por paulo eneas
Os áudios divulgados nesta segunda-feira (08/05) pela CNN Brasil trazendo gravações das conversas entre o ex-major do Exército Ailton Barros e o coronel Élcio Franco, que exercia cargo no Ministério da Saúde do Governo Bolsonaro, a respeito de uma hipotética intervenção militar, corroboram a análise que estamos fazendo sobre o tema desde o final das eleições do ano passado.

Os áudios mostram o amadorismo e a leviandade com que um ex-militar expulso do Exército e outro afastado de suas fileiras para exercer cargo político tratavam de um assunto de extrema gravidade, mas ao mesmo tempo sem materialidade alguma: nem o ex-major Ailton nem o coronal Élcio detinham qualquer posição de comando militar.

Esta ausência de poder decisório de ambos é revelada pelo próprio conteúdo das conversas, onde há críticas duras ao comando militar e ao então comandante geral do Exército, general Freire Gomes, por não aderir ao suposto plano de intervenção.

Em um trecho do áudio transcrito, Ailton Barros sugere que se deva convencer outro militar, o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia (GO), a mobilizar cerca de mil e quinhentos homens para prender magistrados e concretizar a intervenção à revelia do Comando Militar, o que caracterizaria uma insubordinação segundo o Regimento do Exército.

Os fatos trazidos à luz pelas investigações em andamento da Polícia Federal corroboram o que estamos afirmando desde o final do segundo turno das eleições: nunca existiu a materialidade tangível de uma suposta intervenção militar.

Essa ideia de intervenção militar simplesmente foi abraçada por pessoas do entorno de Jair Bolsonaro, sem qualquer liame com a realidade, e foi disseminada nas redes como se fosse uma realidade que estava por vir. Era só “aguardar mais 72 horas”. Foi o suficiente para enganar e iludir milhares de pessoas, que por conta desta mentira caíram numa armadilha e detrás das grades.

O momento máximo desta mentira foi quando um comentarista de emissora de rádio trouxe uma “informação privilegiada”, segundo ele, de que a imaginária intervenção já estaria acertada no alto comando, havendo apenas três comandantes em recusa, e ainda citou os nomes destes comandantes. Na época, denunciamos o engodo de mais esta narrativa trazida pelo comentarista de rádio.

O que os fatos recentes vindos à luz mostram é que tudo o que o Brasil viveu no pós eleições do ano passado foi construído essencialmente em cima de narrativas fantasiosas, mentiras grotescas e elucubrações mentais destinadas unicamente a gerar mobilização de apoiadores e criar affair midiático para fins de capital político-eleitoral futuro do bolsonarismo.

Além das consequências penais que irão sofrer as centenas daqueles que acreditaram nesta narrativa mentirosa e que foram chamados depois de “bobos” por Jair Bolsonaro, uma das consequências dessa aventura amadora pseudo-golpista foi ter reforçado os estereótipos que a esquerda coloca na direita, associando-a ao golpismo.

Por esta razão insistimos que a formação de uma autêntica direita democrática brasileira somente irá ocorrer quando o campo político da direita for desalojado desse fantasma do bolsonarismo e de suas práticas políticas desastrosas, que contribuíram e muito para a volta da esquerda ao poder no Brasil.

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