A estratégia de negação poderá beneficiar o ex-presidente e ajudá-lo a livrar-se das acusações, mas poderá incriminar ainda mais seus apoiadores que nele confiaram e acabaram sendo presos. Bolsonaro age com a covardia própria do anti-líder.


por paulo eneas
A estratégia adotada pela defesa de Jair Bolsonaro nas investigações sobre seus questionamentos às urnas eletrônicas consistirá na negação de tudo o que o ex-presidente afirmou sobre o sistema eletrônico de votação.

Em depoimento prestado nesta quarta-feira (26/04) na Polícia Federal, o ex-presidente alegou que publicou “por engano” um vídeo em suas redes sociais no dia 10/01 desse ano que fazia questionamentos ao sistema de votação eletrônica.

A defesa informou que o ex-presidente estaria sob efeito de medicamentos quando do compartilhamento do vídeo, que foi logo em seguida apagado. Esta estratégia de negação adotada pela defesa poderá talvez surtir efeito positivo para o ex-presidente, que irá negar tudo o que afirmou sobre as urnas eletrônicas ao longo desses anos.

Esta estratégia atende também a um segmento do establishment político, que tem interesse em manter Bolsonaro sob rédea curta e sob controle, para que ele continue atuando como buffer de proteção ao sistema político e desta forma impedindo a formação de uma autêntica direita política brasileira, agindo assim como linha auxiliar da esquerda.

Jair Bolsonaro já provou durante seu mandado presidencial ser totalmente aquiescente a este controle, como ficou evidenciado na “Carta de Michel Temer” após as manifestações do 7 de setembro de 2021 e nas declarações dadas em seguida pelo ex-presidente declarando a lisura e sua confiança no sistema de votação eletrônico.

No entanto, esta estratégia poderá reforçar a incriminação de seus apoiadores que foram presos, mesmo aqueles que não tiveram envolvimento direto com as invasões dos prédios públicos no fatídico 8 de janeiro, mas que foram para a frente dos quartéis confiando em Jair Bolsonaro e no chamado feito pelos seus agentes influenciadores em redes sociais.

Para aqueles seus apoiadores que foram iludidos e que agora estão amargando uma prisão e o risco de condenação a anos de detenção, mesmo não tendo participado materialmente dos atos de invasão e de depredação, Jair Bolsonaro já demonstrou não ter a mínima preocupação ou comiseração. A estratégia de Bolsonaro, na verdade, espelha a covardia do autêntico anti-líder.


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