A imbecilidade política dos bolsonaristas, movida pelo desejo irrefreável de lacrar em rede social, levou-os atuar pela instalação da comissão que, conforme antecipamos, será palco de mais uma vexatória e retumbante derrota deste arremedo de pseudo-direita que o bolsonarismo representa.
por paulo eneas
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Oito de Janeiro foi instalada na manhã desta quinta-feira (25/05) no Congresso Nacional. Conforme estamos antecipando há semanas, o governo petista terá controle pleno da comissão, ficando com a presidência e a relatoria, e desta forma irá definir os rumos e as conclusões dos trabalhos.
A comissão será presidida pelo experiente deputado Arthur Maia (União-BA), partido que está na base governista, possui ministérios e votou em peso em favor do arcabouço fiscal. Arthur Maia foi relator no passado da antiga proposta de reforma previdenciária do Governo Temer. A vice-presidência ficará com Cid Gomes (PDT-CE), membro da tropa de choque governista.
A relatoria, o cargo mais estratégico da comissão, ficará com a senadora Eliziane Maia (PSD-MA), que ganhou projeção quando da sua participação na CPI da Covid, que foi o palco mais duro de embate parlamentar contra o antigo governo.
A projeção de Eliziane adveio não da qualidade de sua retórica, mas pela habilidade em atuar contra a base e os apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro, agindo de modo articulado com o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Apesar de estar no PSD, Eliziane Maia é lulista e teve apoio do ministro Flavio Dino para ocupar a relatoria da comissão.
A relatora já tem convicção formada de que teria havido uma suposta tentativa de Golpe de Estado nos eventos do dia 8 de janeiro em Brasília (DF), e reafirmou esta convicção em sua fala durante a instalação da comissão. Este fato por si só já sinaliza os rumos que serão tomados pelos trabalhos da comissão. Conforme havíamos antecipado.
Do lado dos bolsonaristas, os nomes indicados para fazer parte da CPMI do 8 de Janeiro são na sua totalidade de parlamentares lacradores e inexperientes. Muitos deles foram humilhados pelo ministro Flavio Dino em suas visitas ao Congresso Nacional este ano.
Com esta composição assimétrica em termos de habilidade para o embate político entre bolsonaristas e a base do governo, a tendência é que a comissão resulte por incriminar mais e mais pessoas, inclusive alguns parlamentares bolsonaristas. Em termos políticos e mesmo institucionais, será um verdadeiro massacre da serra elétrica.
Os bolsonaristas irão aprender pela forma mais dolorosa aquilo que falamos há anos: política não tem a ver com lacração em rede social ou denuncismo das alegadas “incoerências” da esquerda. Política tem a ver com habilidade de conquistar o poder e saber exercê-lo, conquistando novos aliados, ainda que táticos, e neutralizando o inimigo.
Nada disso faz parte do imaginário ou da compreensão elementar de política por parte dos bolsonaristas. Se tivessem esse entendimento básico não teriam cometido o erro de insistir nesta CPMI, que em princípio não interessava nem mesmo ao governo petista, pois ela tende paralisar ou dificultar os trabalhos legislativos e levar mais demandas da própria base governista ao Planalto.
Além disso, o governo diversas vezes sinalizou que estava satisfeito com as investigações da Polícia Federal e as decisões judiciais a respeito. Mas a imbecilidade política dos bolsonaristas, movida pelo desejo irrefreável de lacrar em rede social, levou-os atuar pela instalação da comissão, que será palco de mais uma vexatória e retumbante derrota deste arremedo de pseudo-direita que o bolsonarismo representa.