A entrevista que Tucker Carlson fez esta semana com o ditador Vladimir Putin repercutiu mundialmente e foi uma das peças mais eficazes de propaganda russa, para a qual Tucker Carlson sempre esteve a serviço desde os seus tempos de Fox News, quando colocou em prática uma das estratégias de “grinding from inside” do regime antigo soviético, relatado por Yuri Bezmenov, que era do de colocar agentes da revolução na mídia conservadora ocidental.

A entrevista veio no momento auspicioso para a Rússia, após meses de impasse na sua guerra de invasão e extermínio da Ucrânia. Quando ainda na Fox News, Tucker Carlson era o principal propagandista do lado russo da guerra, e fazia essa propaganda a pretexto de crítica à política externa do governo de Joe Biden. É inegável a habilidade de Tucker Carlson em enganar os conservadores do mundo inteiro, o que inclui os norte-americanos e também os brasileiros.

Em abril do ano passado fizemos o artigo abaixo, que agora republicamos por julgar oportuno, revelando quem é de verdade o agente russo Tucker Carlson, e mostramos como ele enganou muito bem, e talvez ainda continue enganando, quase toda a direita do Ocidente. O artigo de abril do ano passado segue abaixo. Trataremos da entrevista de Putin propriamente dita em matéria em separado.


por paulo eneas
O modo mais eficiente de fazer propaganda comunista foi criado pelos soviéticos e aprofundado após a Segunda Guerra, e persiste até hoje: consiste em infiltrar seus agentes no seio da direita para que estes passem então a defender os interesses do campo revolucionário por meio de uma retórica que parte de problemas reais que são percebidos pela direita.

Esta estratégia possui a vantagem, do ponto de vista dos comunistas, de conferir uma pretensa autoridade ou legitimidade ao seu agente: afinal, este é percebido como um vocalizador das pautas que interessam à direita. O caso do jornalista Tucker Carlson é exemplar deste modus operandi que foi apontado com precisão por Paulo Henrique Araújo do canal PH Vox nesta thread aqui do twitter.

O agora ex-comentarista da Fox News sempre foi visto como uma voz da direita na mídia mainstream norte-americana, por vocalizar com competência temas e preocupações reais da direita americana. Ocorre que Tucker Carlson sempre foi um apoiador e defensor do ditador russo Vladimir Putin e acentuou esta defesa nos últimos dois anos e meio a pretexto de criticar o combater o democrata Joe Biden.

A retórica de Carlson sobre a Guerra da Ucrânia deixou escancarado o seu apoio às pretensões expansionistas de Vladimir Putin. Mas como Tucker Carlson conseguiu defender os interesses da Rússia junto ao público de direita norte-americano? Usando justamente o método soviético de partir de problemas reais ou de temas sensíveis à direita para então engatar de contrabando aquilo que interessa à Rússia.

No caso da Guerra da Ucrânia, Carlson tomou um ponto de partido legítimo, aos olhos da direita americana: questionar o uso de recursos públicos norte-americanos naquela guerra e como estes gastos estão inseridos em uma estratégia mais ampla de defesa dos interesses nacionais dos Estados Unidos. Nada pode ser mais de direita, do ponto de vista dos norte-americanos, do que fazer esse tipo de questionamento.

Carlson fez esse questionamento em um vídeo cujo recorte circulou até mesmo no Brasil em versão legendada para o português. Entre aqueles que divulgaram tal recorte não houve a preocupação nem mesmo em questionar quem fez ou financiou a legendagem e com que propósito. Seguramente houve ali a mão e o dinheiro da rede de desinformação e propaganda russa.

Ocorre que neste mesmo vídeo, após partir deste questionamento inicial legítimo, Tucker Carlson simplesmente engata, ou contrabandeia, a propaganda russa que tenta justificar a invasão da Ucrânia. E o faz com competência tal que esse aspecto propagandístico não é percebido facilmente, pois a superfície do discurso é aquela que agrada a direita americana: a crítica à vocação belicista dos democratas.

Cumpre observar também que em momento algum vimos Tucker Carlson informar ao público de direita da Fox News que a invasão da Ucrânia somente ocorreu por que o democrata Joe Biden deu sinal verde a Vladimir Putin para iniciar a guerra, desde que fosse uma blitzkrieg, conforme foi revelado ano passado por um ex-conselheiro de Putin em entrevista à NTD de Portugal.

Tucker Carlson já recebeu convite para trabalhar na mídia estatal russa Russian Times e foi recentemente elogiado em uma thread do jornalista Glenn Greenwald, mostrando como Carlson e o petista Lula têm o mesmo posicionamento sobre a Guerra da Ucrânia. Glenn Greenwald também mostrou a defesa que Tucker Carlson faz da ditadura comunista cubana.

E observa-se também a sutileza no uso da linguagem empregada por Glenn Greenwald quando fala da guerra: ele diz que Tucker Carlson, assim como Lula, é “contra a guerra da Ucrânia”. Óbvio que qualquer pessoa normal será sempre contra qualquer guerra, que representa sempre morte e destruição.

A questão é: uma vez deflagrada uma guerra de agressão, as pessoas irão se colocar em favor da nação agredida e denunciar as ambições expansionistas do agressor, ou irão legitimar a agressão repetindo a propaganda que o agressor usa para cometer tal ato, inclusive os crimes de guerra. Tucker Carlson coloca-se claramente nesse segundo grupo de pessoas.

O caso de Tucker Carlson ilustra muito bem aquilo que Ernesto Araújo chama de “comunismo para conservadores”: dentre as novas estratégias, ou estratégias antigas bem-sucedidas e returbinadas, usadas pelo movimento revolucionário, está a estratégia de menu de opções comunistas para o gosto do público. Este menu ou cardápio oferece:

  • Comunismo para os cristãos, representado pela Teologia da Libertação, criada pela KGB, e sua versão mais recente que inclui o duguinismo.
  • Comunismo para revoltados: traz a agenda identitária, preparada na cozinha de Davos e Bruxelas e nos corredores das Nações Unidas e servido pela esquerda ocidental.
  • Comunismo para amantes da natureza e catastrofistas: traz o ambientalismo, servido pelos agentes globalistas.
  • Comunismo para empreendedores: oferece várias opções de ESG e ações afirmativas identitárias.
  • Comunismo para a saúde de todos: traz opções e remédios para redução populacional e controle social aos moldes chinês. Servido pela big pharma e seus agentes em órgãos públicos e na imprensa.
  • Comunismo para conservadores: traz um pouco de cada um dos itens acima e também um reforço de retórica pretensamente cristã e moralista e até mesmo nacionalista, quando necessário, e embalado no pacote de “combate aos globalistas”.

O exemplo de Tucker Carlson não é o único. Há muito outros Tucker Carlson’s wannabe em atuação tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, que usam das mesmas técnicas de desinformação e manipulação para, por meio da vocalização de problemas reais percebidos pela direita, conquistar espaço e legitimidade junto ao público conservador para então defender e legitimar interesses do movimento revolucionário, seja ele calcado em Moscou ou em Pequim ou em Havana.

A direita e os conservadores do Ocidente precisam aprender a identificar estas armadilhas para não mais cair nelas. E tudo começa por não idolatrar ídolos de pés de barro.



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