Sob orientação e endosso de Jair Bolsonaro, a base bolsonarista no Congresso Nacional mais uma vez se articula para garantir a aprovação de medidas essenciais para o governo petista, tal como ocorreu com a votação do arcabouço fiscal e na sobrevida dada ao projeto de lei das fakes news.
por paulo eneas
Senadores aliados de Jair Bolsonaro e supostamente da oposição ao governo petista pretendem votar em favor do nome do advogado Cristiano Zanin, indicado pelo petista Lula para a vaga em aberto no Supremo Tribunal Federal. O Partido Liberal, de Jair Bolsonaro, já liberou formalmente sua bancada no Senado para votar em favor do indicado petista.
O apoio da “oposição” ao indicado de Lula faria parte de uma suposta estratégia para normalizar as relações entre o Judiciário e o Legislativo, segundo tem sido brifado para e reproduzido pela grande imprensa. Obviamente esse briefing esconde a verdade detrás desta decisão.
O apoio bolsonarista a mais uma necessidade importante do Governo Lula faz parte da decisão tomada e anunciada por Jair Bolsonaro, quando de sua volta dos Estados Unidos após ter fugido do Brasil em seu final de mandado, de não se opor ao governo petista. “Não irei liderar oposição alguma”, afirmou o ex-presidente na oportunidade.
A partir desta sinalização e antes mesmo dela, a base parlamentar bolsonarista, em que pese a retórica inflamada de indignação de alguns de seus membros, retórica esta que é somente afetação para ludibriar o eleitorado de direita, tem agido para assegurar a aprovação de matérias críticas que interessam ao governo petista:
- A base bolsonarista votou ainda no ano passado favoravelmente à mudança na Lei das Estatais para permitir que Aluízio Mercadante pudesse assumir a presidência do BNDES.
- O novo arcabouço fiscal do ministro Fernando Haddad foi aprovado com quórum bastante superior ao exigido para uma emenda constitucional, o que somente foi possível com votos da “oposição” anti-liderada por Jair Bolsonaro.
- O PL2630 das Fake News poderia ter sido derrotada há algumas semanas em plenário, mas graças ao empenho e aquiescência da base bolsonarista, o governo petista ganhou mais tempo para negociar a aprovação do projeto.
- O próprio Jair Bolsonaro deu declaração afirmando uma obviedade: que a indicação de membros da suprema corte é prerrogativa do Presidente da República, sinalizando assim a seus anti-liderados para não se oporem à indicação.
Atuais ministros do Supremo Tribunal Federal indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro também estão atuando em favor do nome de Cristiano Zanin, que contaria também com voto de Rogério Marinho (PL-RN), que disputou e perdeu a eleição para a presidência do Senado com Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Para ser aprovado na sabatina a que será submetido no Senado, uma exigência constitucional que na prática reduziu-se em anos recentes a uma formalidade protocolar, Cristiano Zanin necessita do voto favorável de 41 senadores. Com o apoio e empenho da bancada bolsonarista em seu favor, é pouco provável que o indicado do petista Lula encontre dificuldades para a aprovação de seu nome.