por paulo eneas
A encenação teatral promovida na semana passada por Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas em torno da reforma tributária petista chegou ao final tendo cumprido seu objetivo: garantir a aprovação da reforma tributária petista com ajuda do Centrão e ao mesmo tempo repaginar a imagem de Jair Bolsonaro junto à sua base.
O falso embate entre Bolsonaro e Tarcísio centralizou a atenção da base bolsonarista por conta do embate em si, e não em torno de qualquer ponto concreto relevante da proposta de reforma.
Enquanto o teatro interno do bolsonarismo era encenado, governo petista pôde facilmente negociar com o Centrão os votos necessários para aprovar a reforma, sem que houvesse qualquer tipo de pressão social contra a medida.
O resultado foi alcançado: a reforma tributária foi aprovada na Câmara dos Deputados com quase cem votos dados pelo Centrão. Muitos ou quase todos esses quase cem votos vieram de parlamentares eleitos ou reeleitos no ano passado com apoio de Jair Bolsonaro.
Além de ter sido útil ao PT, o falso embate entre Bolsonaro e Tarcísio serviu também para fazer um boost na imagem interna de Bolsonaro junto à sua base de apoiadores. A encenação permitiu a Bolsonaro posar como sendo de “direita” junto à sua base em relação a seu pupilo político, Tarcísio de Freitas.
O palco deste teatro das tesouras interno do bolsonarismo dentro do teatro das tesouras do bolsonarismo x petismo foi desfeito logo após ter cumprido sua missão: no último final de semana, Tarcísio e Bolsonaro conversaram e brifaram uma versão engolível para a grande imprensa dizendo terem “feito as pazes”.
“Voltamos ao que éramos antes. Tudo cem por cento, conversa positiva”, afirmou Bolsonaro a uma emissora de televisão. A quase totalidade dos apoiadores de Jair Bolsonaro, que também são apoiadores de Tarcísio de Freitas, vai se dar por satisfeita com esse desfecho da peça teatral encenada por ambos.
A rigor, poucos (se é que tantos assim) bolsonaristas saberiam dizer qual era a substância concreta da suposta divergência entre Bolsonaro e Tarcísio em torno da reforma tributária. Nenhum deles se preocupou em externa-la. But, who cares? Pois afinal isso pouco importa para essa base. A última coisa com que bolsonarista se preocupa é com o conteúdo das propostas políticas e das políticas públicas.
Pois o bolsonarismo transformou a política num espetáculo midiático permanente, onde o que menos importa são as pautas e a abordagem dos problemas concretos do país. Importa unicamente reforçar e entreter-se na idolatria ao Mito e na repetição incessante dos slogans, chavões e frase feitas que consolidaram essa idolatria.
Esse processo de manipulação de massas criado pelo bolsonarismo é tão eficiente que as pessoas nem mesmo param para pensar por meio segundo sequer quando estão diante de um ardil narrativo como este mais recente teatro das tesouras interno vivido pelo bolsonarismo nesses dias.
Outras encenações como esta virão no futuro e passarão a ser rotina no interior do bolsonarismo. E estas encenações tenderão a ser mola motriz da mobilização da base bolsonarista enquanto o bolsonarismo seguirá firme assegurando a governabilidade do Governo Lula, como vem fazendo desde o início do ano.
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