Se Javier Milei será bem-sucedido em seu governo não sabemos ainda. Mas a pré-condição para que o novo presidente argentino tenha alguma chance de sucesso é ser exatamente o oposto de tudo aquilo que Jair Bolsonaro foi e é.
por paulo eneas
A vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais argentinas deste domingo (19/11) dá à direita portenha a oportunidade de não cometer os mesmos erros que a direita brasileira cometeu a partir de 2019 com Jair Bolsonaro: transformar o apoio político em torcida e idolatria cega a um político.
Só existe uma lição que Javier Milei pode aprender com Jair Bolsonaro: não fazer o que o ex-presidente brasileiro fez enquanto exercia seu mandato presidencial, caso o portenho realmente tenha compromisso de implementar uma plataforma política de direita em seu país.
Javier Milei precisa aprender a não fazer o que Jair Bolsonaro fez, que foi abrir mão de suas prerrogativas e obrigações de Chefe de Estado, ignorar a importância de saber exercer o poder que lhe foi conferido e abandonar a agenda de direita pela qual foi eleito na vã esperança de querer agradar a esquerda.
Da mesma forma, as forças políticas que asseguraram a vitória de Javier Milei na Aregntina devem se espelhar na conduta adotada pelas forças políticas que elegeram Jair Bolsonaro em 2018 no Brasil para não incorrerem no mesmo erro: transformar o necessário apoio político ao presidente em idolatria e conivência com seus erros e traições.
Durante a maior parte do Governo Bolsonaro assistimos a agenda identitária da esquerda avançar como quase nunca em governos anteriores. Vimos ainda o fortalecimento do MST com o record de concessões de títulos de terra aos acampados do movimento, fortalecendo ainda mais a organização chefiada por João Pedro Stedile.
Vimos promessas serem simplesmente abandonadas e esquecidas como a promessa da mudança da Embaixada do Brasil em Israel para a capital israelense, Jerusalém. Ou a promessa de adotar uma legislação sólida e perene para assegurar o acesso legal a armas. Em vez disso, houve um vai e vem de decretos, revogáveis a qualquer momento numa simples canetada, como o petista Lula fez.
Vimos a rendição do Governo Bolsonaro à ingerência indevida do Partido Comunista Chinês em assuntos internos brasileiros, e que chegou ao cúmulo com a ordem dada pelo então embaixador de chinês, Yang Wanming, e acatada pelo então presidente, de demitir seu chanceler Ernesto Araújo e reorientar sua política externa.
Assistimos também o desmantelamento dos mecanismos de combate à corrupção, o aumento da verba estatal destinada a partidos políticos e a triplicação dos recursos públicos destinados às políticas de incentivo à cultura sem qualquer contrapartida em termos de aprimoramento de governança, bem com a consolidação e ampliação do assistencialismo estatal.
Enquanto estas e muitas outras ações do então Governo Bolsonaro supostamente “de direita” ocorriam, a direita política hegemonizada e instrumentalizada pelo bolsonarismo decidiu abrir mão de suas pautas e programas para simplesmente apoiar de modo incondicional o ex-presidente a despeito de ele estar fazendo a agenda da esquerda avançar.
As poucas vozes da direita que alertavam para o que ocorria no então governo e que também alertavam para os erros grosseiros de articulação política que levariam inevitavelmente à derrota e à volta dos petistas ao poder, foram submetidas a uma espiral do silêncio e caladas e praticamente banidas do debate público pelo bolsonarismo.
Com a volta da esquerda ao poder no Brasil e diante da incapacidade do bolsonarismo em lhe fazer oposição, a menos que se considere lacração de deputados youtubers em rede social como sendo “oposição política”, restou ao bolsonarismo unicamente ficar parasitando midiaticamente eventuais vitórias alheias, como faz agora no esforço de querer associar a imagem de Jair Bolsonaro à de Javier Milei.
São esses fatos que a direita argentina precisa tomar conhecimento, para não incorrer nos mesmos erros que foram aqui cometidos. Se Javier Milei será bem-sucedido em seu governo não sabemos, os fatos futuros dirão. Mas a pré-condição para que o novo presidente argentino tenha alguma chance de sucesso é ser exatamente o oposto de tudo aquilo que Jair Bolsonaro foi e é.