por paulo eneas
Parece estar havendo nesse momento um ponto de estrangulamento e indefinição na diplomacia de anão do governo petista. Essa diplomacia consiste no alinhamento com o eixo das ditaduras liderado pela Rússia e China, alinhamento este iniciado na segunda metade do Governo Bolsonaro. Consiste também em fazer vista grossa para os grupos terroristas que atuam no Oriente Médio, bem como em manter a tensão permanente com os Estados Unidos.
A diplomacia brasileira é atualmente chefiada por Celso Amorim, assessor especial de Lula, e ministro de facto da Relações Exteriores. No prefácio escrito para o livro sobre geopolítica do autor britânico Daud Abdullah, Celso Amorim não poupou elogios ao Hamas, grupo terrorista ao qual o chanceler de facto do Brasil atribui papel e status de player diplomático.
Essa diplomacia de natureza puramente ideológica e contrária aos interesses brasileiros é empreendida livremente pelo governo petista sem que haja, por parte da fictícia e inexistente oposição de direita, qualquer questionamento ou iniciativa de natureza institucional para pressionar pela sua reorientação. Para esta “oposição”, é como se diplomacia e relações exteriores fossem um não-assunto.
A despeito da liberdade absoluta, poder-se-ia dizer absolutista, com que Lula pode conduzir as relações exteriores do Brasil sem ser questionado no Congresso Nacional, sua diplomacia de anão parece enfrentar no momento algum tipo de tensionamento, que ficaram evidenciados por alguns fatos envolvendo o Brasil e a Cúpula do BRICS desse ano.
O primeiro desses fatos foi a decisão do petista Lula de não participar presencialmente da reunião anual de cúpula do bloco. O alegado incidente doméstico do petista serviu de desculpa conveniente para justificar o cancelamento de sua viagem à Rússia para participar do encontro de cúpula.
Cumpre lembrar que o mais importante nesses eventos são as conversas e entendimento e acertos bilaterais de bastidores longe dos holofotes. Os encontros públicos reunindo chefes de governo em torno da “mesa grande” são em si meramente protocolares e destinados a relações públicas e imprensa.
Chamou a atenção também a fala sem nexo (novidade zero) de Lula na sua participação no encontro por videoconferência, onde o petista defendeu mais controle por parte dos governos sobre as empresas de rede social.
Trata-se de uma fala sem sentido, pois a maioria dos países do mundo hoje impõe algum grau de controle sobre as redes sociais. A União Europeia há anos possui leis rígidas nesse sentido e as big techs que controlam redes como Facebook e X-Twitter aderiram a estas normas para não perder mercados.
Esse controle sobre as redes existe também, obviamente, na China e na Rússia, as ditaduras que são donas do BRICS. No Brasil há poucos dias o X-Twitter acatou todas as decisões do judiciário, encerrando um embate iniciado por Elon Musk, brifado pelos bolsonaristas, que resultou numa derrota e perdas milionárias para o empresário norte-americano.
O único país do mundo onde há liberdade plena nas redes sociais são os Estados Unidos e nem por isso a democracia norte-americana está ameaçada. Portanto, confrontando a fala de Lula com a realidade, a impressão que passa é que o líder petista não tinha nada de importante a dizer e soltou uma pilhéria qualquer para agradar sua base.
O Caso da Venezuela
O terceiro fato que evidencia o que estamos identificando como um aparente tensionamento na atual política externa brasileira é a decisão formal do governo petista de vetar a entrada da narcoditadura da Venezuela no bloco do BRICS.
A desculpa oficial para a decisão é o fato de o atual governo brasileiro não ter reconhecido formalmente o resultado das últimas eleições presidenciais no país vizinho. Essa desculpa oficial foi repercutida por veículos de imprensa e jornalistas alinhados com o governo petista, como Reinaldo Azevedo, que rasgou elogios à atual diplomacia brasileira, qualificando-a como decisão inteligente.
Oras, até as pedras de Geórgia sabem que o BRICS é uma aliança geopolítica de caráter exclusivamente ideológico e de viés autoritário. Não é nem mesmo um bloco comercial ou um acordo alfandegário multilateral. Afinal, o Brasil não precisa do BRICS para vender commodities agrícolas e minerais para a China, por exemplo.
O BRICS nada mais é que a versão para o século vinte e um do terceiro-mundismo de meados do século passado inventado pela extinta União Soviética e materializado em seguida no também extinto “bloco dos países não alinhados” que era chefiado pela ditadura cubana.
A última coisa que importa para o bloco é a legitimidade democrática dos governantes de seus países-membros. Se esse fosse o critério de adesão, nem Rússia nem China, os donos do BRICS, poderiam fazer parte do bloco.
Descartando-se assim a desculpa oficial do governo petista, celebrada como “decisão inteligente” por Reinaldo Azevedo, cabe perguntar o que de fato motivou a decisão do Brasil de vetar a entrada da Venezuela no bloco autoritário. Não temos a resposta categórica, mas pode-se conjecturar que possivelmente resultou de pressão de bastidores vinda dos Estados Unidos.
Afinal, uma coisa é Lula tagarelar asneiras sobre Oriente Médio e Guerra da Ucrânia, conflitos internacionais sobre os quais o Brasil tem relevância igual a zero-menos-um. Outra coisa distinta é trazer para seu bloco geopolítico de estimação um regime de narcoditadura chefiado por um traficante procurado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Essa nossa hipótese fica reforçada ainda pela comunicação oficial feita nesta quarta-feira (23/10) pela Embaixada de Israel na Costa Rica de que a inteligência israelense confirmou a presença de bases do Hezbollah e do Irã em solo venezuelano.
Esta informação já é sabida há muito tempo por diferentes analistas de assuntos internacionais, bem como já é conhecida a informação de que a segurança pessoal do traficante-ditador Nicolas Maduro é feita por integrantes do Wagner Group, a milícia privada de Vladimir Putin.
Estes fatos concretos sobre a natureza do narco-estado venezuelano e que dizem respeito diretamente aos interesses de segurança dos Estados Unidos, podem ter desencadeado uma pressão de bastidores vinda de Washington junto ao governo brasileiro para vetar entrada da Venezuela no BRICS.
Possivelmente a própria inteligência venezuelana captou essas pressões poucos dias antes do encontro de cúpula, o que levou o regime a antecipar-se por meio de Tarek William Saab, procurador-geral venezuelano, que desferiu ataques verbais ao petista Lula acusando-o de ter sido supostamente “cooptado” pelos Estados Unidos.
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