por angelica ca
O candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, mentiu descaradamente durante seu discurso de encerramento da Convenção Nacional Republicana, na última quinta-feira (18/07) ao acusar o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, de supostamente enviar os piores criminosos salvadorenhos para os Estados Unidos.
Em seu discurso, Donald Trump reconheceu que Nayib Bukele está travando uma guerra contra organizações criminosas de El Salvador e está sendo bem-sucedido, pois os assassinatos naquele país caíram em cerca 70% durante seu governo.
Mas logo em seguida, Trump engata uma mentira das mais estapafúrdias, ao afirmar que o sucesso de Nayib Bukele ocorre por que o presidente salvadorenho estaria enviando prisioneiros para o território dos Estados Unidos.
Donald Trump não exibiu nenhuma prova ou documento oficial dos órgãos de segurança de fronteiras dos Estados Unidos para corroborar sua acusação. Nem teria como exibir, pois se trata de uma mentira pura e simples.
Em seguida Trump afirmou que os Estados Unidos se tornaram uma “lixeira” de criminosos do resto do mundo, uma vez que segundo ele “de todos os cantos da Terra” chegam ao país norte-americano imigrantes ilegais provenientes de “prisões, cadeias, instituições psiquiátricas e asilos” em quantidades “nunca vistas antes”.
Em uma fala desconexa que pouco se distingue das confusões verbais decorrentes da senilidade de Joe Biden, Donald Trump ainda deslegitimou as medidas de segurança de El Salvador e acusou o governo de Nayib Bukele de “subestimar a nação norte-americana”, sem dar qualquer pista do que seria essa subestimação.
A certa altura do discurso, Donald Trump acusou o governo salvadorenho considerar que “para El Salvador, o mais importante são as suas prisões”. Por um acaso esperaria Donald Trump que o mais importante para o governo de El Salvador fosse a segurança e o bem-estar dos norte-americanos?
As afirmações de Donald Trump são inverídicas e foram desmentidas com dados de fontes independentes, muitas delas críticas ao governo de El Salvador. Segundo dados oficiais publicados em janeiro de 2024 pela Polícia Nacional de El Salvador, em 2023, o país registrou uma queda de 70% nos homicídios em comparação com 2022.
Ainda de acordo com o governo salvadorenho, em 2023 o país teve o menor número de homicídios da história, quando foram registrados 154 homicídios, uma taxa de 2.4 por 100 mil habitantes. No ano anterior foram registrados 495 homicídios, ou 7.8 por cada 100 mil habitantes.
Dados oficiais mostram uma queda vertiginosa na taxa de homicídios, que passou de 106.3 por 100 mil habitantes em 2015 para 2.4 no ano passado. Em 1994, El Salvador relatou 134.78 homicídios por cada 100.000 habitantes, segundo dados das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
Tanto o governo salvadorenho quanto organizações internacionais independentes reconhecem o empenho do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, em reprimir violentamente as organizações criminosas. Nenhuma entidade internacional independente, incluindo aquelas que são críticas à política de Bukele de combate à criminalidade, aponta alguma evidência de envio de prisioneiros criminosos para os Estados Unidos.
El Salvador está em estado de emergência desde março de 2022 por conta da violência das organizações criminosas e dos elevados índices de criminalidade. Em julho deste ano, a Assembleia Legislativa de El Salvador, o parlamento do país, votou pela extensão do estado de emergência.
O estado de emergência suspende “uma série de direitos constitucionais, incluindo os direitos à liberdade de associação e reunião, à privacidade nas comunicações e a ser informado do motivo da prisão, bem como a exigência de que qualquer pessoa seja levada perante um juiz dentro de 72 horas”, de acordo com relatório da Human Rights Watch.
O estado de emergência levou vários grupos internacionais de direitos humanos bem como governos estrangeiros, incluindo os Estados Unidos, a condenar supostos abusos de direitos humanos em El Salvador, como assassinatos arbitrários, desaparecimentos forçados e tortura.
Havendo ou não fundamento nessas acusações, nenhuma dessas entidades citadas, todas elas ideologicamente hostis a Nayib Bukele, acusou o governo salvadorenho de “enviar criminosos para o território dos Estados Unidos”, como acusou levianamente Donald Trump.
Donald Trump agiu de modo panfletário e leviano ao afirmar que Bukele “está enviando todos os seus criminosos, seus traficantes de drogas, todos eles para os Estados Unidos”. A mentira de Donald Trump é desmascarada pelo fato de a população carcerária de El Salvador ter aumentado significativamente nos últimos anos, de acordo com o InSight Crime, um think tank focado em crime e segurança nas Américas.
Segundo o InSight Crime, a população carcerária de El Salvador era de cerca de 37.000 presos em 2020. No ano de 2023, esse número tinha subido para mais de 105.000, cerca de 1.7% da população do país.
A criminalidade era o principal problema dos salvadorenhos no final de 2019. Uma pesquisa do Instituto Universitário de Opinião Pública mostrou que, em dezembro de 2019, um total de 70.4% dos entrevistados disseram que a criminalidade era o grande problema dos salvadorenhos. Esse número caiu para 4.3% em dezembro de 2023. O Governo atribui esta redução ao seu plano de segurança e ao regime de emergência estabelecido em 2022.
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