por paulo eneas
O antissemitismo na esfera política não é um fenômeno exclusivo no campo da esquerda. Como ocorre em grande parte da Europa, parcela expressiva do espectro político da direita não faz questão alguma de esconder seu antissemitismo, às vezes explícito, como na Alemanha dos anos trinta do século passado, às vezes dissimulado, como em período mais recente.
Na França, durante anos, o principal partido de direita, a Frente Nacional do velho Jean-Marie Le Pen não escondia seu antissemitismo e seu viés russófono. Não por coincidência, a Rússia historicamente é a pátria do antissemitismo, onde nasceram os pogroms.
No Brasil, a história da direita política está permeada de exemplos explícitos de antissemitismo, como o foi o caso dos camisas verdes do integralismo no início do século passado. No período mais recente, o antissemitismo na direita ganhou roupa nova com a interpretação simplista, simplificadora e grosseira de noções complexas como o globalismo.
Por conta dessa ignorância conceitual, o direitista brasileiro antissemita entende que “combater o globalismo” equivale a ser hostil a Israel, hostil aos judeus, ao sistema financeiro, ironicamente uma criação dos Cruzados, e hostil à economia de mercado.
Dessa forma, a plataforma política mental desse direitista ignorante se assemelha quase por completo a do PSOL, PCO, PT ou de qualquer outro partido de esquerda.
A este direitista ignorante falta apenas cerrar fileiras com os revolucionários e marcharem juntos em direção à borda da terra plana para combater a “opressão globalista”.
Outra fonte que alimenta o antissemitismo na direita brasileira é de natureza pseudo-religiosa: existe uma abordagem, baseada exclusivamente na ignorância histórica, de que o Estado de Israel não merece ser defendido por não corresponder ao antigo Israel bíblico.
Ocorre que desde a sua fundação em 1948, nenhuma liderança política ou religiosa israelense reivindicou ou reivindica para o moderno Estado de Israel o status de equivalência com o Israel bíblico.
Observe-se ainda que há uma “linha de coerência” entre as figuras da direita que procuram relativizar as atrocidades cometidas pelo grupo terrorista Hamas e aquelas que acham aceitável e correto que o ditador Vladimir Putin decida invadir a Ucrânia e enviar mercenários do Wagner Group para cometer atrocidades contra civis ucranianos idênticas àquelas praticadas pelo Hamas.
Tanto num caso como no outro, uma parcela ignorante da direita brasileira acredita que se trata de um “combate ao globalismo”. Globalismo esse que na cabeça dessas pessoas, cuja caixa craniana é preenchida por vácuo, seria uma criação dos judeus. E no caso ucraniano, legitimam a ação de invasão russa por meio do endosso à justificativa dada pelo ditador Vladimir Putin de que estaria “caçando gays” na Ucrânia.
Essa conduta obscurantista, intolerante, irracional, autoritária, vocacionada a ditadores, de parcela da direita nacional é uma mancha que precisa ser removida. Pois essa conduta revela aquilo que pode haver de pior num indivíduo: a indiferença diante de qualquer injustiça e atrocidades cometidas contra outros seres humanos.
E quando a indiferença diante de atrocidades e injustiças prevalece, alimentada por viés ideológico, o indivíduo perde toda a sua humanidade.