O bolsonarismo reduziu a política a estratégias de engajamento em rede social, e com isso tem se mostrado despreparado para fazer a oposição política e ideológica efetiva ao petismo. A mentira da suposta fuga do ministro serve para ocultar o fiasco do desempenho da bancada bolsonarista que mostrou-se mais uma vez incapaz e despreparada para o fazer o embate político com o ministro petista.
por paulo eneas
Os bolsonaristas estão espalhando a narrativa mentirosa de que o ministro da Justiça, Flávio Dino, teria “fugido” da sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados realizada na tarde desta terça-feira (11/04) em Brasília (DF).
A mentira da suposta fuga do ministro, que esteve na audiência da comissão na condição de convidado, serve para ocultar o fiasco do desempenho da bancada bolsonarista que, assim como ocorreu na audiência da Comissão de Constituição e Justiça há algumas semanas, mostrou-se incapaz e despreparada para o fazer o embate político com o ministro petista.
A mentira da fuga do ministro está sendo espalhada por influenciadores digitais que formam uma rede de desinformação e disseminação de mentiras que alimentam o principal modus operandi do bolsonarismo desde o governo passado: repetição incessante de mentiras, ocultação da verdade e divulgação de narrativas distorcidas que exibem cada derrota como vitória.
A sessão de ontem da Comissão de Segurança Pública tinha como pauta os eventos de 8 de janeiro em Brasília, a visita do ministro ao complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), e a retomada das invasões de terras promovidas pelo MST. A onda de violência nas escolas em período recente também seria tratada.
A sessão da comissão foi presidida pelo deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS). Pouco após o início dos trabalhos, teve início o tumulto que iria marcar toda a sessão até seu encerramento, 1h40min depois. A base governista adotou a estratégia de gerar tumulto e a base bolsonarista, despreparada que é para o embate político, caiu na provocação.
Em várias oportunidades o deputado Ubiratan Sanderson chamou a atenção nominalmente tanto de deputados governistas quanto de deputados bolsonaristas.
Quando, em meio ao tumulto, o ministro Flávio Dino conseguia responder a algum questionamento, ele mais uma vez confrontou as alegações feitas pelos bolsonaristas, usando muitas vezes de argumentos facilmente refutáveis, mas que nenhum parlamentar bolsonarista teve competência para contestar.
Os bolsonaristas perderam até mesmo o embate conceitual sobre a relação armamento civil e criminalidade, onde o ministro usa de argumentos que não encontram amparo nos dados objetivos de criminalidade e armamento civil, inclusive no exterior, para defender sua tese.
A sessão mostrou mais uma vez que nenhum parlamentar bolsonarista tem tido competência e preocupação em se preparar com suas assessorias, municiando-se de dados e informações, para refutar os argumentos do ministro. Desta forma, terminam por perder o debate e para ocultar esta derrota, lançam mão de narrativas mentirosas para enganar a base.
O ministro fez referência aos casos de violência nas escolas nos Estados Unidos como exemplo daquilo que, no entender do ministro, consiste na “prova” de que acesso a armas pela população gera aumento da violência.
Nenhum parlamentar bolsonarista mostrou-se qualificado e preparado para refutar este argumento do ministro e mostrar a ele o a realidade dos fatos, explicando que:
a) No Brasil ocorreram 12 ataques a escolas com armas de fogo nos últimos 20 anos, segundo dados da ONG Sou da Paz, uma entidade sabidamente progressista e anti-armamentista.
b) No levantamento que fizemos, não encontramos registro policial de que algum dos criminosos que promoveram tais ataques teria tido acesso legal a arma de fogo.
c) No caso dos Estados Unidos, os ataques com armas de fogo a escolas ocorrem justamente por que em muitos estados daquele país as escolas são gun free zones, áreas onde é proibida a posse de arma de fogo. Logo, são locais onde não há ninguém em posse legal de uma arma, o que permite a um criminoso (que por definição axiomática é alguém que não segue a lei), adentrar nesses locais e cometer seus crimes livremente.
Nenhum parlamentar bolsonarista teve a capacidade de se preparar para exibir os argumentos factuais acima. Em vez disso, preferem a lacração oca e tola, de onde fazem recortes para jogar nas redes em busca de mais lacração que gera engajamento.
O bolsonarismo reduziu a política a estratégias de engajamento em rede social, e com isso tem se mostrado despreparado para fazer a oposição política e ideológica efetiva ao petismo.
Diante do fiasco nos embates recentes com o ministro da Justiça, um esquerdista da velha guarda preparado e experiente nos embates político, os bolsonaristas optam por espalhar a mentira da “fuga” do ministro. Trata-se de uma forma de remediar vergonhosamente a própria incompetência, uma vez que o fiasco do desempenho dos bolsonaristas é tão grande que nem mesmo consegue gerar os recortes de lacração esperados.
Essa mentira sobre a fuga do ministro é facilmente desmascarada pelo próprio vídeo do canal da Câmara dos Deputados que registrou a sessão.
O vídeo, reproduzido abaixo, mostra que a sessão durou apenas 1h40min21seg. Em momento algum o ministro ausentou-se da sessão, que foi encerrada no instante de 1h39min29seg pelo presidente dos trabalhos, deputado Ubiratan Sanderson, que declarou a sessão encerrada com o ministro Flávio Dino estando a seu lado.
Após o encerramento oficial da sessão, a base bolsonarista começou a entoar infantilmente as palavras de ordem “fujão, fujão” em referência ao ministro. Uma postura infantil e desonesta que não faz sentido algum, pois o ministro permaneceu na sessão até seu encerramento por decisão do deputado Ubiratan Sanderson.
Em entrevista o site Diário do Poder, que pode ser vista neste link aqui, o próprio deputado Ubiratan Sanderson confirma ter encerrado a sessão diante da impossibilidade de se continuar os trabalhos em meio ao tumulto generalizado.
A mentira da suposta fuga do ministro foi espalhada principalmente pela rede de desinformação bolsonarista, que aparentemente foi brifada nesse sentido.
Os influenciadores digitais bolsonaristas, acostumado que estão a espalhar mentiras como se não houvesse amanhã, o fazem por que a massa manipulada pelo bolsonarismo se alimenta dessas mentiras, que geram engajamento e receita de monetização para estes influenciadores.
O que está claro já há muito tempo, desde ao menos a segunda metade do Governo Bolsonaro, é ques estes influenciadores não têm compromisso algum com a verdade e muito menos com o País. O único compromisso dos membros desta rede desinformação é unicamente com seus ganhos, pois vivem de um modelo de negócios baseado na disseminação da mentira e na manipulação da massa bolsonarista.