por paulo eneas
A Bolsa de Valores de Tóquio fechou em queda de 12% nesta segunda-feira (05/08) ampliando para o terceiro dia consecutivo a tendência baixista acentuada das bolsas asiáticas. O Índice Nikkei fechou em queda de 12.4% enquanto a Bolsa de Seul fechava com queda de 8.7% também na esteira da onda baixista.

A queda nas bolsas asiáticas gerou o efeito manada nas principais bolsas europeias, que no período da manhã do horário europeu exibiam todas elas quedas superiores a 1.5% em média. O efeito manada atingiu não apenas as bolsas, mas a maioria dos analistas econômicos: quase todos atribuem a queda das bolsas asiáticas a um “temor diante de uma possível recessão” nos Estados Unidos.

Esse temor diante de uma possível recessão na economia norte-americana originou-se de dados macro econômicos sobre emprego nos Estados Unidos divulgados na semana passada: os dados mostraram um crescimento no nível de emprego menor do que o projetado.

Efeito Manada Irracional de Analistas
É natural a ocorrência do chamado efeito manada, seja de pânico ou de euforia, entre os agentes de mercado. Mas é inaceitável que esse efeito se reproduza entre analistas e jornalistas da área de economia. Todos os principais jornais brasileiros esta manhã exibiam a mesma “explicação” para a queda nas bolsas asiáticas: temor de recessão nos Estados Unidos.

O fato é que o principal causador da queda da bolsa japonesa foi o setor financeiro, os bancos japoneses, que foram aparentemente pegos de surpresa com a elevação da taxa de juros pelo Banco Central do Japão na semana passada.

O Japão vinha há anos com taxa de juros igual a zero, o que levou bancos e outras instituições a fazerem o chamado carry trade: que consiste em tomar dinheiro (iene) emprestado a juro zero e aplicar em títulos de outros países ou ativos que pagam mais, ganhando assim com a arbitragem.

Com a elevação da taxa de juros japonesa, os bancos e demais agentes se viram obrigados a se livrar de posições compradas para gerar liquidez para honrar as dívidas em ienes, que agora estão mais caras. Portanto, tirando o efeito manada de curtíssimo prazo, é possível em princípio que o problema fique circunscrito ao mercado japonês.

Recessão nos Estados Unidos?
É bastante questionável a tese de recessão iminente nos Estados Unidos. Como falar em recessão de uma economia cujo crescimento do PIB anualizado está em 2.8% no final do segundo trimestre desse ano, segundo dados divulgados no final de julho? Lembremos que a definição técnica de recessão fala em dois trimestres consecutivos de queda no PIB de uma economia.

Quanto ao desemprego nos Estados Unidos, atualmente a taxa está em 4.3% também conforme dados do segundo trimestre. Como falar em recessão de uma economia cuja nível de desemprego está apenas 0.3% acima da taxa considerada de pleno emprego?

É fato que as bolsas americanas também estão em queda nesta segunda-feira. Além do efeito manada proporcionado pela Ásia e Europa, analistas-torcedores estão ignorando o fato de que há meses o mercado acionário norte-americano está sobrevalorizado: o Índice S&P 500 valorizou 18.0% nos últimos doze meses.

O valor da ações das empresas de tecnologia também experimentou um aumento excessivo nesse período. O caso exemplar é da Nvidia: conforme dados compilados em publicação do empresário Otávio Fakhoury em sua rede social, a empresa valorizou mais de 600 mil por cento desde 2015, e possui hoje um valor de mercado equivalente a 12% de todo o PIB dos Estados Unidos.

É irracional que o valor de mercado de uma única empresa corresponda a uma fração apreciável do PIB norte-americano. Trata-se de uma exuberância irracional, expressão cunhada por Alan Greenspan nos anos noventa. Portanto, era e é esperado que os preços hipervalorizados de determinado ativos viessem em algum momento sofrer uma correção, até para fins de realização de lucros.

Análises Econômicas Contaminadas por Viés Político-Ideológico
Portanto, qual a lógica de analistas que falam em recessão a partir de correções esperadas de preços de ativos sobrevalorizados, em um ambiente de PIB em crescimento e taxa de desemprego próxima ao patamar de pleno emprego? Em nosso entender a lógica é uma só, e não é econômica: trata-se do viés político-ideológico que vem contaminando muitas das análises econômicas mais recentes.

Recomendamos ao leitor observar com muito ceticismo as análises econômicas de natureza catastrofista que têm se tornado cada vez mais frequentes, ao menos aqui no Brasil, pois muitas dessas análises estão contaminadas por um viés político-ideológico. O ceticismo dever ser ainda maior se o leitor for basear suas decisões de investimento nessas análises.

Principalmente o viés que aposta e torce para o colapso da economia ocidental como forma de “provar” que os sistema democrático-liberal é falho e que a solução consiste em abraçar modelos autoritários e hostis à economia de mercado, como os modelos russo ou chinês.

Há ainda os evangelistas das criptomoedas que simplesmente esperam que o sistema econômico ocidental baseado em “moeda fiat”, moeda de curso forçado, como dólar ou o real brasileiro, de fato venha a ruir, como “prova” de que sempre estiveram certos.

É evidente que o risco de uma recessão numa economia de mercado existe, pois a economia funciona em ciclos de expansão e contração. O papel do analista econômico sério, que trabalha segundo fundamentos consolidados da ciência econômica, é identificar os possíveis sinais consistentes de uma recessão iminente. Cabe ao leitor ou mesmo investidor saber distinguir os analistas sérios daqueles que são apenas profetas do apocalipse ideologicamente motivados.

Observação:
Na noite desse domingo (04/08) quando chegaram as primeiras informações do mercado asiático, os profetas do apocalipse ideologicamente motivados (ou simplesmente analistas incompetentes mesmo) anteciparam que a Bolsa brasileira entraria em circuit breaker (interrupção de operações quando a queda é superior a 10%) ainda na manha desta segunda-feira e que a cotação do dólar frente ao real brasileiro já estaria R$ 6.00 logo na abertura do mercado. A realidade é que às 13h40 desta segunda-feira os números eram os seguintes: dólar cotado a R$ 5.74 e Índice Bovespa em queda de 0.87% e com viés de alta no início da tarde.

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