Enquanto as centenas de pessoas incriminadas pelo Oito de Janeiro vão sendo esquecidas e abandonadas no limbo (eram apenas bobos da corte, nas palavras de Bolsonaro) os novos bobos da corte começam a ser arregimentados pelos agentes da rede bolsonarista de desinformação e de manipulação. Agora não são mais os bobos da corte de porta de quartel, mas os bobos da corte do pix.
por paulo eneas
A campanha financeira iniciada nos últimos dias por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro poderá resultar na versão pix dos bobos da corte. A iniciativa populista e idólatra desprovida de qualquer conteúdo político relevante, demonstra um total amadorismo político e uma indiferença desumana por parte do staff bolsonarista em relação à massa de apoiadores do ex-presidente.
Esta massa de apoiadores é bombardeada todos os dias nas redes sociais com mentiras, narrativas falaciosas e ocultação da verdade. Essa manipulação constante é empreendida pela rede de agentes bolsonaristas de desinformação, também chamado de influenciadores, e por meio desta manipulação muitos destes apoiadores mais ingênuos acabam sendo induzidos a ações sem avaliar suas consequências e riscos.
Esta manipulação de massa deu origem às manifestações do ano passado em frente a quartéis após as eleições, e que desaguaram no trágico Oito de Janeiro. Esta mesma manipulação está sendo empregada agora na campanha do pix para o ex-presidente. O modus operandi é o mesmo: os agentes do bolsonarismo enfatizam que o Jair Bolsonaro não está pedindo doações, como forma de blindá-lo de eventuais sanções jurídicas.
Da mesma forma que afirmavam que o ex-presidente não havia convocado ninguém às ruas no ano passado após as eleições. De fato, Jair Bolsonaro não fez pessoalmente nenhuma convocação, mas deixou essa tarefa para seu staff político e em momento algum veio a público conclamar seus apoiadores a irem para casa.
A campanha financeira ora iniciada contém também um caráter deseducativo, pois incita o cidadão comum a doar dinheiro de seu trabalho para um político que possui renda mensal superior àquela de 99% dos brasileiros e que há décadas já vive de recursos públicos.
A campanha traz o agravante de permitir a formação de uma gigantesca base de dados, com nome e CPF, de milhares de pessoas comuns que estarão comprovadamente associadas ao bolsonarismo, ficando assim alvo de eventuais ações que venham atingir Jair Bolsonaro e seus apoiadores.
Em uma publicação no twitter no último sábado (24/06) o ex-deputado e jornalista Marcio Labre expressou a mesma percepção sobre os riscos associados à formação desta base de dados de apoiadores de Jair Bolsonaro.
A campanha ignora levianamente o ambiente institucional adverso em que o país se encontra. Ambiente este iniciado ainda no Governo Bolsonaro por conta da inaptidão e despreparo do ex-presidente para exercer a função e as prerrogativas de Chefe de Estado, e coloca em risco a segurança de milhares de pessoas inocentes e bem-intencionadas, tratando-as como peças descartáveis.
Trata-se da mesma forma descartável com que foram e estão sendo tratados os presos do Oito de Janeiro, para os quais não foi tomada qualquer iniciativa de campanha de arrecadação de fundos para suporte jurídico, principalmente para aqueles sem recursos que não podem arcar com os custos elevados de advogados.
O bolsonarismo trata estas pessoas e todos os seus apoiadores como lixo descartável, em nada se importando com eventuais implicações que possam incorrer contra eles. Esta visão de descartáveis que o bolsonarismo tem em relação a seus apoiadores foi verbalizada pelo próprio ex-presidente em entrevista recente, ao referir-se aos apoiadores que foram incriminados pelo Oito de Janeiro como sendo bobos da corte.
Passados alguns meses e à medida que as centenas de pessoas incriminadas pelo Oito de Janeiro vão sendo esquecidas e abandonadas no limbo (afinal eram apenas bobos da corte, nas palavras de Bolsonaro) os novos bobos da corte de Jair Bolsonaro começam a ser arregimentados pelos agentes da rede bolsonarista de desinformação e de manipulação. Agora não são mais os bobos da corte de porta de quartel, mas os bobos da corte do pix.
