por paulo eneas
Os argentinos foram às urnas nesse domingo (23/10) para o primeiro turno das eleições presidenciais daquele país. Contrariando as avaliações mirabolantes e fantasiosas alimentadas por influenciadores bolsonaristas brasileiros, o candidato populista Javier Milei não venceu no primeiro turno conforme erroneamente antecipavam.

Ao contrário, o populista Milei ficou em segundo lugar, com 30% dos votos válidos, atrás do primeiro lugar, vencido pelo candidato governista peronista Sergio Massa, que ficou com 36% dos votos. Em terceiro ficou a candidata de centro, e que tinha a melhor plataforma econômica, Patricia Bullrich, que recebeu 23% dos votos válidos.

O segundo turno será disputado em novembro entre Javier Milei e Sergio Massa, e o eleitorado de centro será o fiel da balança para decidir o vencedor.

Os argentinos estarão no segundo turno diante de duas escolhas igualmente ruins: ou prosseguir com o fracassado governo peronista de esquerda, chefiado por Alberto Fernández, de quem Sergio Massa é ministro da economia, ou dar uma carta branca para o populista Javier Milei.

O populista Milei, um autêntico cosplay portenho de Jair Bolsonaro, que a direita argentina adotou para si como “seu” candidato, cuja estratégia de comunicação política é uma cópia ipsis litteris do bolsonarismo, vem com uma plataforma econômica que é uma caixa de surpresas imprevisíveis.

Como vem ocorrendo há décadas na decadente e cada vez mais empobrecida sociedade argentina, a pauta econômica monopolizou o debate político.

O candidato peronista acena com medidas que misturam iniciativas liberais com ambições da socialdemocracia, principalmente ao falar em papel do Estado como agente de desenvolvimento para inclusão, repetindo a mesma fórmula já adotada no Brasil em governos petista anteriores e que se mostrou insustentável.

Por sua vez, Milei faz promessas para as quais não deu nenhuma indicação de como irá implementar. A mais emblemática delas é a proposta de dolarização da economia argentina, que nada mais é que a repetição da mesma fórmula adotada nos anos noventa pelo presidente peronista e igualmente populista Carlos Menem.

Quando um país dolariza sua economia, ele abre mão de emitir moeda própria, pois afinal somente os Estados Unidos podem emitir dólares, já que são os donos e “fiadores” da moeda. Além de abrir mão da sua moeda, o país também abre mão de instrumentos de gestão econômica, como política monetária e outros.

A dolarização exige certas condições prévias principalmente na área fiscal, que estão longe de serem atendidas pela Argentina. A experiência fracassada de dolarização da era Menem deveria ter deixado lições. Um aspecto positivo do programa de Milei é a intenção de promover diminuição do Estado e a remoção dos controles cambiais.

A oportunidade perdida com a terceira via
Diferentemente do Brasil, onde a polarização petismo-bolsonarismo hegemonizou a quase totalidade do eleitorado, na Argentina a polarização correspondente do kirchnerismo-mileismo, ambos herdeiros do peronismo, não foi absoluta.

Cerca de um quarto dos eleitores escolheram a terceira via de centro representada pela candidatura de Patricia Bullrich, que ficou em terceiro lugar com 23% dos votos, algo que seria impensável no Brasil nas eleições do ano passado.

O program econômico de Bullrich é o mais abrangente, sem ser disruptivo, e traz propostas que contemplam diversas áreas da economia. A proposta fala em restabelecer a solvência fiscal do Estado argentino, revisão dos incentivos estatais, fim dos controles cambiais, com rechaço à ideia de dolarização, além da autonomia do Banco Central.

O fato de Patricia Bullrich ter obtido um quarto dos votos válidos, rompendo uma polarização que na verdade é interna ao peronismo, sinaliza um ambiente político de médio prazo para a Argentina mais promissor do que o do Brasil.

Esse ambiente político argentino de médio prazo poderá contar com uma alternativa de direita ou centro-direita fora da esfera de influência do peronismo, o flagelo político que há décadas é o principal responsável pela estagnação do país, seja ele nas suas versões de esquerda ou de direita.


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