Trazemos aqui os resultados completos e a análise política de uma eleição que consolidou a força do Centrão, expôs as fragilidades dos petistas e jogou o bolsonarismo na lona, além de exibir o rechaço de cerca de um terço do eleitorado nacional a todos os políticos e todos os partidos.
por paulo eneas
O segundo turno das eleições municipais deste ano exibiu dois resultados significativos:
Em primeiro lugar registrou-se um índice elevado de abstenções e de votos nulos e brancos, evidenciando um rechaço de cerca de um terço do eleitorado nacional a todos os políticos e partidos em disputa. Em algumas cidades como São Paulo (SP), o número de abstenções e votos nulos e brancos foi superior ao número de votos do segundo colocado na disputa.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o segundo das eleições municipais deste ano registrou 29.26% de abstenções do eleitorado, número superior à abstenção registrada no primeiro turno, que foi de 21.71% dos eleitores aptos a votar.
A maior taxa de abstenção foi registrada em Goiás, onde 34.43% dos eleitores não foram votar. A menor taxa foi registrada no Ceará, onde 16.28% dos eleitores não compareceram às urnas.
A cidade de São Paulo registrou a maior taxa de abstenção da história do segundo turno das eleições. Cerca de 31.4% dos eleitores paulistanos não compareceram às urnas. Este percentual corresponde a quase 3 milhões de pessoas, número maior do que o número de votos recebidos pelo candidato derrotado Guilherme Boulos (PSOL).
Os resultados políticos
Em segundo lugar, em termos políticos, o grande vencedor foi o Centrão, especialmente nas figuras de Gilberto Kassab (PSD) e de Valdemar da Costa Neto (PL). São esses caciques partidários do centro que, juntamente com Michel Temer e outras figuras, definirão o rumo da sucessão presidencial de 2026. O PSD elegeu o maior número de prefeituras do país, seguido pelo PL e pelo MDB.
O PT de Lula e a esquerda em geral sofreram derrotas expressivas, embora os petistas tenham conquistado um número maior de prefeituras (252 no total) em relação ao pleito de 2020, quando conquistaram apenas 183 prefeituras e nenhuma capital.
O grande derrotado sem dúvida foi Jair Bolsonaro, cujos candidatos apoiados pelo ex-presidente perderam em 7 das 15 capitais em disputa no segundo turno. As derrotas mais expressivas nas capitais foram Palmas (TO), Manaus (AM), Goiânia (GO), João Pessoa (PB), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG) e Belém (PA).
Dentre os bolsonaristas derrotados nas capitais destacam-se André Fernandes (Fortaleza), Marcelo Queiroga (João Pessoa), Fred Rodrigues (Goiânia), Bruno Engler (Belo Horizonte), Cristina Graeml (Curitiba) e Eder Mauro (Belém). Deve-se incluir também nesta conta a derrota do bolsonarista Carlos Jordi em Niterói (RJ).
Em Aracajú (SE), Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP), os candidatos vitoriosos foram do Centrão, apoiados nominalmente, ainda que com vacilo e dissimulação, por Jair Bolsonaro. Mas a esquizofrenia bolsonarista atribui tais vitórias à direita como forma de continuar manipulando o imaginário do eleitor de direita.
O único ponto fora da curva de derrotas do bolsonarismo foi a vitória da figura patética de Abílio Brunini em Cuiabá (MT), candidato bolsonarista que durante a campanha apresentou uma solução higienista para o problema dos moradores de rua da capital mato-grossense: coloca-los em ônibus de volta para suas cidades.
O resultado em na capital paulista
Na capital paulista, o vencedor foi o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que obteve cerca de 59% dos votos contra o candidato Guilherme Boulos (PSOL). A derrota do candidato psolista derruba a tese mentirosa de Jair Bolsonaro e dos bolsonaristas que justificaram o boicote a uma candidatura genuinamente de direita em favor de um nome da centro-esquerda, Ricardo Nunes, pois davam a vitória de Guilherme Boulos como praticamente certeira.
A vitória de Ricardo Nunes na capital paulista representou uma vitória política do governador Tarcísio de Freitas e mais uma vitória na coleção de vitórias do PSD de Gilberto Kassab e do Centrão em todo o país. Prova disso é que Ricardo Nunes sequer mencionou o nome de Jair Bolsonaro em seu discurso de vitória, uma vez que o ex-presidente foi, como é característica sua, dissimulado e vacilante em apoiar o candidato que ele próprio enfiou goela abaixo do eleitorado de direita paulistano.
Nenhum candidato de direita foi eleito pois não houve candidatos
A imbecilidade política e o cinismo dos bolsonaristas têm levado muitos a descrever o resultado dessas eleições municipais como sendo uma “vitória” da direita. Essa narrativa é delirante e fantasiosa, pois os dados da realidade mostram que nenhum candidato propriamente de direita venceu em nenhuma cidade importante do país. Não venceu por que simplesmente não havia candidatos genuinamente de direita em disputa.
Analisando as derrotas da esquerda petista e seus aliados chegaremos à conclusão que os petistas perderam não para a direita, como estão afirmando os bolsonaristas nefelibatas, mas para o Centrão. O centro foi o grande vencedor dessas eleições, seguido dos nulos/brancos/abstenções. O centro enfraqueceu a esquerda e sepultou de vez o que restava de resquícios da direita, com ajuda de Jair Bolsonaro e suas estratégias derrotistas.
Nesse sentido, Jair Bolsonaro cumpriu sua missão de liquidar com a ex-direita que nascia e substituí-la pelo Centrão junto ao imaginário do eleitorado. Uma vez cumprida a missão, Jair Bolsonaro se tornará agora descartável e muito em breve estará fora da cena política, assim como já está fora da cena política a direita que ele ajudou a sepultar. Colaboração Angelica Ca.
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