por paulo eneas
Vladimir Putin, o ditador mais apreciado por uma parcela expressiva da direita brasileira, venceu neste domingo (18/02) o simulacro de eleição presidencial russa na qual concorreu praticamente sozinho, uma vez que os oponentes reais foram todos eliminados fisicamente (mortos ou presos) pelo ditador.
O ditador russo venceu as eleições presidenciais com 87.32% dos votos. Com mais de 90% das urnas apuradas, o ditador russo foi reeleito pela quinta vez e seguirá no comando da Rússia pelo menos até 2030. Uma reforma constitucional de 2020 permite ainda que Vladimir Putin cumpra mais dois mandatos de seis anos cada, até 2036.
Os demais candidatos, que atuaram como coadjuvantes na encenação eleitoral, obtiveram somados menos de um sexto dos votos válidos. Nikolai Kharitonov, do Partido Comunista, obteve 4.28% dos votos. Vladislav Davankov do partido Novo Povo ficou com 9.94% dos sufrágios. E Leonid Slutsky do Partido Liberal Democrático da Rússia abocanhou os 3.16% restantes.
Este domingo foi o último dos três dias de votação no país e ficou marcado por um protesto da oposição em Moscou. Pelo menos 74 pessoas foram detidas por participarem de uma iniciativa para expressar rejeição a Vladimir Putin. O último dia de votação também foi marcado por atos mais contundentes visando denunciar a farsa eleitoral: em algumas localidades, bombas foram lançadas contra as cabines de votação.
Soldado fiscaliza voto de eleitor na cabine
Um vídeo emblemático, gravado clandestinamente, mostra o momento em que um agente militar russo, usando balaclava e armado de fuzil, inspeciona as cabines no momento em que as pessoas votam. O vídeo pode ser visto abaixo:
Nenhum dos três candidatos fantoches que “disputaram” com Vladimir Putin o simulacro de eleição posicionou-se contra a invasão russa da Ucrânia, conforme determinado pelo regime, uma vez que a ditadura russa pune severamente com pena de prisão e confisco de bens qualquer pessoa que faça algum questionamento à invasão russa do território ucraniano.
Portanto, os três candidatos que “concorreram” com Vladimir Putin representaram apenas uma “oposição consentida” ao regime e serviram tão somente para dar um verniz de legitimidade ao simulacro de eleição no simulacro de democracia do regime ditatorial russo.
Vladimir Putin aos olhos da direita ocidental
Segundo a escritora Svetlana Aleksiétch, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura, “o mundo não percebeu que Putin é um Hitler com novas tecnologias”.
Ocorre que a escritora russa está errada. O mundo percebeu sim e faz tempo quem é e o que representa Vladimir Putin. Basta lembrar que em uma das suas declarações públicas mais emblemáticas, o ditador russo afirmou que o fim da União Soviética teria sido “a maior tragédia da história do século vinte”.
Vladimir Putin serviu o regime genocida soviético durante décadas como agente da KGB. Uma de suas bases da operação era na antiga Alemanha Oriental, de onde coordenava as ações do grupo terrorista Baader-Meinhof, ou Fração do Exército Vermelho, que praticou dezenas de atos terroristas na antiga Alemanha Oriental durante os anos setenta.
Portanto, o Ocidente sabe muito bem quem é Vladimir Putin. Ocorre que muitas das principais lideranças que se apresentam como de direita no Ocidente, como Donald Trump, Jair Bolsonaro, Marine Le Pen e Viktor Orbán estão plenamente alinhadas com o projeto imperialista eurasiano do ditador russo.
Basta lembrar que o ex-presidente brasileiro chamou Putin de “conservador” e visitou Moscou uma semana antes do início da invasão russa da Ucrânia, onde declarou explicitamente: “Estamos fechados com a Rússia”.
E conforme mostramos na reportagem Exclusivo: Jair Bolsonaro Teria Supostamente Abordado Vladimir Putin Sobre Permanecer na Presidência, o ex-presidente brasileiros teria supostamente procurado apoio do ditador russo para permanecer no poder após a derrota nas últimas eleições presidenciais.
Por sua vez, Donald Trump tem enviado sinais no mínimo ambíguos no que diz respeito à Rússia em sua pré-campanha presidencial. Além de sua costumeira hostilidade em relação à OTAN desde quando ocupava a Casa Branca, Trump tem afirmado que se for eleito irá cessar a ajuda norte-americana à Ucrânia, entregando o país aos russos.
Não sem motivos, Vladimir Putin usou recentemente de uma dissimulação para sinalizar sua preferência pela vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas deste ano, como mostramos na reportagem Ditador Russo Vladimir Putin Prefere Donald Trump Presidente dos Estados Unidos publicada no final do mês passado.
Ainda contrastando com a afirmação equivocada da escritora russa, quem ainda não percebeu o real papel desempenhado por suas lideranças ocidentais supostamente direitistas é justamente a massa de eleitores de direita do Ocidente, que continua acreditando em ídolos de pés de barro como Jair Bolsonaro e Donald Trump.
Se não bastasse esse estado de ilusão permanente por conta do papel dissimulado de suas lideranças, a direita ocidental ainda padece do mal de ver muitas de suas fileiras tomadas por agentes propagandistas do regime ditatorial russo. Um exemplo notório é justamente Tucker Carlson, conforme mostramos em detalhes no artigo Comunismo Para Conservadores: Tucker Carlson e a Eficácia da Máquina de Propaganda e de Desinformação Russa.
Uma explicação para esse fenômeno pode ser esboçada da seguinte forma: a direita ocidental, ou ao menos parte da direita brasileira, assimilou de maneira torta e caricata a noção complexa de globalismo, acreditando ingenuamente que projetos de poder global de natureza autoritária somente existe no Ocidente.
Isso fez com que essa direita passasse a usar esse termo mal compreendido da mesma forma que a esquerda fala em “imperialismo estadunidense”. O conteúdo é o mesmo, muda apenas o fraseado. Ou seja, parte da direita ocidental adota o mesmo conteúdo revolucionário que a esquerda clássica, mudando apenas a embalagem retórica no qual ele é empacotado. (Colaboração de Angelica Ca)
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