sobre o tema. No rodapé da seção há um disclaimer afirmando que as opiniões expressas na coluna são dos autores ou colunistas convidados, e não são endossadas pela direção de jornalismo do jornal.

A fronteira nebulosa entre notícia e opinião
O que foi afirmado assim é a definição de “livro texto” do jornalismo profissional. Ocorre que em anos recentes a fronteira entre notícia factual e opinião tornou-se nebulosa, por conta da radicalização ideológica que tomou conta do Ocidente.

Por conta disso, a própria divulgação de fatos noticiosos passou a ser acompanhada da opinião do jornalista e a preocupação com veracidade do fato cedeu lugar à construção de narrativas em torno do fato que estejam em linha com o viés ideológico do jornalista.

Óbvio que o viés político ideológico sempre existiu na imprensa, principalmente na seleção e definição do approach a ser adotado na divulgação de notícias. Historicamente esse viés existiu como nuance. Mas em anos recentes esse viés deixou de ser nuance para se tornar a tônica, a tônica ideologicamente motivada, o que explica a perda de credibilidade da maioria dos veículos.

E não estou falando de perda de credibilidade por conta do viés apenas dos veículos tradicionais. A panfletização da imprensa tornou-se comum em quase todos os veículos, inclusive naqueles que restaram da chamada “imprensa de direita”.

Observa-se isso na quase totalidade desses veículos que tornaram-se militância de redação chapa-branca do bolsonarismo. Por exemplo, em nenhum deles é informado que as pessoas presas pelo 8 de Janeiro estão sendo condenadas pela Lei 14197, originária de projeto de lei do petista Hélio Bicudo e que foi aprovada no Congresso Nacional em 2021 a mando de Jair Bolsonaro e por ele sancionada.

Assim como não é informada a nomeação por Jair Bolsonaro do criador do programa petista Mais Médicos, Dr. Jarbas Barbosa, para representar o Brasil na OPAS, uma espécie de OMS latino-americana controlada por Havana, a pedido do senador petista Humberto Costa.

Da mesma forma, a imprensa chapa-branca bolsonarista omite e não apura o tipo de negociação que foi feita com a Rússia durante o Governo Bolsonaro, envolvendo interesses sobre o malfadado submarino nuclear brasileiro, supostamente em troca do apoio do Brasil à Rússia quando da invasão russa da Ucrânia.

Enfim, a coluna de opinião de Jair Bolsonaro na Folha de São Paulo é o que menos importa, pois é uma prática usual do jornalismo profissional. A imprensa e os influenciadores supostamente de direita fariam um trabalho muito mais relevante se fossem destrinchar a realidade do que foram os quatro anos de governo de Bolsonaro.

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