por paulo eneas
A Câmara dos Deputados aprovou em dois turnos de votação na madruga desta sexta-feira (07/07) a emenda constitucional da reforma tributária petista. A emenda que altera a estrutura tributária do País foi aprovada a toque de caixa sem qualquer discussão mais aprofundada.
Conforme antecipamos algumas horas antes da votação em publicação em nossa rede social (veja print da publicação abaixo), a reforma petista foi aprovada no plenário da Câmara dos Deputados com votos decisivos dos partidos do Centrão.
A emenda da reforma tributária foi aprovada em primeiro turno com 382 votos a favor e apenas 118 votos contrários. Um total de 96 parlamentares do Republicanos, PL e PP votaram a favor da emenda. Estes 96 votos foram assim distribuídos:
Partido Liberal: 20 votos
Progressistas: 40 votos
Republicanos: 36
Sem estes 96 votos da base bolsonarista na Câmara dos Deputados, a proposta petista teria obtido no máximo 286 votos, número inferior aos 308 votos necessários para aprovação de emenda constitucional. Assim, como dissemos na mensagem printada acima, os partidos do Centrão de Jair Bolsonaro foram novamente decisivos para assegurar mais uma vitória dos petistas.
No segundo turno de votação realizado ainda na madrugada desta sexta-feira (07/07), a emenda constitucional da reforma tributária petista obteve 375 votos favoráveis, e novamente os votos dos parlamentares do Centrão bolsonarista foram decisivos para assegurar a aprovação. A emenda seguirá agora para o Senado.
Uma direita apática e paralisada pelo teatro bolsonarista
Os petistas têm conseguido desde o início do governo, e com o apoio da bancada bolsonarista, obter vitórias expressivas no Congresso Nacional sem enfrentar qualquer contestação mais robusta por parte dos setores de direita da sociedade civil.
Essa paralisia e apatia daqueles segmentos da direita civil da sociedade que há poucos anos organizavam manifestações de massa pacíficas contra a esquerda é uma consequência direta do processo de captura e sequestro daqueles movimentos pelo flagelo político do bolsonarismo.
Observe-se que há poucos anos, um tema tão relevante quanto a reforma tributária ensejaria amplas mobilizações de massa pacíficas na sociedade para pressionar a classe política a votar segundo os interesses da maioria da população.
No entanto, passados alguns anos da captura daqueles movimentos de direita pelo bolsonarismo, o próprio significado das manifestações de rua foi alterado e corrompido. Pois antes do bolsonarismo as pessoas saíam às ruas em manifestações pela defesa de pautas e para cobrar e pressionar os políticos.
Com o bolsonarismo, as pautas foram abandonadas e as manifestações foram transformadas em micaretas de idolatria a políticos e a aspirantes a político. No caso da reforma tributária, o bolsonarismo que ainda domina e hegemoniza o campo da direita não se preocupou em organizar manifestação alguma contra a proposta.
Em vez disso, criou-se um falso embate puramente retórico entre o governador paulista Tarcísio de Freitas e o ex-presidente Jair Bolsonaro em torno da proposta de reforma tributária. Esse embate serviu de distração para a base bolsonarista, deixando assim os petistas livres para operar o que fosse necessário para assegurar a aprovação da proposta.
O falso embate Tarcísio x Bolsonaro foi útil não apenas para os petistas, mas serviu também como um boost na imagem de Jair Bolsonaro junto à sua base de apoiadores, após o revés, já esperado, da cassação de seus direitos políticos.
No teatro político montado por ambos em torno da reforma tributária petista e repercutido nas redes sociais pelos agentes bolsonaristas, Jair Bolsonaro teve a oportunidade de posar como “direitista” diante do esquerdismo de Tarcísio de Freitas. Nesse embate, que pode ser chamado de teatro das tesouras no interior da lâmina bolsonarista da nova tesoura do bolsonarismo x petismo, Jair Bolsonaro saiu vencedor junto a seus seguidores, conforme esperado.
Quanto a Tarcísio de Freitas, o governador paulista seria ainda hoje apenas um tecnocrata esquerdista obscuro que já ocupou cargos de confiança em governos petistas anteriores, não tivesse ele sido alçado à condição de “líder” político justamente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para Tarcísio de Freitas, pouco importam as tímidas cobranças da base bolsonarista, pois ele sabe que esta base é idólatra e ignorante o bastante para, ao fim e ao cabo, engolir qualquer coisa que Bolsonaro e seus escolhidos venham a fazer.
Em poucos dias o assunto reforma tributária será esquecido por esta base e o governador paulista voltará a ser visto como “líder de direita” por estes mesmos bolsonaristas.
Afinal, o que importa tanto para Tarcísio de Freitas quanto para Jair Bolsonaro e para seus chefes do Centrão é que a reforma tributária petista foi aprovada, assegurando assim mais uma vitória do condomínio do establishment político formado pelo Centrão, por bolsonaristas e por petistas.
O tema da reforma tributária e o papel desempenhado por Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro no falso embate dentro do bolsonarismo foi abordado também pelo ex-chanceler Ernesto Araújo em sua live desta quinta-feira (06/07). Nos trinta minutos finais do vídeo abaixo, Ernesto Araújo aborda o tema numa perspectiva muito próxima àquela que temos adotado.