por paulo eneas
Durante quase todo seu mandado presidencial, Jair Bolsonaro sempre alegou ter “provas” de supostos problemas que ele afirmava haver com as urnas eletrônicas. A repetição incessante desta alegação induziu o comportamento público e a atuação política de milhares de seus apoiadores, com consequências devastadoras para a vida de centenas deles.
Se tais supostas provas existiam e estão ou estavam em seu alcance, como Bolsonaro costumava repetir quando era presidente, por que então o agora ex-presidente não as exibiu durante o seu depoimento dado nesta quarta-feira (26/04) na Polícia Federal?
Por que, em vez disso, optou por usar da desculpa esfarrapada de que compartilhou “sem querer” um vídeo sobre assunto, por estar supostamente sob efeito de medicamentos?
Em nosso entender, a resposta é simples: por que tais supostas provas na verdade nunca existiram. Suas alegações passadas sobre o tema, que hoje ele não mais sustenta, eram apenas uma bravata leviana e irresponsável destinada a mobilizar sua base de apoio em torno de suas narrativas delirantes.
Em outra oportunidade que teve para exibir estas supostas e alegadas “provas”, tudo o que o ex-presidente conseguiu foi promover um show de pirotecnia grotesca em lives, sempre as lives, transmitidas ainda no ano de 2021, onde trouxe material requentado que já circulava há tempos em redes sociais e em grupos de WhatsApp.
Observe-se também que durante seu mandado presidencial, as alegações de problemas com as urnas eletrônicas feitas por Jair Bolsonaro eram sempre em relação às eleições que ele havia vencido. Mas acontece que em lugar algum do mundo um político alega fraudes numa eleição da qual saiu vencedor.
E é importante lembrar também que após a vergonhosa Carta de Temer, que Bolsonaro assinou e divulgou em público após suas bravatas do 7 de Setembro de 2021, o ex-presidente fez questão de declarar sua confiança no sistema de votação eletrônica, após o convite feito pela Justiça Eleitoral para que militares acompanhassem o processo.
Assim, em uma análise fria e objetiva, podemos observar que nos quatro anos de seu mandato presidencial, tudo que Jair Bolsonaro conseguiu com seu vai-e-vem narrativo, a ausência de estratégias para uma abordagem séria do tema e as sempre presentes bravatas, foi ensejar o ambiente para a criminalização e a inviabilização de qualquer discussão madura sobre aprimoramentos do sistema eleitoral.
A conduta de Jair Bolsonaro em torno do tema dos sistema de votação ao longo de todo seu mandato e agora depois dele, e cuja epítome foi a desculpa esfarrapada dada no depoimento na Polícia Federal, representou o sepultamento de uma das mais antigas pautas daquela nascente direita que o então deputado federal do Centrão sequestrou para seu projeto eleitoral presidencial.
Por esse motivo entendemos que Jair Bolsonaro e o bolsonarismo, aqui entendido como método estúpido de fazer política, representam hoje, ou sempre representaram, uma linha auxiliar da esquerda e ao mesmo tempo em que são, como bem observa um leitor nosso, os catalizadores políticos do petismo.
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