por paulo eneas
Bolsonaristas erram miseravelmente ao adotar a expressão “homofobia do bem” como forma de tentar ironizar a conduta da esquerda. A estupidez no uso dessa expressão está no mesmo território mental em que reside a expressão “o amor venceu”, quando usada em tom pretensamente irônico: ambos expressam a necessidade irrefreável de “lacrar” em cima de qualquer fato político.
Os bolsonaristas erram por aceitar o repertório linguístico imposto pela esquerda em suas míseras tentativas de embate político e ideológico: bolsonaristas hoje falam com naturalidade em “homofobia”, “discurso de ódio” e outras expressões impostas ao debate público pela esquerda, sem perceber que o uso do repertório linguístico imposto pelo inimigo já constitui em si uma derrota no embate ideológico.
No episódio ocorrido nesta terça-feira (28/03) na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi insultado pelo deputado André Janones (PT-MG), que referiu-se ao deputado bolsonarista em termos chulos (chamando-o de “chupetinha), parte dos bolsonaristas reagiu falando em “homofobia” do deputado petista.
Uma “homofobia do bem”, na mísera conotação irônica que bolsonaristas tentam dar à expressão estúpida inventada por eles. Em primeiro lugar, o erro reside em se fazer uma ilação indireta sobre a orientação sexual do deputado mineiro, assunto que é exclusivo de sua vida privada.
A direita, ou a pretensa direita representada pelo bolsonarismo, precisa entender e começar a dizer em público que a orientação sexual de pessoas adultos é assunto da esfera privada, e não tema de debate público ou de políticas públicas.
Em segundo lugar, erra ao legitimar uma construção discursiva, trazida para o ordenamento institucional, que a esquerda vem fazendo há anos: criminalizar determinadas falas que envolvam a temática sexual.
Observe-se aqui o método dialético com que a esquerda sempre trabalha: ela traz um tema que deveria e deve permanecer na esfera da vida privada, a orientação sexual de pessoas adultas, para o debate público e ao mesmo tempo criminaliza no campo institucional determinadas opiniões que se expressem sobre este tema.
Os bolsonaristas não compreendem esse modo de operar da esquerda e parece realmente acreditarem que podem combatê-la nesse campo aceitando os termos e o vocabulário impostos ao debate, e dele participando por meio de ironias e sarcasmos toscos.
Ao legitimarem e normalizarem esta construção discursiva da esquerda os bolsonaristas não apenas caem numa armadilha ideológica, como fornecem armas que a esquerda poderá usar contra eles próprios, inclusive contra o deputado Nikolas Ferreira, que pode tornar-se alvo da esquerda por suposta “transfobia” no episódio da peruca na tribuna.
No caso do episódio de ontem, a conduta correta a ser seguida é simples e sem afetações: se confirmada a sua autoria do insulto, o deputado André Janones terá incorrido em quebra de decoro parlamentar, passível de cassação de mandato.
A bandeira a ser erguida aqui é a quebra de decoro e não o reforço e legitimação de uma suposta “homofobia”, pois isto interessa somente à esquerda. Ainda que esta “homofobia” seja “do bem”, na construção mental inventada pelos bolsonaristas.