por leandro gouveia
Em meio a contra ofensiva empreendida há alguma semanas pelas forças ucranianas, usina hidrelétrica de Karkhovskaya teve sua barragem destruída na semana passada, ao que tudo indica por implosão pelas forças russas.

A barragem está em território ocupado pelos russos e não ha indícios de bombardeio. Além disso, seria muito difícil implodir uma estrutura como aquela com um bombardeio, pois seriam necessárias toneladas de explosivos posicionados nos locais certos dentro da barragem em uma operação que demandaria muito tempo.

Tal operação não poderia ter sido feita pelos ucranianos sem confronto direto com as forças russas que ocupavam a hidrelétrica, pois além de grande movimentação de material, implicaria em confrontos que ocorreram.

As consequências da implosão da barragem são catastróficas do ponto de vista humanitário. Inúmeras cidades foram alagadas, pessoas perderam suas casas e tudo que tinham, sem ter havido nem mesmo tempo de se salvarem ou salvarem seus semelhantes e seus animais.

Plantações foram destruídas e a água inundou cemitérios e e usinas de tratamento de esgoto e água para consumo, o que aumenta enormemente o risco de doenças infecciosas na população. Trata-se de um evento de prejuízos incalculáveis que levarão anos ou até décadas para ser reparado.

A baixa no nível do reservatório da usina hidrelétrica afeta o resfriamento dos reatores nucleares da maior usina nuclear da Europa, a usina de Zaporizhzhia em Energodar, ainda sob controle dos russos. O fato é que a destruição da barragem afetou a guerra em si.

Pois a mudança no terreno causada pela inundaçãoo de uns pontos e estreitamento do rio Dinipro em outros pontos muda repentinamente os planos que as forças ucranianas vinham preparando há meses para uma ofensiva. É como se você tivesse montando um quebra cabeças e alguém viesse repentinamente e bagunçasse todas as peças.

Mas os prejuízos militares não foram apenas do lado ucraniano. Muitas posições defensivas russas ao longo do Dinipro foram afetadas. Soldados russos tiveram que sair de suas posições às pressas e muito material bélico se perdeu.

No meio de todo esse caos em uma das batalhas da contraofensiva ucraniana na região de Zaporizhzhia, as forças ucranianas sofreram uma das maiores perdas desde o inicio da guerra. Foram treze blindados de transporte de tropa Bradlay, fornecidos pelos Estados Unidos, e mais três tanques Leopard fornecidos por outros países. Não se sabe o número de baixas de soldados nessa batalha, mas os números que circulam são altos. As perdas de material bélico foram confirmadas pelo lado ucraniano.

A baixa da água do reservatório da usina estreitou as margens na parte de cima do rio na região de Zaporizhzhia, o que trouxe uma desvantagem para os russos, pois facilitaria uma contraofensiva na região que é muito importante para os russos, que mantêm o controle da região e da usina nuclear de Zaporizhzhia.

Além disso, a Rússia decidiu descartar as tropas mercenárias do Wagner Group, que vinha acumulando muito poder, e encerrou os contratos com o grupo, obrigando todos os soldados que forem lutar pela Russia a assinarem um contrato com Exército regular da Rússia a partir de 1° de julho.

Especula-se que os russos tenham implodido a barragem, mas que os danos foram maiores do que eles esperavam, pois a explosão causou danos também às forças russas, além de afligirem os ucranianos. Pois esta represa também era responsável pelo abastecimento de água da Crimeia, ocupada pela Rússia desde 2014. Esse abastecimento era feito por um aqueduto que sai exatamente da barragem implodida.

De fato a implosão da barragem mudou o terreno, mexendo com os planos de ambos os países. Especula-se que em quinze dias a água vai baixar nas cidades afetadas. De qualquer forma é mais um provável crime de guerra cometido pela Rússia. A pergunta é: será que sairão impunes? (Edição de texto de Paulo Eneas)

Leandro Gouveia é ex-sargento do Exército Brasileiro, escritor e estudioso da origem do pensamento militar brasileiro.

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