por paulo eneas
O ex-presidente Jair Bolsonaro participou de um vídeo com a youtuber bolsonarista Bárbara “TeAtualizei” neste final de semana onde trouxe a nova versão do “tic-tic”, desta vez estendido para os próximos anos até 2026.
O termo “tic-tac” foi uma expressão cunhado por Filipe Martins, que era assessor do ex-presidente, para sugerir que estava “chegando a hora” de algo grandioso acontecer no cenário político em questão de horas, durante o governo do então presidente.
Óbvio que nada de grandioso nunca aconteceu. O uso daquela expressão foi apenas mais um item do leque de estratégias de manipulação de massas que o bolsonarismo sempre empregou.
Divulgado por parte da imprensa como sendo uma “entrevista”, a participação do ex-presidente no vídeo da youtuber que faz parte da rede bolsonarista que atua na internet foi uma revival das lives de seu mandato acrescida da nova versão do tic-tac.
Ficou claro pelo fraseado enigmático do ex-presidente, que parece ter sido ensaiado previamente, que o objetivo do vídeo foi mobilizar os apoiadores bolsonaristas num momento em que há uma enxurrada de notícias negativas para Jair Bolsonaro, como o caso das joias, o pedido de quebra de seu sigilo fiscal e bancário, e a migração já esperada dos partidos do Centrão para a base do governo petista.
Jair Bolsonaro utilizou do mesmo expediente que ele próprio e toda a rede bolsonarista empregaram ao longo de seu mandato, e principalmente após o segundo turno das eleições do ano passado: lançar frases enigmáticas para gerar expectativas na base, levando-a a acreditar que alguma coisa extraordinária está prestes a acontecer e que irá mudar os rumos políticos do país.
Cortando a bola erguida pela youtuber que o estava “entrevistando”, Bolsonaro afirmou que “algo vai acontecer até 2026”. A afirmação é vaga o bastante para não comprometer o ex-presidente com nada e ao mesmo tempo manter a base “pilhada” na expectativa do que possa vir a ocorrer. Trata-se de um truque já conhecido das velhas estratégias de manipulação de massas.
Óbvio que muitas coisas poderão ocorrer até 2026, inclusive a prisão do ex-presidente, considerada apenas como uma questão de tempo segundo nossas fontes.
Mas é justamente essa vagueza, imprecisão, ausência de compromissos explícitos com fatos concretos, que caracteriza o modus operandi que o bolsonarismo adota para manter sob rédea curta aquelas pessoas ingênuas e de boa fé que ainda acreditam haver alguma sinceridade nas palavras do capitão.
Redução de danos
A “entrevista” para a youtuber bolsonarista foi uma operação de redução de danos voltada para o público interno. Nesse caso, a redução de danos significa reacender a chama da ilusão em que os bolsonaristas vivem em relação ao que esperar de seu anti-líder.
Possivelmente a operação terá algum êxito, pois já foi testada antes e produziu resultados. Os danos para imagem de Bolsonaro possivelmente serão reduzidos junto a seu público interno, realimentado com uma nova retórica semeadora de ilusões. Os danos na verdade mudarão de lado: irão recair novamente sobre os iludidos.