por paulo eneas
Em seu depoimento na CPMI do Oito de Janeiro em andamento nesta terça-feira (26/09), o general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI do Governo Bolsonaro afirmou: “eu até hoje continuo achando que bandido não sobe a rampa”, em referência à afirmação que o general havia feito no final do ano passado de que Lula não tomaria posse, como mostra o vídeo abaixo.
O general foi aplaudido pelos bolsonaristas da comissão que não entenderam o sentido da frase como estratégia da defesa de Augusto Heleno. Uma estratégia que na verdade confere um atestado de idoneidade ao petista Lula.
Cabe antes observar o contexto: em dezembro do ano passado, quando perguntado por manifestantes sobre o desfecho dos acontecimentos, o general Heleno foi taxativo em dizer “o bandido não sobe a rampa”, dando a entender aos interlocutores que estava falando com base em informações, na condição de Chefe do GSI, de que algum evento iria impedir a posse do petista Lula na Presidência da República.
A mesma mensagem foi passada naquele período pelo general Braga Netto quando, abordado por manifestantes, os incentivou e estimulou a “manterem-se firmes”, de novo passando a ideia de que algum evento impediria a posse do petista Lula.
Desde aquele momento alertávamos em nossas redes sociais que tais “informações” eram falsas, que a expectativa de que o petista Lula não tomaria posse era ilusória e servia apenas para mobilizar parte dos apoiadores do ex-presidente Bolsonaro para fins de sedimentar capital político-eleitoral.
Ao fim e ao cabo, Jair Bolsonaro abandonou a Presidência da República e fugiu do país, o petista Lula tomou posse e dias depois mais de mil manifestantes foram presos.
Observe-se que desta vez na CPMI o general Heleno mudou seu fraseado, mostrando mais uma vez que bolsonarista não tem hombridade para sustentar o que disse antes:
Quando perguntado na CPMI do Oito de Janeiro o general afirmou: “eu até hoje continuo achando que bandido não sobe a rampa” (grifo nosso). Ou seja, agora o general emite uma opinião, diferentemente de quando dirigiu-se aos manifestantes em dezembro trazendo uma suposta informação.
Do ponto de vista da estratégia jurídica da defesa do general Heleno, a afirmação tem consequência lógica óbvia: ao dizer que não “acha” que bandido sobe a rampa, Heleno está dizendo que ele não “acha” que Lula é bandido, afinal, o petista subiu a rampa e tomou posse e hoje é presidente do País.
Portanto, a estratégia adotada pela defesa de Heleno implica em ele não negar o que disse antes, pois não há como ser negado. E para não negar o inegável, ele passa um atestado de idoneidade a Lula. Do ponto de vista puramente jurídico-formal, Heleno poderá conseguir se safar por meio dessa rendição moral.
Não se pode negar que a estratégia jurídica da defesa de Heleno foi muito competente. Afinal, seu advogado fez aquilo que se espera de um advogado: usar todos os meios para defender seu cliente. Diferentemente de alguns advogados da defesa dos presos do Oito de Janeiro, que “esqueceram” de defender seus clientes e usaram a tribuna do supremo para lacrar e fazer proselitismo político.
Por sua vez os bolsonaristas, e também quase toda a imprensa, não entenderam a estratégia usada. A grande imprensa fala em afronta. Os bolsonarista estão enxergando na fala uma suporta bravura. Estas percepções distorcidas mostram o quanto o debate político nacional está tensionado num nível tal que descamba para a completa irracionalidade.